“Parte importante da desinflação ainda não se materializou” na Zona Euro, alerta Isabel Schnabel

Como membro do Conselho Executivo do BCE, Isabel Schnabel alerta para a subida "a um ritmo preocupante" dos preços dos alimentos e aponta 3 razões para o BCE seguir uma política monetária cautelosa.

Na semana passada, o Banco Central Europeu (BCE) decidiu reduzir as suas taxas de juro de referência em mais 25 pontos base, mantendo uma abordagem gradual na normalização da política monetária. Esta decisão, anunciada após a última reunião do Conselho do BCE, reflete a crescente confiança na trajetória de desinflação, mas também a cautela face aos riscos e incertezas que ainda persistem na economia da Zona Euro.

Isabel Schnabel, membro da Comissão Executiva do BCE, defendeu esta estratégia num discurso proferido esta segunda-feira no Simpósio CEPR de Paris 2024, organizado pelo Banco de França. “Considerando os riscos e incertezas que ainda enfrentamos, baixar gradualmente as taxas de juro para um nível neutro é a ação mais apropriada”, afirmou Schnabel, sublinhando a necessidade de garantir que a inflação estabilize de forma sustentável em torno da meta de 2% do BCE, sublinhando que, segundo as estimativas, a taxa de juro natural encontra-se entre -0,5% e 1% em termos reais.

A economista destacou que as projeções mais recentes da equipa do Eurosistema confirmam que o processo de desinflação continua bem encaminhado. “A inflação deverá diminuir para a nossa meta de 2% no decurso de 2025 e oscilar em torno deste nível ao longo do horizonte de projeção”, explicou Schnabel, acrescentando que o crescimento, embora revisto em baixa, deverá acelerar no próximo ano.

No entanto, alertou que, apesar dos progressos, “uma parte importante da desinflação ainda não se materializou”, com a inflação dos serviços a permanecer elevada em 3,9%. Além disso, Schnabel sublinhou que novos choques continuam a impactar a economia da Zona Euro, como o aumento dos preços do gás e da eletricidade, e que “os preços dos alimentos também começaram a subir a um ritmo preocupante”, refletindo uma pressão inflacionária crescente.

No decorrer da sua apresentação, Schnabel apontou três razões principais para manter uma abordagem gradual na redução das taxas de juro por parte do BCE:

  • Consolidação da desinflação: Apesar da crescente confiança de que a estabilidade de preços está ao alcance, uma parte importante da desinflação continua por se materializar, especialmente nos serviços.
  • Novos choques económicos: A economia da Zona Euro continua a enfrentar novos choques, muitos deles representando riscos ascendentes para a inflação, como o aumento dos preços do gás e da eletricidade.
  • Aproximação ao território neutro: À medida que as taxas de juro se aproximam do território neutro, uma abordagem gradual permite uma melhor avaliação do grau de restrição da política monetária.

A responsável do BCE alertou para os desafios que a política monetária enfrentará uma vez restaurada a estabilidade de preços. “Quando os choques de preços relativos dominam, a inflação é largamente auto-estabilizadora. Como resultado, os bancos centrais podem ter uma maior tolerância para desvios moderados da inflação relativamente à meta, em ambas as direções”, explicou Schnabel.

Como membro da Comissão Executiva do BCE, Schnabel destacou ainda que quando a estabilidade de preços for restaurada de forma sustentável, o comportamento da inflação mudará de tal forma que os bancos centrais poderão tolerar desvios moderados da inflação relativamente à meta.

O discurso da economista que faz parte da Comissão Executiva do BCE desde 2020 sugere que o BCE está a preparar-se para uma nova fase na condução da política monetária, com implicações significativas para os mercados financeiros e a economia da zona euro nos próximos anos.

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