BRANDS' ECO Alemanha é o ‘elefante na sala’ a pressionar a economia europeia

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  • 25 Outubro 2024

Quebras no setor automóvel alemão afetam diversas indústrias europeias. Líderes empresariais discutiram esta e outras perspetivas no 15º Fórum Económico de Limassol, no Chipre.

O bloco económico europeu continua a crescer abaixo de outras regiões do mundo, como os Estados Unidos e a China. Apesar da resiliência que os países da União Europeia (UE) demonstraram durante e no pós-pandemia, o conjunto de desafios simultâneos com que se debatem – atraso ao nível da produtividade, demografia adversa, transição energética, tecnologia e questões geopolíticas – estão a dificultar o retorno do crescimento económico a níveis que permitam à região ser mais competitiva. “Não vamos para o precipício, mas ainda não se vislumbra como a Europa recuperará o crescimento”, disse Nikos Vettas. Para o diretor-geral da Fundação para a Pesquisa Económica e Industrial (IOBE), e professor na Universidade de Economia e Negócios de Atenas, que abriu a 15ª edição do Fórum Económico de Limassol, em 2025, a economia europeia apresentará alguns sinais de crescimento, mas manter-se-á fraca face aos Estados Unidos e à China.

As boas notícias, revela o professor, são que a inflação deverá estabilizar, e que as taxas de juro deverão chegar a uma percentagem um pouco abaixo dos 3%, consolidando a tendência descendente. Recorde-se que o Banco Central Europeu (BCE) reduziu as taxas diretoras em 0,25 pontos percentuais em setembro, e que tudo indica que repetirá a descida na revisão de dezembro. Em simultâneo, os preços da energia também desceram desde o pico atingido, em 2022, após a invasão da Ucrânia pela Rússia, o que ajuda a alavancar a atividade de alguns setores energeticamente mais intensivos.

Globalmente, os 27 não estão a conseguir reconstruir uma indústria forte e competitiva

Ainda assim, os custos com a energia continuam a ser mais elevados na Europa do que nos Estados Unidos, o que torna alguns produtos industriais europeus menos competitivos, uma vez que contam com custos de produção mais elevados. A indústria europeia, no seu conjunto, recuperou as perdas da pandemia, mas não está a renascer, como alguns tinham previsto. Em geral, afirmou Nikos Vettas, “até arrefeceu e o ‘elefante na sala’ é a Alemanha e o setor automóvel, que impacta em muitas outras indústrias europeias”. O diretor-geral do IOBE aponta, apesar de tudo, o exemplo positivo da Espanha, que “fez uma boa transição industrial de setores mais tradicionais para outros mais inovadores”, mas globalmente, os 27 não estão a conseguir reconstruir uma indústria forte e competitiva.

“Para ter sucesso é preciso falhar”

Nos negócios, como no Poker, é obrigatório estar atento às oportunidades. A dica, de Caspar Berry, jogador de Poker profissional, guionista de Hollywood e consultor empresarial especialista em risco e tomadas de decisão, aplica-se a todos os mercados e a todos os investidores. Assumir riscos faz parte da vida, pessoal e profissional, de todos, mas, apontou o especialista, “só quem está pronto para errar e recomeçar poderá ter sucesso”.

O jogador, que depois de uma palestra ‘a solo’ se juntou a um painel de empresários, para um debate, acredita que existe alguma previsibilidade no risco. No entanto, em previsões a médio ou longo prazo, nada mais existe do que dados históricos. “Tudo o resto é intuição”, aponta. Clea Evagorou, partner da Deloitte Atenas, e especialista em risco, concorda, mas acrescenta que “no risco, uma parte são dados, e outra é intuição”, e recomenda: “As decisões devem ser tomadas balanceando as duas”. Já para Vasileios Chatzikos, CEO da Siemens A.E., a tecnologia e a analítica de dados são extremamente úteis e fiáveis na gestão do risco financeiro nas empresas, nomeadamente para identificar e mitigar os riscos do mercado.

"As pessoas não são boas a prever o futuro, eu próprio cometo muitos erros a tentar prever o futuro, quase diariamente, e falho muitas vezes na tomada de decisões económicas”

Timur Turlov, CEO da Freedom Holding corp

Não ter medo da incerteza é, nas palavras de Timur Turlov, o mais importante nos negócios. “As pessoas não são boas a prever o futuro, eu próprio cometo muitos erros a tentar prever o futuro, quase diariamente, e falho muitas vezes na tomada de decisões económicas”, confessa o CEO da Freedom Holding corp., plataforma de investimentos que gere mais de seis mil milhões de ativos. Acima de tudo, diz, “é fundamental ser preciso nas previsões porque quando temos menos recursos e experiência, somos obrigados a arriscar mais”. Talvez por isso, acredita que muitos negócios falham no seu início.

Lidar com o erro também faz parte de assumir riscos pois é, muitas vezes uma consequência. “É preciso reduzir e limitar o prejuízo, e seguir em frente”, diz Clea Evagorou. Timur Turlov concorda e afirma que “tomar as decisões erradas tem, por vezes, consequências positivas, nem que seja porque aprendemos sempre alguma coisa”. De qualquer forma defende que os empresários têm de ser resistentes às perdas “porque se tivermos um negócio de sucesso significa que teremos muitas perdas ao longo do tempo”.

Uma inovação com 70 anos

A fechar uma manhã de partilha de experiências empresariais, o tema da inteligência artificial (IA), os seus desafios e oportunidades subiu a palco com Inma Martinez, que procurou desmistificar esta tecnologia de que todos falam, e o seu impacto nos negócios. “A IA tem 70 anos, não é uma coisa que surgiu de repente”, diz a cientista de IA e empreendedora que assegura que este é um tema que está atualmente no topo da agenda de Governos em todo o mundo. “A IA pode ser uma força para o bem e para a transformação”, salienta. Por exemplo, esta tecnologia já teve um papel muito importante na deteção das alterações climáticas, e agora pode contribuir para mitigar os seus efeitos. “A IA funciona bem porque tem por detrás mentes humanas criativas”, acrescenta a também consultora de vários Governos para o tema da inteligência artificial.

Entre os desafios Inma Martinez destaca a capacidade que esta tecnologia tem, e terá de ter, de resolver problemas reais, mas também a regulação que necessita de ter. Mas, como se faz esta regulação, garantindo que a Europa não fica para trás no campo da inovação? A resposta não é linear, nem simples, mas exige ação e equilíbrio. A falta de talento especializado nesta tecnologia é igualmente um desafio, transversal a todo o mundo, e a solução ideal para reverter esta situação parece não ser simples.

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