BRANDS' ECO Inovação como resposta à prevenção de resíduos
Separação de biorresíduos, sistemas de recompensa ou reintrodução de equipamentos eletrónicos na economia são alguns dos projetos já em curso para ajudar Portugal a cumprir as metas europeias.
Estima-se que, todos os anos, sejam desperdiçados cerca de 31 milhões de euros em embalagens que não são recicladas. A par da ineficiência financeira, o impacto para o ambiente é pesado e oneroso não apenas para a sociedade de hoje, mas sobretudo para as gerações futuras. Por tudo isto, a conferência da Semana Europeia de Prevenção de Resíduos, organizada na quinta-feira pela Cascais Ambiente com apoio do ECO como media partner, refletiu sobre estratégias para reduzir o ‘lixo’ produzido em Portugal.
“Não vemos uma tendência de redução [na produção de resíduos]”, apontou Nuno Soares, presidente da Tratolixo, que acrescentou que, desde 2014, “os números continuam a aumentar”. O responsável conhece bem a realidade de quatro grandes municípios nacionais onde tem operações (Cascais, Oeiras, Sintra e Mafra) e onde recolhe “470 mil toneladas por ano”, o equivalente a 1,5 quilos de resíduos por habitante todos os dias. “Está acima da média nacional”, destacou.
"Cascais tem arriscado por várias razões e, desde logo, porque tem massa crítica. Temos capacidade de inovar e pessoas muito motivadas”
Conhecedor deste cenário, Luís Almeida Capão, diretor municipal de Ambiente e Sustentabilidade na Câmara Municipal de Cascais, acredita que é no “envolvimento da comunidade” que está grande parte da receita para o sucesso. O município tem sido, aliás, promotor de várias iniciativas no campo da sustentabilidade, nomeadamente através de projetos-piloto que dão, mais tarde, origem a medidas alargadas. “Cascais tem arriscado por várias razões e, desde logo, porque tem massa crítica. Temos capacidade de inovar e pessoas muito motivadas”, reconhece.
A abertura para testar novos caminhos e potenciais soluções permitiu o nascimento do projeto de separação de biorresíduos da Tratolixo, que passou a distribuir sacos específicos para este efeito. “Canalizámos uma parte do investimento para a adaptação do tratamento, construímos uma central adaptada e passámos das 300 para 600 mil toneladas de capacidade”, explicou Nuno Soares.
Se é certo que os municípios conseguem uma poupança acumulada de cinco milhões de euros por ano, o planeta é, neste caso, o grande vencedor. Através da eliminação de circuitos de recolha e de lavagem dedicados, é possível reduzir o consumo de água em 300 mil metros cúbicos, de combustível com menos 850 mil litros e, no fim de contas, evitar a emissão de mais de 2,2 milhões de quilos de CO2. “Isto pode ser claramente replicado em qualquer outro sistema, é uma questão de articulação entre os municípios e os sistemas em alta”, acrescentou.
Recorde-se que a recolha de biorresíduos passou a ser obrigatória em toda a União Europeia desde o início deste ano, num esforço comunitário para que seja possível cumprir as metas de redução do desperdício alimentar (30% até 2025 e 50% até 2030) e de separação de resíduos urbanos (65% até 2035).
A inovação na forma de pensar a gestão de resíduos elétricos e eletrónicos deu origem a dois novos projetos no Electrão: um ligado à recolha porta a porta e outro de economia circular. “Passámos a recolher unidades na casa do cidadão, identificando o seu estado de operação, o que nos permite fazer inspeção e verificação. Alguns [desses equipamentos] estão a ser utilizados”, partilhou Pedro Nazareth. O CEO adiantou que, só este ano, já foram recolhidas cerca de 500 toneladas destes equipamentos, que são reintroduzidos na economia se estiverem em condições de funcionamento.
Esta é a ponte para o segundo projeto da empresa, que criou uma espécie de Tinder dos equipamentos elétricos e eletrónicos para ligar empresas e instituições de solidariedade social. “É o ondedoar.pt, onde fazemos encontrar a procura e a oferta para bens doados. Estamos a falar de 60 grandes distribuidores e de IPSS, que são os recetores destes equipamentos”, detalhou.
Influenciar, transformar e inspirar são três grandes objetivos da Smart Waste Portugal, que, com mais de 160 associados, representa operadores da indústria, da distribuição e até da gestão de resíduos. Ao nível da disrupção, Luísa Magalhães, diretora-executiva da instituição, identifica “a recolha porta a porta, o sistema de pagamentos, a robotização e inteligência artificial” como algumas das tendências que se verificam neste setor.
A associação tem procurado promover a colaboração entre empresas e indústrias, mas também contribuir ativamente para a redução de resíduos através da criação de um mercado online, o MyWaste, para resíduos e subprodutos. Em paralelo, o coletivo está a apostar no aumento da recolha de embalagens de vidro por via da plataforma Vidro+, cujo objetivo não é apenas cumprir metas, mas superá-las. “O vidro tem um problema enorme, porque a nível de recolha e reciclagem está muito abaixo da média europeia”, assinalou.
Portugal está obrigado a reciclar 60% das embalagens de vidro e papel/cartão, 50% de metais, 22,5% de plástico e 15% de madeira. Atualmente, a reciclagem de vidro está nos 55% – basta uma garrafa a mais, por mês, de cada cidadão e o país consegue cumprir o desafio.
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