Oito anos depois: O regresso de Trump

Empresas portuguesas que se queiram expandir para os EUA podem esperar, sob uma administração Trump, maior clareza regulatória, especialmente no setor das criptomoedas, onde reinou a incerteza.

Quando fundei a Anchorage Digital em 2017, o Presidente dos Estados Unidos da América era Donald Trump. Oito anos depois, é estranho voltar a refletir sobre o impacto que uma administração Trump possa ter no futuro de um negócio com forte exposição aos EUA.

A entrada de uma nova administração e, especialmente, de uma tão marcada e polarizadora como a de Donald Trump, terá necessariamente impactos globais em muitas áreas, da geopolítica à economia. Ir-me-ei aqui dedicar exclusivamente a esta última.

O regresso de Donald Trump à Casa Branca marca o início de um novo ciclo cheio de expectativas e desafios para as empresas tecnológicas, as quais enfrentaram uma administração hostil durante a última presidência.

As más notícias para as empresas portuguesas são que a política protecionista de Trump parece continuar a ter como objetivo beneficiar os EUA (seja esse objetivo real ou aparente no curto ou no longo prazo), com pouca ou nenhuma consideração pelos seus aliados. Em particular, isso constitui uma preocupação para as relações comerciais entre os EUA e a Europa, uma vez que durante o primeiro mandato de Trump as tarifas comerciais afetaram negativamente muitos setores europeus. Em segundo lugar, uma segunda administração de Trump vai contribuir para a volatilidade dos mercados financeiros mundiais, que vão ter de decidir, comentário a comentário, se o Presidente dos EUA realmente tem intenções de fazer aquilo que diz.

As boas notícias são que, desta vez, há um aumento de qualidade das pessoas de que Donald Trump se está a rodear em áreas chave para a economia, com empreendedores como Marc Andreessen e Elon Musk como advisors, ou nomeações como Scott Kupor, Michael Kratsios e Emil Michael para o seu governo.

Empresas portuguesas que se queiram expandir para os EUA, podem esperar, sob uma administração Trump, maior clareza regulatória, especialmente no setor das criptomoedas, onde até agora reinou a incerteza. Durante os últimos anos, testemunhámos uma abordagem geral nos mercados financeiros de “regulation through enforcement”, que criou barreiras a muitas empresas. Este novo ciclo parece prometer legislação clara e rápida que permita regras do jogo transparentes e que encoraje a inovação em vez de a penalizar. Um bom exemplo de progresso positivo nesta direção é a nomeação do Paul Atkins como novo chair da SEC.

Outro ponto central serão as possíveis reformas fiscais. As políticas fiscais adotadas durante o primeiro mandato de Trump favoreceram, em muitos casos, as empresas internacionais que operam nos EUA. Para os empreendedores portugueses, esta pode ser uma oportunidade de otimizar estruturas fiscais e maximizar a competitividade em solo americano.

Finalmente, vai claramente haver um foco renovado em reduzir a dívida (e, portanto, os gastos) do governo norte-americano, que nos últimos oito anos adicionou mais de 15 biliões de dólares à sua dívida externa. A retração na despesa federal far-se-á certamente sentir. Adicionalmente, qualquer empresa que venda ao governo vai também ser alvo de um maior escrutínio, provavelmente em público, e talvez publicado em tempo real no Twitter (sinal dos tempos que não parece ir desaparecer).

O facto é que este novo ciclo traz tanto oportunidades quanto desafios. A chave para o sucesso neste contexto será a capacidade de reagir rapidamente às mudanças que efetivamente se concretizem e, simultaneamente, ignorar aquilo que é dito apenas para conseguir músculo negocial. Se forem capazes de detetar esta última classe de forma eficaz, então talvez valha a pena também considerar o Euromilhões como opção de futuro.

  • Colunista convidado. Cofundador e presidente da Anchorage Digital

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