Ventura insiste apesar de Montenegro negar acusações. Acordo com o Governo terá sido proposto a 15 de julho
Montenegro rejeitou as acusações mas André Ventura detalha que o alegado acordo com Governo foi proposto, pela primeira vez, em julho numa reunião "não divulgada à imprensa".
Já se esperava que com a entrega da proposta do Governo para o Orçamento do Estado para 2025 (OE 2025), na passada quinta-feira, o ambiente de crispação entre o Governo e a oposição subisse de tom. Mas ninguém esperava que o líder do Chega fosse mais longe e acusasse o primeiro-ministro de mentir ao país, revelando que Luís Montenegro terá proposto um acordo de viabilização do OE 2025 a André Ventura, no qual previa ainda que, em troca, o partido passasse a integrar o Executivo.
“O primeiro-ministro mentiu. E mentiu porque eu estava lá quando ele quis chegar a um acordo neste ano de Orçamento do Estado“, acusou André Ventura. “O primeiro-ministro negociou com o Chega, quis negociar com o Chega e digo mais: o mesmo primeiro-ministro que disse que connosco não negociava propôs-nos um acordo para este ano”, disse o líder do Chega numa entrevista à CNN Portugal/TVI, na passada quinta-feira.
No entanto, o acordo não terá sido aceite porque o Chega “tem palavra” e tinha proposto um “acordo a quatro anos com transformação e mudança para varrer o socialismo”.
“O mesmo primeiro-ministro que estava disposto a que, mais para a frente, o Chega viesse a integrar o Governo“, sustentou o presidente do Chega, enquanto ia subindo o tom para garantir que o partido não é para “descartar”. “Eu represento 1 milhão e 200 mil eleitores que não estão para jogos de bastidores. Talvez o país nunca viesse a saber esta história, mas hoje sabe porque eu estou a contar.”
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Na mesma entrevista, o líder do partido revelou que o acordo terá sido proposto numa reunião, em São Bento, entre o próprio e Luís Montenegro “há três semanas”. A data aponta para que a ocasião tivesse ocorrido a 23 de setembro – altura em que o primeiro-ministro reuniu-se, também, com o presidente da Iniciativa Liberal, Rui Rocha, para discutir a viabilização do OE 2025.
“Esta reunião que estou a falar é de 23 de setembro, mas já tínhamos falado disso antes do verão. O senhor primeiro-ministro não desmentirá isto. Sabe porque é que esse acordo não foi aceite? É porque nós temos palavra”, sublinhou o líder do Chega, durante a entrevista. Momentos depois, e já de madrugada, Ventura avançou com mais detalhes, revelando que o acordo foi, pela primeira vez, proposto no dia 15 de julho.
“No dia 15 de julho, pelas 10h da manhã, tive um encontro não divulgado à imprensa com o primeiro-ministro na sua residência oficial, a pedido do próprio. Foi aqui que pela primeira vez um acordo específico esteve em cima da mesa”, lê-se na publicação na rede social.
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Tanto Luís Montenegro como os membros do Executivo rapidamente desmentiram o líder do Chega. Ainda decorria a entrevista na CNN Portugal/TVI, quando o primeiro-ministro rejeitou as acusações na mesma rede social, acusando Ventura de “desespero” e garantindo que “o Governo propôs um acordo ao Chega”.
“O que acaba de ser dito pelo Presidente desse partido é simplesmente mentira. É grave mas não passa de mentira e desespero“, escreveu Montenegro.
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As palavras foram então replicadas pelos restantes governantes que estiveram na noite de quinta-feira a prestar esclarecimentos sobre o orçamento nas televisões. O ministro dos Assuntos Parlamentares, Pedro Duarte, foi o primeiro a fazer das palavras de Luís Montenegro suas, negando “categoricamente” as alegações feitas pelo líder do Chega.
“Tenho dificuldade em comentar e qualificar a postura e atitude do líder do Chega”, disse o governante em entrevista à SIC Notícias. “São inqualificáveis”. O ministro acrescentou ainda que é preciso “não dar a relevância” ao líder do Chega pretende, acrescentando que teria sido “muito fácil”, se o Executivo quisesse, ter feito um acordo com o Chega para ter maioria parlamentar.
Seguiu-se o ministro da Presidência, António Leitão Amaro, na Now. “É falso”, atirou, apelando aos telespetadores que “não o levem a sério”. “Não é credível. Não tem nada para dizer. Não tem fundamento nenhum. É uma mentira dita por alguém que deu o último sinal de que não tem credibilidade nenhuma.”
Na mesma noite, o ministro da Coesão Territorial, Manuel Castro Almeida acusou André Ventura de ser “um catavento” que se “desmente a si próprio” e que não tem nenhuma “credibilidade”. “Provavelmente, desta vez, foi mesmo um golpe de morte na credibilidade na pouca credibilidade que lhe restava”. “O país percebe que não é uma pessoa confiável”, disse.
Esta manhã, e já depois de uma noite tensa entre o Governo e o líder do Chega, a troca de acusações partiu para o Parlamento. Durante um debate sobre o incêndios de setembro, André Ventura rejeitou que o Executivo lhe desse “lições de verdade” na sequência das acusações que fez contra Montenegro. “Sei que não gostaram da entrevista de ontem [quinta-feira], mas…”, disse ainda.
As acusações do líder do Chega surgem depois de o primeiro-ministro, Luís Montenegro, ter afirmado numa entrevista à SIC, na passada terça-feira, antes da entrega do Orçamento do Estado, que o Chega está afastado “de todo” do processo negocial com o Governo por considerar o partido de ser um “catavento”.
“Os deputados do Chega farão o que entenderem quando a proposta do orçamento for entregue”, disse quando questionado sobre se antevê qual será o sentido de voto do partido em relação ao documento, que será votado na sua globalidade no final do mês. Certo, é que as negociações com o partido estão fechadas. “Não é possível haver um diálogo produtivo com alguém que muda de posição tantas vezes e que se transformou num catavento“, disse Luís Montenegro.
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