concorde-se ou não, ou goste-se ou não, Trump apresenta um programa com claros desígnios de crescimento da economia e investimentos em tecnologia e inteligência artificial (IA). E agora, Europa?

Donald J. Trump tornou-se o 47º presidente dos Estados Unidos e vai tomar as rédeas da maior economia do mundo, num momento em que esta se apresenta bastante sólida — uma economia com um crescimento real do PIB próximo dos 3%, um crescimento da produtividade superior a 2%, um crescimento real dos salários positivo, níveis de empregabilidade elevados, taxa de desemprego nos 4% (abaixo da média das últimas três década), e uma inflação próxima da meta de 2% ao ano. E, concorde-se ou não, ou goste-se ou não, o Presidente Trump apresenta um programa com claros desígnios de crescimento da economia e investimentos em tecnologia e inteligência artificial (IA)..

Por exemplo, Trump acaba de anunciar um investimento de 500 mil milhões de dólares em infraestruturas de suporte à IA e que juntam a OpenAI, a Softbank e a Oracle numa joint venture chamada Stargate,num briefing na Casa Branca, em que participaram o CEO da Softbank, Masayoshi Son, o CEO da OpenAI, Sam Altman, e o co-fundador da Oracle, Larry Ellison. Trump destacou que este seria o “maior projeto de infraestrutura de inteligência artificial da história”, enfatizando a confiança no potencial dos EUA. A Stargate colaborará também com empresas como Arm, Nvidia e Microsoft para desenvolver a tecnologia necessária ao desenvolvimento de aplicações significativas em áreas como saúde, incluindo a deteção precoce de doenças e vacinas personalizadas.

Um dos objetivos é conseguir alcançar a chamada superinteligência artificial ou Inteligência artificial geral (AGI), sendo que maioria dos laboratórios, está genuinamente convencida de que pode de facto construir nos próximos anos uma IA que supere um ser humano na maioria das tarefas intelectuais. Na sessão, Sam Altman anunciou “à medida que esta tecnologia avança, veremos doenças a serem curadas a uma velocidade sem precedentes. Ficaremos impressionados com a rapidez com que vamos curar vários cancros ou as doenças cardíacas, e com o impacto que isso terá na capacidade de oferecer cuidados de saúde de altíssima qualidade a baixo custos mas, acima de tudo, na cura das doenças de forma extremamente rápida. Acho que será uma das coisas mais importantes que esta tecnologia fará“.

Apesar de ainda não ser possível perceber que implicações teria a AGI para as pessoas e para a sociedade, a iniciativa visa afirmar a liderança dos EUA em IA, distanciando-se do competidor chinês. Nas declarações, a velha Europa não foi sequer referida como competidor… porque, de facto, não é.

Focando a discussão no desempenho económico, entre outros fatores que favorecem a dominância dos EUA inclui-se a domínio das empresas tecnológicas americanas. As cinco maiores empresas do mundo em valor de mercado são todas americanas e tecnológicas (Apple, Microsoft, Nvidia, Alphabet e Amazon). Das vinte maiores empresas globais, dezassete são americanas, duas são asiáticas (Saudi Aramco, da Arábia Saudita, e Taiwan Semiconductor), e apenas uma é europeia: a dinamarquesa Novo Nordisk, que ocupa a 18ª posição. Mesmo alargando um pouco a análise, os EUA continuam a dominar, com empresas americanas representando 73% das 30 maiores empresas e mais da metade das 500 maiores.

Quando olhamos para os rankings das empresas mais inovadoras, as top 5 mais inovadoras são todas americanas (Nvidia, Meta, Salesforce, Alphabet, Apple), entre top 25, 19 são americanas.

Pode não se gostar e não se concordar com as políticas do Presidente Trump, mas é inegável que os Estados Unidos entram em 2025 com um ímpeto económico impressionante e com expectativas de crescimento. Os EUA são a única grande economia onde a produção está acima das tendências pré-pandemia, a taxa de desemprego está nos 4%, abaixo da média das últimas três décadas e a inflação está próxima da meta de 2% ao ano.

A superioridade económica dos EUA é hoje evidente. Os estados americanos possuem economias tão grandes quanto países inteiros: o Texas equivale à Itália (8ª maior economia do mundo), Nova Iorque ao Canadá (9ª maior), a Florida à Espanha (15ª maior) e o Illinois à Arábia Saudita (19ª maior). Se analisarmos o PIB per capita, o da Alemanha é inferior ao do Mississipi, o Estado americano com PIB per capita mais baixo, enquanto que o da Dinamarca fica abaixo do do Maine ou do Louisiana, e o da Noruega abaixo do de Nova Jersey ou Wyoming. Obviamente, esta comparação também mostra as limitações de indicadores como PIB per capita para comparar países e avaliar o bem estar das populações. Não restam muitas dúvidas, que independentemente do PIB per capita, a qualidade de vida é em média muito superior na Dinamarca ou Noruega do que no Lousiana ou Wyoming, só para dar alguns exemplos.

E a Europa?

Apesar de não ter uma única grande empresa que centre o seu negócio em AI, a União Europeia tem centrado a sua abordagem na ética e na regulamentação, sendo líder na criação de políticas e diretrizes para o uso responsável da IA (e.g., o Ato de IA da UE criado em 2021). Apesar de a IA ser uma das tecnologias mais estratégicas do século XXI, na UE, assistimos, para além dos debates sobre regulação, a uma total apatia no debate sobre as oportunidades e desafios que a IA representa para a nossa economia e o nosso futuro coletivo em sociedade.

Este é um debate que nos devia mobilizar a todos, da universidade às organizações empresariais, do cidadão comum aos governos. Criado em 2021, o “Acto de IA” divide a tecnologia em categorias de risco, variando entre “risco inaceitável”, o que levaria à proibição da tecnologia a alto, médio e baixo perigo. Independentemente do mérido do Acto, a sua adopção levanta naturalmente dúvidas a todos os potenciais investidores em IA que obviamente evitaram fazer tais investimentos na Europa.

Na Europa, o excesso de regulamentação, a burocracia desnecessária e as complicações fiscais tornam os negócios mais difíceis na Zona do Euro. Programas de apoio ao desenvolvimento económico na UE são complexos e ineficazes. São cadas vez mais as vozes que defendem que são precisas medidas drásticas para recuperar a competitividade, a UE deveria priorizar a redução da burocracia e a regulamentação excessiva.

Vários relatórios recentes incluindo os preparados para a CE pelo ex-presidente do Banco Central Europeu, Mario Draghi, “EU competitiveness: Looking ahead” e pelo ex-ministro da Ciência, Tecnologia e Inovação, Manuel Heitor, “Align, act, accelerate: Research, technology and innovation to boost European competitiveness”, apontam para a necessidade de nos mobilizarmos e agirmos coletivamente com determinação. Agora temos de passar dos relatórios à prática e são poucos os que acreditam que as instituições europeias vão ter capacidade de se reinventar.

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