Inovo, logo existo
É uma evidência dizer-se que quem lidera na inovação, quase sempre lidera o mundo. É uma lição da história. A China consolidou a sua ascensão quando inventou a bússola ou a pólvora.
Portugal deu mundos ao mundo quando inventou o astrolábio ou novos navios. O Reino Unido conquistou o mundo com por ter sido o berço da revolução industrial. E os Estados Unidos ainda são a maior superpotência do mundo, também, porque inventaram a internet que é a mãe da quarta revolução industrial. O génio inventivo dos povos e a ausência de aversão ao risco é uma das maiores riquezas das nações.
Encalhado num crescimento anémico durante mais de uma década, há uma nova geração de empreendedores em Portugal que tem desafiado as conceções centralistas do Estado e os preconceitos sobre a iniciativa privada. Esta nova vaga tem sido o motor da recuperação do país nesta segunda metade da segunda década do século XXI. Se Portugal tem hoje uma economia mais moderna, mais competitiva e mais atrativa, devo-o menos ao Estado do que aos empreendedores.
Ao contrário de tantos empreendedores no passado, esta nova geração não fica à sombra de rendas ou privilégios do Estado para tomar as suas opções de negócio. Criam empregos, inovam e atraem conhecimento para o país, ao mesmo tempo que, por via das exportações, trabalham a marca de um país moderno para o exterior.
Como autarca, tenho a consciência que as câmaras municipais (também elas vistas quase sempre pela lente do preconceito centralista como o parente pobre do poder) foram decisivas nesta mudança de mentalidade: passamos de um tempo em se encontravam desculpas no Estado para nada fazer para um tempo no qual tudo se faz apesar do Estado.
A batalha pela inovação tem de ser travada em todos os níveis políticos: local, nacional e global. Ao nível global porque é na inovação que encontramos a chave para combater alguns dos desafios existenciais que enfrentamos como humanidade. Como o aquecimento global ou as pandemias. Ao nível nacional porque a inovação é um dos principais gatilhos do crescimento económico e da competitividade das nações. Ou seja, se queremos um país próspero, competitivo e solidário, temos de criar as condições para soltar o espírito inovador que há nas nossas comunidades. Isso faz-se, sobretudo, ligando o descomplicador do Estado.
Do ponto de vista do processo político nacional é, todavia, absolutamente crucial que o progresso tecnológico e a inovação não sejam percecionados como fenómenos que reproduzem modelos de riqueza para alguns. Dito de outro modo: é essencial que o resultado dos choques tecnológicos — o progresso — seja positivamente sentido por todos os cidadãos. A ideia de que a inovação, e a globalização que lhe está subjacente, só beneficia os que estão bem na vida é falsa e perigosa — e potencia alguns dos populismos perniciosos que nos consomem.
Ao nível local, por fim, porque ninguém está mais perto das pessoas do que o governo da cidade. E para incentivar a inovação é preciso, em primeiro lugar, ajudar a alterar mentalidades.
A DNA Cascais é disso um bom exemplo. Em 10 anos de atividade, e talvez 10 dos anos mais difíceis da economia portuguesa, foram criadas 292 novas empresas e 1.500 novos postos de trabalho. Um equivalente a 53 milhões de euros de investimento privado. E o mais espantoso é que algumas das empresas made in Cascais faturam bem acima do milhão de euros e exportam para todo o mundo em setores de atividade altamente competitivos e tecnologicamente avançados.
A DNA Cascais mostra três coisas: (1) com doses certas de pressão e temperatura, o Estado (local ou nacional) pode ser importante a soltar os processos de criação, inovação e empreendedorismo; (2) que os cidadãos estão predispostos a tomar riscos, mesmo nas conjunturas mais complexas; (3) que a inovação ao nível local pode ter consequências nacionais.
Em Cascais levamos a inovação muito a sério. E trabalhamos nela do ponto de vista económico, tecnológico, mas também social e político. Não é por acaso que Cascais é uma das autarquias nacionais mais avançadas nos mecanismos de democracia participativa e colaborativa. Aproveitando o potencial das novas tecnologias, estamos a reinventar ou a restaurar a forma como eleitos e eleitores se relacionam.
Ao acolher a European Innovation Academy não estou à espera que inventem a roda em Cascais. Mas tenho a certeza que os mais de 400 participantes, de 63 nacionalidades e algumas das melhores universidades do mundo, aqui encontraram o espírito certo para inventar e inovar. E aqui encontrarão o sítio certo para fazerem crescer o seu talento, as suas ideias e o seu emprego. Seja essa a sua vontade, porque a nossa é garantida.
Carlos Carreiras, Presidente da Câmara Municipal de Cascais
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