Quando a política faz o Tesouro dançar o Can-Can

Se França enfrenta a turbulência nas obrigações do Tesouro devido à instabilidade política, Portugal, outrora um dos "enfant terrible" da Zona Euro, surge agora como um dos melhores alunos da turma.

França, terra do champanhe, do croissant e… das obrigações soberanas em apuros. Nos últimos dias, os títulos de dívida franceses têm estado mais agitados que um garçon parisiense em hora de ponta. E porquê? Bem, parece que o governo de Michel Barnier está a ter mais dificuldades em aprovar o orçamento do que um turista tem em pronunciar “Champs-Élysées” corretamente.

As yields das obrigações francesas a 10 anos estão a atingir níveis que não se viam desde a crise da dívida soberana. O spread face às obrigações alemãs chegou aos 89 pontos base esta semana, um número que faz até o mais corajoso dos traders engolir em seco.

O cenário de pânico é de tal ordem que os investidores agora atribuem à França o mesmo risco creditício que à Grécia! Sim, é verdade. A mesma Grécia que há poucos anos era vista como o patinho feio da Zona Euro é hoje tão arriscada quanto a “imponente” França. As yields das obrigações francesas a 10 anos estão a negociar muito próximo dos 3%, igualando as taxas das obrigações gregas. É como se o Parthenon tivesse sido declarado mais estável que o Arco do Triunfo.

Mas o que assusta realmente os mercados? Não é o aumento do preço das baguetes, mas sim a instabilidade política que paira sobre Paris como uma nuvem de fumo. O Parlamento dividido e a ameaça de votos de desconfiança estão a transformar a aprovação do Orçamento do Estado para 2025 num verdadeiro “Tour de Force”.

Enquanto isso, do outro lado dos Pirenéus, na longínqua Ibéria, Portugal sorri discretamente como quem não quer coisa. Após anos a ser o “enfant terrible” das finanças europeias, Portugal tornou-se no aluno aplicado da turma.

O Fundo Monetário Internacional, que recentemente alertou para a trajetória insustentável da dívida mundial, prevendo que o rácio da dívida se aproxime perigosamente dos 100% do PIB em 2030, mostra-se otimista em relação a Portugal, prevendo que o rácio da dívida fique já abaixo da fasquia dos 90% do PIB em 2025. Não é exatamente o nível de endividamento de um estudante universitário, mas é um progresso notável para um país que já foi conhecido como o “P” dos PIGS.

O Governo, numa demonstração de responsabilidade fiscal que faria até um contabilista alemão orgulhoso, projeta um excedente orçamental de 0,3% para 2025. É como se Portugal tivesse finalmente aprendido a gerir o seu dinheiro melhor que um turista depois de uma noite de fado e vinho do Porto.

A mensagem para os políticos é clara: não estraguem isto! A redução da dívida para níveis abaixo dos 100% do PIB após 14 anos a viver acima da linha vermelha é um feito tão impressionante quanto Portugal ter conquistado o Europeu de futebol de 2016 no Estádio de França, em Paris.

O ministro das Finanças, Joaquim Miranda Sarmento, traçou como objetivo colocar o rácio da dívida perto dos 80% do PIB até 2028. É um objetivo ambicioso, mas menos arriscado que tentar atravessar os Campos Elísios num dia de manifestação.

Enquanto França luta com a sua crise de meia-idade política, Portugal mostra que é possível envelhecer com graça no mundo das finanças públicas, deixando claro que manter as contas em ordem é mais importante que prometer “mundos e fundos”. Afinal, ninguém quer ver Portugal a fazer um French exit da estabilidade financeira que tanto custou a conquistar.

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