Possibilidade de privatização limita subida de rating da TAP

A S&P Global afirma que a margem operacional da companhia portuguesa é "uma das mais elevadas da indústria", mas o crescimento está limitado pelo aeroporto e pela impossibilidade de aumentar a frota.

A S&P Global manteve a classificação de risco da TAP inalterada em “BB-“, com perspetiva estável, elogiando, no entanto, os bons resultados alcançados pela companhia. A “nota” poderia ser mais alta, não fosse a possibilidade de a cedência do controlo acionista na privatização reduzir a relação com o Estado.

Se a melhoria dos resultados e da robustez financeira da TAP foi decisiva para a melhoria do perfil de risco da companhia, o facto de ser detida a 100% pelo Estado português também pesa na avaliação das agências de rating. “A nossa visão é sustentada pelo histórico de auxílios estatais até à data e pela importância da companhia aérea para o Governo. (…) Sabemos que o Governo vê a companhia como um ativo estratégico que é importante para o desenvolvimento económico e o turismo”, refere no relatório divulgado na sexta-feira passada.

A possibilidade desta relação sofrer uma alteração significativa acaba também por restringir uma classificação mais elevada. “Ao mesmo tempo, a nossa avaliação é limitada pelos planos do Governo para privatizar a TAP a curto prazo e pelo risco de que isso possa levar a uma redução significativa na participação estatal, à renúncia ao controlo e ao enfraquecimento da ligação com a TAP“.

Entre os fatores que podem conduzir a um corte no rating, o relatório aponta um menor comprometimento em relação a um apoio do Estado: “Poderemos baixar a classificação se acreditarmos que a probabilidade de apoio governamental enfraqueceu ou se baixarmos a nossa classificação soberana não solicitada de Portugal abaixo de ‘BBB-’.”

A S&P não o refere no relatório, mas, no caso de uma privatização, a avaliação de risco da TAP também será influenciada pelo rating do comprador. Os grupos que têm manifestado interesse na companhia portuguesa têm todos uma avaliação mais alta: a Air France de “BB+” e a IAG e Lufthansa de “BBB-“.

Elogios à margem da TAP e expectativa de bons resultados

A S&P Global espera que a TAP registe este ano um resultado antes do pagamento de juros, impostos, depreciações e amortizações (EBITDA) entre os 830 e os 860 milhões de euros, suportado por “resultados sólidos no primeiro semestre”. O que significa que ficará em linha ou um pouco acima dos 832 milhões (ajustados) conseguido em 2023. A agência antecipa que o EBITDA volte a superar aquela marca em 2025 e assinala mesmo que a TAP tem “margens EBITDA entre as mais altas da indústria“.

A margem de crescimento é, no entanto, limitada. “A frota operacional reduzida da TAP (com 99 aeronaves no final de junho de 2024 em comparação com 105 no final de dezembro de 2019) e o seu principal hub altamente congestionado em Lisboa limitarão o potencial de crescimento da receita a médio prazo”, assinala o relatório. De salientar que o número de aviões da TAP está limitado pelo plano de reestruturação.

O relatório aponta quatro forças e riscos para a TAP:

Principais forças:

  • Posição de liderança no hub no aeroporto de Lisboa, que a companhia aérea aproveita para as suas conexões em toda a Europa e a liderança na quota de mercado no tráfego transatlântico com o Brasil, e exposição crescente a destinos na América do Norte.
  • A frota operacional está a tornar-se mais eficiente em termos de consumo de combustível com a entrega contínua de aviões de última geração.
  • Histórico de redução de custos e melhorias na eficiência operacional, resultando em margens EBITDA entre as mais altas da indústria.
  • Perfil financeiro fortalecido e aumento da reserva de liquidez desde a crise provocada pela pandemia.

Principais riscos:

  • Suscetibilidade aos ciclos económicos europeus e globais, flutuações no preço do petróleo, elevada intensidade de capital e eventos geopolíticos e de segurança imprevistos.
  • Possibilidades de negócio limitadas (em comparação com algumas companhias aéreas concorrentes que avaliamos) e grande exposição a países emergentes como o Brasil tornam a TAP mais suscetível a eventos imprevistos de alto impacto e baixa probabilidade do que os maiores players.
  • Despesas de capital (capex) elevadas nos próximos anos devido à modernização da frota necessária para permanecer competitiva.
  • Os grandes investimentos de capital irão restringir os fluxos de caixa e o espaço para uma maior redução da alavancagem.

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