BRANDS' ECO Tensões geoestratégicas desestabilizam ‘ouro negro’
Fraqueza económica dos EUA e China e riscos geoestratégicos mantêm preço do petróleo abaixo dos 80 dólares por barril e alimentam cenário de recessão económica global.
Incerteza económica global, tensão no Médio Oriente, guerra na Ucrânia e redução da procura por parte da China tem feito quebrar os preços do petróleo desde o início do ano. Adicionalmente, as mudanças nas políticas de produção da OPEP+ (Organização dos Países Exportadores de Petróleo e Aliados) continuarão a influenciar os mercados do ‘ouro negro’ nos próximos meses.
Embora o Brent (preço de referências nos mercados internacionais) tenha caído para um valor médio de cerca de $73/b (preço por barril) em setembro, espera-se que os cortes na produção e a contínua diminuição dos inventários aumentem o preço para cerca de $82/b no final de 2024 e $83/b no início de 2025. Comparativamente, em setembro de 2023, o Brent era negociado a $97/b, tendo caído para os $81/b no fim do ano. Não obstante, se aumentarem efetivamente a produção em Dezembro como anunciado o maior suporte fundamental é eliminado.
Esta semana, a cotação do Brent para entrega em novembro subiu 0,53% para $71,98/b, e o crude do Mar do Norte, referência na Europa, acabou a negociação no Intercontinental Exchange a cotar 1,27 dólares acima dos $73,90/b. Impulsionado pelo programa de estímulos económicos anunciado pela China, o Brent chegou a cotar a $76/b, tendo perdido força no final da sessão do passado dia 23 de setembro. Apesar da pressão vendedora recente, a tendência parece ser de recuperação, depois de há cerca de duas semanas ter chegado a cotar abaixo dos $70/b. Para este ligeiro aumento contribuiu a escalada das tensões no Oriente Médio verificada ao longo de todo o mês de setembro.
Analistas do mercado de petróleo alertam há meses que uma guerra entre Israel e o Hezbollah, que até agora têm trocado ataques com mísseis e drones, poderia forçar o Irão — membro da OPEP —, a intervir diretamente, aumentando o risco de interrupções no fornecimento de petróleo bruto no Médio Oriente.
Por outro lado, a perspetiva de recessão económica nos Estados Unidos, e a consequente quebra na procura, poderá igualmente manter os preços do petróleo em níveis mais baixos. Outra preocupação dos analistas em relação ao mercado norte-americano está relacionada com a redução dos investimentos em ‘hedge funds’ (fundos de investimento de elevado risco) ligados ao crude.
Muitos investidores acreditam que a Reserva Federal dos Estados Unidos tenha demorado a reagir e a atuar face a estas oscilações, e que este atraso empurre a economia para uma recessão. Outro fator que pode conduzir a mais instabilidade será o resultado das eleições nos Estados Unidos. Se Donald Trump for o vencedor, controlando o Senado e a Câmara dos Representantes, o dólar beneficiará a médio prazo de uma política orçamental mais flexível, que pode reforçar a confiança dos consumidores e aumentar os níveis de consumo. Esta melhoria no consumo terá um reflexo no aumento da procura pelo petróleo e, por isso, contribuirá para a subida dos preços.
Para aprender mais sobre o mercado do petróleo, aceda aqui.
Quatro anos de instabilidade
Desde a pandemia de covid-19, a volatilidade do preço do petróleo acentuou-se, marcada por fatores económicos, geopolíticos e pelas políticas da OPEP+. Vale a pena recordar o que contribuiu, em cada ano, para a dinâmica dos preços que orientam este mercado.
2021: O preço do Brent começou a recuperar após o colapso de 2020, quando a pandemia reduziu drasticamente a procura global. O ano de 2021 foi marcado pela reabertura das economias e por um aumento na procura por energia. Em meados de 2021, o Brent chegou a $70/b, com picos de quase $85/b no final do ano. O aumento foi impulsionado principalmente pela recuperação da economia global e pelos cortes na produção da OPEP+.
2022: O ano foi marcado pela invasão da Ucrânia pela Rússia, provocando uma disrupção significativa no mercado de energia. O preço do Brent ultrapassou os $100/b, chegando a um pico de $133/b em março de 2022. A guerra e as sanções ocidentais à Rússia agravaram a escassez de petróleo no mercado global, pressionando os preços. Embora o petróleo tenha recuado para a faixa de $80-$90/b no final do ano, a volatilidade permaneceu alta.
2023: O preço do petróleo caiu durante o primeiro semestre, atingindo mínimos de $70/b, refletindo uma desaceleração da procura, especialmente devido ao crescimento mais fraco da China. No entanto, a OPEP+ anunciou cortes adicionais na produção, impulsionando os preços novamente para perto dos $90/b no terceiro trimestre de 2023.
Para o investidor, estes anos ilustram com clareza como eventos geopolíticos e cortes de produção podem rapidamente alterar a dinâmica do preço do petróleo.
Para aprender mais sobre como negociar o Petróleo veja aqui. Para ver a cotação, aceda aqui.
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