BRANDS' ECO Será uma boa altura para continuar a investir em ouro?

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  • 8 Outubro 2024

Queda das taxas de juro e incerteza global podem manter preço do ouro a subir, tornando-o uma aposta interessante para investidores a longo prazo. Em entrevista, dois analistas da XTB explicam porquê.

Só este ano, o preço do ouro subiu cerca de 30% e o crescimento parece querer manter-se pelo menos num futuro próximo. Numa altura em que os bancos centrais têm como intenção continuar a descer as taxas de juro até ao final deste ano, e em que a instabilidade geopolítica se mantém no panorama internacional, esta continua a ser uma boa aposta para muitos investidores. No âmbito da Semana Mundial do Investidor, que decorre entre 7 e 13 de outubro, o ECO falou com Henrique Tomé e Vítor Madeira, analistas da plataforma digital XTB, para perceber o que reserva o futuro para a negociação deste metal precioso.

Com a redução progressiva das taxas de juro e da inflação, acreditam que o ouro continuará a atingir novos máximos históricos?

É expectável que o preço do ouro continue a valorizar, uma vez que o seu desempenho está muito relacionado com o desempenho do dólar americano e das yields das obrigações soberanas nos EUA. A redução progressiva das taxas de juro, em simultâneo com a inflação, acabam por afetar o valor do ouro, bem como as yields. Logo, os preços do ouro acabam por sair beneficiados neste contexto. A juntar a tudo isto, é também importante dizer que a massa monetária é outro fator que também influencia o comportamento do ouro e é necessário de ter isso em conta.

Assistimos, desde o início da guerra na Ucrânia, a uma espécie de corrida ao ouro por vários bancos centrais, mas países como a China parecem ter interrompido essa procura. Que impacto pode ter no preço do ouro?

Para além dos fatores já referidos, o ouro também é visto como um ativo de refúgio e em período de incerteza tende logo a valorizar, tal como aconteceu no início da guerra na Ucrânia e também noutros momentos em que houve maior instabilidade geopolítica e incerteza sobre o futuro. No entanto, o papel do ouro era ainda mais abrangente há uns anos, uma vez que o seu valor acabava por refletir também o valor da moeda (pré-Bretton Woods). O facto de termos a China a comprar grandes quantidades de ouro pode ser visto como um fator de valorização para a própria moeda e não tem de estar relacionado com o que se está a passar com a guerra que continua a decorrer no Leste da Europa.

Além da Ucrânia, a instabilidade geopolítica tem vindo a crescer e em novembro teremos eleições presidenciais nos EUA. Antecipam alguma contaminação do mercado com estas alterações?

O que podemos retirar daqui é o facto de os períodos eleitorais, principalmente nesta fase de taxas de juro elevadas, acabarem por estar muito associados a momentos em que os políticos tendem a aliciar o eleitorado ao prometer mais estímulos económicos, acabando por colocar pressões adicionais na reserva federal a fim de facilitar ainda mais a política monetária. Portanto, estas potenciais mudanças mais “agressivas” na política monetária poderão beneficiar ainda mais o comportamento do ouro pela via da desvalorização do dólar. Não obstante, se por algum motivo a instabilidade geopolítica voltar a aumentar, vamos naturalmente ver os preços do ouro a valorizar mais devido a esse fator.

Que conselhos dariam aos investidores que procuram proteger os seus ativos a longo prazo? O ouro continua a ser um porto seguro?

Quem pretende proteger os seus investimentos de longo prazo deve usar técnicas de cobertura de risco, exposição e diversificação no mercado. O ouro não serve como ativo de refúgio em caso de crash da bolsa. Vejamos que numa situação de pânico, os investidores vendem todos os seus ativos e o ouro é um deles. Conseguimos verificar isso ao longo da história. Para além disso, nessa situação o dólar tende a disparar e, como tal, tem uma pressão negativa automática na cotação do ouro. O ouro serve como um porto seguro para instabilidades geopolíticas, proteção contra inflação (reserva de valor) e proteção contra a desvalorização do dólar.

Depois de um período de vendas, os ETFs de ouro voltaram a aumentar as suas compras. Que implicações poderá ter este movimento para a oferta e procura? O que devemos esperar dos fundos de investimento nos próximos meses?

Nesta altura, a oferta e a procura ainda se encontram desequilibradas, visto que a oferta continua a ser superior à procura de ouro a nível mundial. Temos vindo a observar, ao longo dos últimos anos, que os ETFs têm um impacto muito positivo na cotação do ouro, principalmente quando estes aumentam as suas compras. Se os fundos de investimento continuarem a aumentar as suas compras de ouro, é de esperar que a cotação do ouro aumente ou que, pelo menos, mantenha o seu preço.

A diversificação da carteira de investimentos é uma boa prática que muitas pessoas procuram aplicar. Neste momento, na sua perspetiva, faz sentido pensar no ouro? Do ponto de vista de um analista, a melhor abordagem é o foco em ETFs?

Sim, a diversificação é uma das componentes muito importantes no que toca aos investimentos. Assim, para quem tem uma ótica de investimento a longo prazo faz sentido incorporar o ouro na sua carteira. A forma mais fácil de o fazer pode ser através de ETFs, devido aos baixos custos de negociação, armazenamento e segurança.

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