António Dias Martins, da Startup Portugal, não acredita num novo fechar de torneiras do investimento depois da eleição de Donald Trump. "A expectativa é que não haja aqui nenhuma disrupção violenta".
2024 ainda não fechou e o investimento no ecossistema nacional de empreendedorismo já está 75% acima do total levantado pelas startups e scaleups ao longo do ano passado. Dados das Dealroom apontam para uma captação de 347 milhões de euros, revelando um ciclo de recuperação do investimento que, nem os potenciais (e temidos) efeitos de uma política protecionista da nova administração de Donald Trump, deve interromper. Esta é, pelo menos, a convicção de António Dias Martins, diretor executivo da Startup Portugal.
“Temos de distinguir o que é campanha eleitoral, das medidas concretas que são implementadas”, diz sobre potenciais medidas protecionistas, anunciadas pelo agora presidente dos Estados Unidos durante a corrida à Casa Branca, que poderão ter impacto na subida da inflação e na liquidez dos mercados financeiros.
Donald Trump regressa à Casa Branca. Há um conflito aberto entre os EUA e a União Europeia por questões de regulamentação na área das tecnológicas. O que podemos esperar do novo presidente? Regressamos à guerra dos blocos? Como olha para esta mudança?
Não vou fazer comentários de natureza política, não me cabe a mim. Mas o que espero é que, do ponto de vista das condições para os empresários e para as empresas, este resultado se revele positivo. Para além de tudo aquilo que sai, mais de estilo, da forma como as matérias são abordadas, anunciadas, reações tomadas.
Há muitos fundadores e empresários a apoiarem esta eleição e esta candidatura vencedora. Portanto, a expectativa é que não haja aqui nenhuma disrupção violenta e que o bom senso prevaleça.
Temos várias empresas fundadas por portugueses nos EUA e muitas scaleups a querer ir para lá. Num cenário de maior protecionismo, que impacto antecipa?
Não consigo antecipar ainda esse cenário nem que impacto pode vir a ter. Não sei do que estamos a falar, é demasiado genérico. Fala-se de tarifas, de percentagens para produtos europeus e chineses. Estamos a evoluir para sociedades e um mundo cada vez mais tolerante, aberto e, no fundo, a conviver com a diversidade.
Tudo o que seja fechar-nos sobre nós próprios e criarmos barreiras e muros pode ser visto com alguma incredulidade ou como algum retrocesso, mas nada foi ainda concretizado. Temos de distinguir o que é campanha eleitoral, das medidas concretas que são implementadas.
Temos condições para continuar neste caminho (de recuperação) e as medidas de política pública que estão a ser tomadas, e espero anunciadas muito brevemente, só vai reforçar este percurso. Nesse aspeto estou otimista.
Com esta mudança, maior protecionismo, com impacto na inflação e juros, a recuperação de investimento que vínhamos a assistir no ecossistema, muito dependente de fundos internacionais, vai manter-se? Vai haver um novo apertar de torneira?
Não estou a ver isso acontecer. No ecossistema nacional de startups sentimos até uma recuperação em matéria de investimento. Se virmos a evolução do ano de 2023 full year para 2024 até à data, em 2024 já temos mais de 75% de investimento em startups portuguesas do que em todo o ano de 2023.
Foi um ano particularmente péssimo.
Sim, mas mais 75% é um número muito significativo. É uma inversão grande. Conjugado com o crescente número de startups, mais 16%, com alguns indicadores de saúde destas startups — pagam em média aos seus colaboradores 2.000 euros por mês, isto é, mais 72% do que a média total das empresas portuguesas — mostra dinamismo e o recuperar de anos difíceis.
Atingimos um pico em 2021, caímos bastante em 2022, em 2023 ainda estivemos ali a meio e 2024, pelos dados até à data, já apresenta uma recuperação muito significativa. Tanto não acredito que se inverta este ciclo, antes pelo contrário. Temos condições para continuar neste caminho e as medidas de política pública que estão a ser tomadas, e espero anunciadas muito brevemente, só vai reforçar este percurso. Nesse aspeto estou otimista.
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“Não acredito que se inverta este ciclo de recuperação do investimento, antes pelo contrário”
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