Inapa. Mais antiga da bolsa despede-se do mercado e deixa investidores com ações que valem (quase) zero
As ações da distribuidora de papel são excluídas esta terça do mercado de capitais, mais de quatro décadas após a a entrada em bols. Acionistas "presos" a ações que valem [quase] zero.
A Inapa, a mais antiga do mercado de capitais português, é, esta terça-feira, excluída da bolsa portuguesa. As ações da distribuidora de papel, que se despediram da bolsa a valerem (quase) zero, já não podem ser transacionadas no mercado e os investidores que mantiveram papéis da empresa, que se apresentou à insolvência no passado dia 29 de julho, ficam “presos” a uma empresa sem futuro e com poucas ou nenhumas esperanças de recuperarem o seu investimento.
Chegou ao mercado de capitais há mais de quatro décadas, em 1980. Num setor em declínio, passou por vários momentos críticos, chegou a ser controlada em mais de 70% pela banca, devido à conversão de ações preferenciais, e arriscou a nacionalização. Uma necessidade de liquidez de curto prazo inesperada, no valor de 12 milhões de euros, que não foi acolhida pela Parpública, precipitou a falência do grupo, que deixa agora os acionistas com as ações a valerem zero.
0,002 cêntimos. É o preço a que as ações da Inapa se despediram do mercado acionista, esta terça-feira, e que estavam num compartimento especial da bolsa para empresas em processos de insolvência. As ações, que até chegaram a disparar após o anúncio de exclusão por parte da Euronext Lisbon, na sequência da reunião de credores que se realizou no passado mês de setembro e decretou a insolvência e a venda de ativos no valor de 45 milhões de euros, fizeram a sua despedida sob forte pressão, com os investidores a tentarem despejar os seus títulos no mercado.
Ao todo, trocaram de mãos 21,69 milhões de títulos da empresa, com as cotações a tombarem 66,67% para 0,002 cêntimos. Para Octávio Viana, presidente da Associação de Investidores e Analistas Técnicos do Mercado de Capitais (ATM), “estranho foram as compras que existiram nas últimas semanas. Foram compradas 300 milhões de ações, representativas de 10% do capital”, com muitas destas compras a serem “realizadas após ter sido anunciado o delisting”, realça o responsável.
O responsável pela associação de pequenos investidores justifica estas aquisições com base em movimentos especulativos. Por um lado, alguns investidores viram nas vendas [da Inapa Packaging e Inapa France] uma oportunidade. “Muitos acionistas andaram a fazer contas que teria sido tudo vendido. Este foi o problema”, realça, adiantando que o que foi vendido em França foram os ativos, não o capital. Ou seja, as dívidas continuam no grupo.
Por outro lado, outros investidores viram no preço das ações — quase zero — um bilhete de lotaria. “Com 500 euros compram um milhão de ações.” Um preço que muitos estão dispostos a pagar na expectativa de ganhar alguma coisa no futuro.
Octávio Viana duvida, porém, que algum acionista recupere o que quer que seja e fala em “muita perda” na Inapa, com muitos investidores com grandes blocos de ações comprados na operação harmónio, na qual os títulos foram colocados a um euro. Na opinião do responsável, a única esperança para quem fica com ações da distribuidora de papel passa pelos processos judiciais, que, para já, são dois.
O primeiro processo foi colocado por um acionista com perto de 5% do capital, dando entrada com uma ação judicial contra todos os membros do anterior conselho de administração da Inapa, presidido por Frederico Lupi, pelos danos diretos causados.
A ação movida pela sociedade Carisvalor, acionista com 4,99% do capital da Inapa, acusa a administração de ter escondido dos acionistas “o iminente estado de insolvência da Inapa” e ter falhado “na prestação de informação de qualidade aos acionistas, onde se inclui a autora”, pode ler-se no documento a que o ECO teve acesso.
Depois deste primeiro processo, o mesmo acionista, juntamente com outro acionista, abriu uma ação popular contra a PwC pela auditoria feita aos relatórios e contas da empresa de distribuição de papel.
Em declarações ao ECO, o representante desta sociedade acusa a auditora “de não ter sido diligente“. “O auditor é que dá confiança aos investidores para acreditarem nos relatórios que estão a ser apresentados”, atirou aquando da entrada da ação.
A Parpública, com 44,89% do capital, é o maior acionista da Inapa, seguida pela Nova Expressão, com 10,85% e o Novo Banco, com 6,55%. Uma grande fatia das ações — 37,7% — estava dispersa por pequenos investidores.
Num processo de insolvência, os acionistas são os últimos a receber. Em primeiro lugar está o próprio Estado e os trabalhadores, seguindo-se os detentores de dívida sénior, subordinada, as ações preferenciais e, em último, as ações ordinárias. Uma vez iniciado o processo de insolvência, o próximo passo será a liquidação do património da empresa e a repartição do produto obtido pelos credores, processo este que poderá demorar, por lei, até três anos.
Os credores da Inapa aprovaram, no passado dia 27 de setembro, as propostas que constavam no relatório do administrador de insolvência, para a venda da Inapa Packaging por 20 milhões de euros e da Inapa France por 25 milhões de euros.
Além disso, recebeu ‘luz verde’ a proposta do administrador de insolvência para a “manutenção da atividade do estabelecimento da insolvente na esfera do administrador da insolvência, sem que se veja determinada a suspensão da liquidação do ativo (para se prosseguir as diligências tendentes à venda das participações sociais e de outros ativos detidos pela Inapa IPG)”.
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