Juros negativos e deflação regressam à Suíça
Num cenário de incertezas globais, o país registou três meses consecutivos de deflação mensal, enquanto o franco suíço atingiu máximos históricos face ao euro consolidando-se como ativo de refúgio.
A Suíça, símbolo de estabilidade financeira, enfrenta atualmente um dilema económico que ameaça reacender velhos fantasmas: a deflação e os juros negativos. Num cenário de incertezas globais, o país registou três meses consecutivos de deflação mensal, enquanto o franco suíço (CHF) atingiu máximos históricos face ao euro (0,925 CHF por euro), consolidando-se como ativo de refúgio.
Simultaneamente, o rendimento das obrigações do tesouro suíço a cinco anos (SWISS 0% 22/06/29) caíram para 0,04%, com o título de dívida pública cotado muito perto de 100% (acima indica rendimento negativo devido ao cupão de 0%), aumentando a expectativa de que o Banco Nacional da Suíça (BNS) possa regressar às taxas de juro negativas já em 2025. Esta possível transição para uma política monetária energicamente expansionista surge num momento em que o país enfrenta o desafio de equilibrar a competitividade das suas exportações e a atratividade do CHF.
No passado dia 3 de dezembro, foi divulgado o índice de preços no consumidor (IPC) referente a novembro, confirmando o terceiro mês consecutivo de deflação na Suíça, desencadeando uma reação imediata dos mercados.
Nesse contexto, os investidores passaram a prever mais cortes de juros pelo BNS, antecipando uma taxa de juro negativa de -0,07% para setembro de 2025 (CH0BFR SEP2025 Index). Este cenário repercutiu-se igualmente nos futuros a 3 meses das taxas de juro overnight, representados pela SARON (Swiss Average Rate Overnight), que superaram a marca dos 100 pontos para todos os contratos a partir de setembro de 2025 (SSYU5 e seguintes), sinalizando taxas de juros negativas.
A valorização do CHF como ativo de refúgio reflete as incertezas globais, desde os conflitos geopolíticos até aos desafios económicos da Zona Euro. Este contexto coloca o BNS sob pressão, enquanto a força do franco suíço agrava a competitividade das exportações helvéticas, fundamentais para uma economia cujo grau se abertura equivale a 112% do PIB. O excedente comercial da Suíça, de 50 mil milhões de euros, depende de setores como farmacêutico, relojoaria e produtos químicos.
Os desafios vão além das fronteiras suíças. A Alemanha, o motor económico europeu, caminha para o seu segundo ano de recessão, enquanto a França enfrenta uma grave crise orçamental, com a dívida pública a aproximar-se do máximo histórico de 114,7% do PIB. Estas fragilidades colocam a Zona Euro numa posição delicada, intensificando os fluxos de capital para o CHF, aumentando as dificuldades do BNS. Além disso, a escalada de desafios geopolíticos nos últimos anos — desde a guerra na Ucrânia ao conflito no Médio Oriente e às recentes tensões em Taiwan, com exercícios militares chineses junto à ilha desde o início de dezembro — reforçam ainda mais o franco suíço como ativo de refúgio global, aumentando o risco de um regresso aos juros negativos.
Caso os juros negativos regressem, poderão estimular a economia interna, reduzindo os custos de financiamento, mas, no entanto, penalizarão os aforradores e os bancos. Alem disso, aumentam os riscos de bolhas financeiras em ativos como ações, obrigações e imóveis. Por outro lado, se o BNS não agir, o risco de deflação poderá espoletar uma espiral de baixo crescimento económico.
A fragilidade económica no eixo franco-alemão pressiona o BNS a alinhar políticas com o BCE, num esforço para mitigar desequilíbrios macroeconómicos. A situação da Suíça não é isolada. Ela influencia e é influenciada pela Europa. Com a inflação controlada na Zona Euro, o risco de deflação surge como a principal ameaça para 2025, exigindo cooperação entre os dois blocos económicos. No dia 12 de novembro, o BNS reduziu as taxas de juro em 50 pontos base, para 0,50%, enquanto o BCE efetuou um corte de 25 pontos base, fixando a taxa de depósitos em 3%.
O BNS enfrentou um dilema semelhante ao vívido no final de 2014, antes de abandonar o câmbio de 1,20 CHF por euro em 15 de janeiro de 2015. A deflação na Suíça reflete em boa parte a fraqueza económica nos países vizinhos, particularmente Alemanha e França, grandes parceiros comerciais da Suíça. Os bancos suíços são importantes atores no sistema financeiro europeu. Um eventual regresso dos juros negativos pode influenciar o comportamento dos bancos e investidores europeus, implicando maiores riscos ou distorções nos fluxos financeiros transfronteiriços. Se a tendência atual se mantiver, Europa e Suíça poderão enfrentar novamente taxas negativas, desafiando os mercados financeiros e a estabilidade económica.
O maior desafio do BNS continua a ser equilibrar o combate à deflação com a manutenção da atratividade e da competitividade do franco suíço.
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