Portugal está atrasado na IA e computação quântica, alerta presidente da IBM Portugal

  • Lusa
  • 14:42

Em Espanha já existe um grande modelo de linguagem de inteligência artificial, em espanhol, feito pela IBM, e um computador quântico. Portugal anda "um bocadinho" atrasado, diz Ricardo Martinho.

Ricardo Martinho, diretor geral da IBM Portugal, em entrevista ao ECO - 04FEV22
Ricardo Martinho, presidente da IBM Portugal.Hugo Amaral/ECO

O presidente da IBM Portugal classifica de “ótima iniciativa” o anúncio do lançamento de um grande modelo de linguagem (LLM) de inteligência artificial (IA) feito pelo Governo durante a Web Summit, mas considera que Portugal anda “um bocadinho” atrasado nas tecnologias que tem ao seu dispor.

“Acho que é uma ótima iniciativa. Espero que a IBM seja convidada para pelo menos dar o seu ‘apport’ [contributo] relativamente a isso”, diz Ricardo Martinho, em entrevista à Lusa.

O primeiro-ministro, Luís Montenegro, anunciou na noite de abertura da Web Summit, que no primeiro trimestre do próximo ano seria lançando um LLM (‘Large Language Model’) português. Um LLM é um tipo de programa de inteligência artificial (IA) que pode reconhecer e gerar texto, entre outras tarefas.

Mas “nós já temos isso feito, por exemplo, aqui ao lado em Espanha”, onde há “um modelo de LLM em espanhol feito com a IBM”, uma parceria que a empresa fez com os laboratórios e com o Governo espanhol e já está a funcionar, detalha. Aliás, “já têm um computador quântico no país basco”, acrescenta o presidente da IBM Portugal.

“A minha perspetiva, e estou a lutar, é um sonho que tenho, já estou a lutar há mais de um ano, antes deste novo Governo” para haver um “projeto de computação quântica em Portugal“, salienta o responsável. Ricardo Martinho reforça que “gostava muito que se conseguisse ver antecipadamente as vantagens que esta tecnologia pode trazer para um país como Portugal”.

Eu acho que nós andamos um bocadinho atrasados relativamente à utilização de algumas destas tecnologias que temos ao nosso dispor.

Ricardo Martinho

Presidente da IBM Portugal

Portanto, “eu acho que nós andamos um bocadinho atrasados relativamente à utilização de algumas destas tecnologias que temos ao nosso dispor“, considera.

A IBM Portugal marcou presença na Web Summit, primeiro porque se trata de um “evento internacional” e, depois, a “visibilidade” que a tecnológica quer dar é “global”, pelo que a cimeira das tecnologias ajuda a passar “essa mensagem”, conta.

Além disso, “estamos num momento único na evolução tecnológica que vivemos dentro da IBM, eu diria no mundo em geral, mas em especial aquilo que estamos a fazer dentro da IBM”, prossegue Ricardo Martinho.

Porque “é a primeira vez na história que nós temos os três maiores paradigmas da computação disponíveis ao mesmo tempo: a computação clássica, aquela que nós conhecemos hoje – a IBM é líder há muitos anos -, a questão da inteligência artificial, nós começámos há 51 anos a trabalhar com a inteligência artificial, mas agora com as novas tecnologias criámos uma ferramenta que achamos que vai mudar a vida das empresas tal e qual como elas estão hoje na utilização da inteligência artificial, e depois, com a parte da computação quântica”, elenca.

Só 40% das grandes empresas têm projetos de IA a corrrer

Ricardo Martinho refere que, atualmente, “só 40% das grandes empresas” com quem a IBM trabalha tem algum projeto a correr em produção à volta de IA e “41% ainda estão na fase de experimentação”.

Sobre se essa é uma realidade que também existe em Portugal, o presidente da IBM Portugal diz não ter a percentagem real. Contudo, “acho que ainda é pior em Portugal. Acho que a desconfiança é maior e acho que a adoção não é uma adoção pensada. É uma adoção porque temos que meter em IA. E aquilo que nós defendemos é ao contrário. Nós chamamos a inteligência artificial primeiro”, prossegue.

Ou seja, “pensarmos naquilo que são os nossos modelos, repensarmos aquilo que é a forma como fazemos o nosso negócio e como é que a inteligência artificial pode ser a base de tudo aquilo que nós fazemos em cima”, mas “aquilo que vejo que está a acontecer em Portugal, não na generalidade, mas em algumas das empresas, é que eu tenho os meus negócios, eu tenho as minhas aplicações, eu tenho os meus processos e ponho a IA por cima desses processos”, ilustra.

Aquilo que vejo que está a acontecer em Portugal, não na generalidade, mas em algumas das empresas, é que eu tenho os meus negócios, eu tenho as minhas aplicações, eu tenho os meus processos e ponho a IA por cima desses processos.

Ricardo Martinho

Presidente da IBM Portugal

Em suma, “tiro alguma vantagem, mas não estou a tirar todo o potencial que a inteligência artificial pode trazer”, adverte. Questionado sobre se Portugal está atrasado em relação a outros mercados, Ricardo Martinho diz que “sim”.

Instado a comentar a necessidade de haver padrões de segurança para a IA, sublinha partilhar “totalmente essa visão”.

Os padrões de segurança “são fundamentais” e, além da segurança, “acrescento a questão da regulação e do governo da própria inteligência artificial”.

“Na IBM temos o Watsonx, que vai mudar a forma como as empresas usam a inteligência artificial” porque, assevera, “é realmente a única solução que permite a proteção de dados total”.

Isso significa, acrescenta, que “não tenho que passar os meus dados para nenhuma ‘cloud’, nem tenho que os tornar públicos para tirar o proveito daquilo que são os modelos. Construo os meus dados ‘on-prem’ [‘data centers’ que as empresas hospedam nas próprias instalações], com a segurança que tenho, tradicional e típica, (…) tirando o máximo partido dos dados e da informação que tenho”, explica.

“A segurança é fundamental, mas acima de tudo a questão da ética, a questão da credibilidade dos dados”, sublinha.

Segundo o responsável, “é impossível limitar a utilização da inteligência artificial, geograficamente, setorialmente”.

Aquilo “que temos que garantir, e é isso que nós garantimos neste tipo de ferramentas, é que estas ferramentas tenham a ética incorporada no seu desenvolvimento” e estas “não permitem a utilização não ética por causa dos filtros que têm de raiz, essa é que é a grande diferença”, refere.

“Nós acreditamos tanto no modelo que a IBM nos seus contratos aos clientes diz que, se por acaso um cliente for acusado de violar alguma lei de ‘copyright’, a IBM paga essa multa”, aponta.

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