Portugal e Alemanha apostaram menos em medidas para conter preços e mais no apoio aos rendimentos

Na crise inflacionista, países da Zona Euro responderam de forma distinta à crise. Há quem tenha apostado mais em medidas para conter os preços e quem tenha apostado em apoios diretos aos rendimentos.

O impacto das medidas tomadas pelos Governos para conter os preços no pico da crise inflacionista foi pequeno em Portugal e na Alemanha e maior em países como a Grécia, uma vez que os primeiros adotaram políticas sobretudo de apoio direto aos rendimentos. A conclusão é de um artigo publicado no site do Banco de Portugal, que assinala que o choque inflacionista teve um impacto mais prejudicial nas famílias da Zona Euro com rendimentos mais baixos do que nas famílias com rendimentos mais elevados.

No working paper “Inflação, política orçamental e desigualdade” (apenas disponível na versão em inglês), assinado por 13 economistas europeus, incluindo Sara Riscado do Banco de Portugal, pode ler-se que a inflação na Zona Euro teria sido 1,6 pontos percentuais (pp.) mais elevada em 2022 sem as medidas para fazer face à crise inflacionista, situando-se em 8,2% (ao invés de 6,6%.

Debruçando-se sobre o caso de Portugal, França, Alemanha, Itália, Espanha e Grécia, os autores destacam que a variação deste impacto entre os países é significativa. “As diferenças na exposição ao choque energético significaram que — na ausência de medidas de preços — a inflação dos preços no consumidor teria variado entre 6% em França e 10,5% em Itália. Em ambos os países, bem como na Grécia, o impacto das medidas de preços foi o mais significativo, reduzindo a inflação em pelo menos dois pp.”, apontam.

Por outro lado, consideram que “o impacto das medidas de contenção de preços foi insignificante na Alemanha e pequeno em Portugal, uma vez que estes dois países adotaram uma combinação de políticas largamente baseadas em medidas de rendimento”.

O impacto das medidas de contenção de preços foi insignificante na Alemanha e pequeno em Portugal, uma vez que estes dois países adotaram uma combinação de políticas largamente baseadas em medidas de rendimento, lê-se no artigo.

Os economistas realçam ainda que o poder de compra das famílias nos países da Zona Euro subiu 4,4% em 2022, estimando que resulte de um aumento de 2,3 pp. dos fatores salários e pensões, um ponto das medidas de política para proteger rendimentos na crise e cerca de outro ponto de mudanças políticas no sistema de impostos e transferências não relacionadas com a inflação.

“Dado o baixo crescimento do rendimento de mercado [salários e pensões] e uma combinação de políticas amplamente centradas nas medidas de preços, a Grécia e Espanha apresentam aumentos relativamente baixos do rendimento nominal disponível, abaixo dos 2,5%, enquanto a Alemanha, Itália e Portugal terão tido aumentos de mais de 4%”, indicam.

Neste sentido, destacam que embora alguns países tenham colocado uma forte ênfase na contenção dos preços aumentos, outros tomaram mais medidas para apoiar as famílias através de transferências diretas. “Aqui, a Grécia e Portugal constituem dois casos quase polares”, assinalam.

“A Grécia recorreu principalmente às medidas de preços, que compensaram a perda de poder de compra no primeiro decil de rendimento, enquanto as medidas de rendimento desempenharam um papel muito menor”, apontam. Em contraste, indicam, “as medidas de preços em Portugal compensaram apenas cerca de um ponto percentual das perdas de bem-estar das famílias mais pobres, enquanto as medidas de rendimento desempenharam um papel muito maior”, acrescentando que estas medidas não se aplicaram aos rendimentos mais elevados.

Famílias com menos rendimentos foram mais prejudicadas pela crise

Os economistas concluem que o bem-estar das famílias com rendimentos mais baixos na Zona Euro foi mais severamente afetado pelo aumento da inflação em 2022 do que o das famílias com rendimentos elevados. Para a Zona Euro, o impacto dos aumentos de preços por si só teria significado uma queda no bem-estar de mais de 13% para as famílias com rendimentos mais baixos, 2,8 vezes superior à das famílias com rendimentos mais elevados“, indicam.

Esta “disparidade de desigualdade” foi impulsionada principalmente por dois fatores: as famílias com rendimentos mais baixos tinham um peso maior de bens com utilização intensiva de energia no seu cabaz de consumo, pelo que enfrentaram geralmente taxas efetivas de inflação mais elevadas, e, “mais importante”, sofreram mais com a inflação devido à maior parte do rendimento gasto ser gasto no consumo.

Porém, também consideram que, “embora as medidas governamentais não tenham sido fortemente orientadas para as famílias com rendimentos mais baixos, as intervenções políticas deram um contributo significativo para a redução da perda de bem-estar face ao aumento da inflação“.

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