Banca: De vilões a protagonistas do futuro

  • Rui Vilar
  • 10:25

A questão não é se a banca conhece o caminho, mas se está disposta a abrir novas portas e a ser o motor da transformação que o país tanto espera.

Esqueçamos, por um momento, as discussões de sempre sobre o Orçamento do Estado. O que realmente importa, num contexto de crescente incerteza económica, é o papel que a banca pode desempenhar – não como mero observador, mas como protagonista. A pergunta que deixo é: será que os bancos portugueses conseguem deixar para trás a imagem de “maus da fita” e assumir um papel crucial na prevenção das próximas tempestades económicas?

 

A verdade é que a banca tem sido, muitas vezes, injustamente apontada como culpada, em parte devido à crise das dívidas soberanas, que abalou a confiança dos portugueses. No entanto, o papel dos bancos sempre foi, e continua a ser, fundamental para o apoio à economia. Agora, mais do que nunca, a banca tem uma oportunidade de ouro para se redefinir. Numa altura em que o foco das críticas recai sobre os lucros, é um momento e uma oportunidade para mudar a narrativa e afirmar-se como um parceiro de confiança que as famílias e as empresas realmente precisam.

 

Num momento em que se fala de uma possível desaceleração global, o setor bancário pode fazer a diferença ao garantir que o crédito continua a fluir e que o investimento não abranda. Uma gestão de risco responsável e uma visão a longo prazo são cruciais, mas também a demonstração clara de que a banca está ao lado dos seus clientes. Todos estamos no mesmo barco.

 

Outro ponto fundamental para redefinir a imagem da banca está na promoção de uma economia mais verde. Os bancos têm a capacidade de facilitar o acesso a financiamentos para projetos sustentáveis, como a eficiência energética e a redução de emissões.

 

Apoiar empresas que apostam na sustentabilidade não é apenas uma tendência; é uma necessidade. E há bons exemplos no estrangeiro. Na Alemanha, muitos bancos já oferecem produtos financeiros focados em projetos verdes. Em Portugal, algo semelhante pode ajudar tanto a economia como o ambiente. Para que todas estas mudanças tenham impacto, a literacia financeira não pode ser ignorada. Os portugueses precisam de saber como poupar, investir e gerir as suas dívidas ou todo o esforço da banca perderá eficácia. Programas de educação financeira e centros de aconselhamento seriam passos fundamentais para preparar as famílias para enfrentar tempos mais desafiantes. Mas esta missão não é apenas do Estado; é também uma questão de responsabilidade social da banca.

 

O setor bancário deve assumir este papel de forma séria, mostrando que se preocupa com o futuro dos seus clientes. Além disso, a inovação tem aí um papel crucial. No Reino Unido, por exemplo, bancos digitais já implementam sistemas de poupança automática, transferindo pequenos montantes para uma conta-poupança sempre que um cliente faz uma compra. Este tipo de soluções simples, mas eficazes, poderia ser adaptada à realidade portuguesa, incentivando a poupança de forma acessível e prática.

 

A banca tem a oportunidade de ser uma força ativa não só na promoção de uma nova cultura financeira, mas também no apoio às necessidades reais da sociedade através de práticas inovadoras e socialmente responsáveis.

 

Este é o momento de transformar a forma como os bancos interagem com a sociedade, criando soluções inovadoras que não só atendam às necessidades do presente, mas que antecipem as exigências do futuro. A nova imagem da banca não será construída apenas com serviços financeiros, mas com uma abordagem moderna e orientada para o futuro, que inspire confiança e traga valor real para as pessoas e para o país.

Tendo visto como algumas soluções internacionais podem ser adaptadas à realidade portuguesa, há ainda mais exemplos que podem inspirar a banca nacional a inovar. Na Suíça, por exemplo, o UBS criou uma plataforma de crowdfunding que permite aos clientes investir diretamente em startups. Uma iniciativa como esta, ajustada ao mercado português, poderia canalizar investimento para pequenas empresas e projetos regionais, com a confiança de um banco como intermediário. Isto daria um novo fôlego à economia local e seria um motor importante para o empreendedorismo.

 

É por tudo isto que entendo que agora, mais do que nunca, a banca tem a oportunidade de redefinir o seu rumo e de se reposicionar como um parceiro de confiança, essencial para a vida das pessoas. Não se trata apenas de continuar no mesmo caminho, mas de inovar e evoluir. Se a banca quer deixar de ser vista como a “má da fita”, é hora de passar das palavras para ações concretas e ousadas.

 

O futuro exige uma banca que olhe para a frente, que adote ideias novas e comportamentos diferentes, capaz de se conectar verdadeiramente com os seus clientes, especialmente as novas gerações, que procuram cada vez mais transparência, tecnologia e responsabilidade social.

 

Este é o momento de transformar a forma como os bancos interagem com a sociedade, criando soluções inovadoras que não só atendam às necessidades do presente, mas que antecipem as exigências do futuro. A nova imagem da banca não será construída apenas com serviços financeiros, mas com uma abordagem moderna e orientada para o futuro, que inspire confiança e traga valor real para as pessoas e para o país.

 

Que este artigo sirva como um desafio: um convite à banca para deixar para trás o passado recente e olhar para a frente. Esquecer as sombras das crises anteriores e abraçar o potencial de um futuro inovador, onde as ideias frescas criam novas oportunidades. O futuro da banca pode, de facto, ser promissor, mas o desafio está em saber se os bancos estão prontos para abraçar essa mudança, para liderar com ideias frescas e construir uma relação de confiança genuína com os seus clientes.

 

A questão não é se a banca conhece o caminho, mas se está disposta a abrir novas portas e a ser o motor da transformação que o país tanto espera.

  • Rui Vilar
  • Colunista convidado. Head of Business Development da McWatts

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