“Abertura de capital continua a ser uma hipótese. Gostámos muito de estar cotados”

A CEO da Luz Saúde, Isabel Vaz, diz que o grupo continua interessado em abrir o capital depois de ter cancelado a entrada em bolsa no ano passado. Opção pode passar por venda direta a investidores.

A Luz Saúde, que este ano completa 25 anos, esteve quase a voltar à bolsa de Lisboa em abril de 2024, mas a operação acabou por não avançar. O interesse em abrir o capital mantém-se, diz a CEO, Isabel Vaz, mas pode passar por outras alternativas, como a venda direta de uma participação a investidores, apesar de a gestão ter gostado da “pressão” de estar no mercado.

“O IPO [dispersão do capital em bolsa] abriu muitas portas, abriu muita conversa, muito fora da caixa, que nós estamos a explorar”, diz Isabel Vaz em entrevista ao podcast à Prova de Futuro, que tem o apoio do Meo Empresas.

Nós gostamos dessa pressão [dos investidores] e é importante do ponto de vista de ir buscar capital, lá está, para podermos crescer, para podermos ser grandes, para podermos estar integrados em ecossistemas maiores, às vezes desses próprios investidores”, assinala a CEO do grupo de saúde detido pela seguradora Fidelidade.

Veja aqui a entrevista na íntegra:

Isabel Vaz salienta que os ciclos de inovação são cada vez mais rápidos, o que obriga a investimentos elevados, que uma escala maior facilita. A gestora admite que a Luz Saúde poderia fazer parte de um processo de consolidação com um grande grupo do setor, desde que se pudessem garantir condições de concorrência. “Com o grande investimento que todos temos que fazer em tecnologia, nomeadamente em dados e tratamento de dados, nós precisávamos de ser maiores para podermos investir”, justifica.

O grupo vai investir até 300 milhões no próximo ano, entre abertura de novas unidades e aquisições, de norte a sul do país.

Segundo os números que vi, a Luz Saúde já tem 14 hospitais, 15 clínicas, uma residência sénior, um hospital universitário em parceira com a Universidade Católica. Por onde é que vai passar a expansão do grupo nos próximos anos?

O grupo está com um plano de expansão muito grande ao nível das unidades, no modelo que temos, que é regional. Temos norte, centro e sul. Tivemos um primeiro ciclo de consolidação de mercado quando fomos criados, vai fazer este ano 25 anos. Depois tivemos a conturbação da saída do acionista anterior e entrada do novo e um momento de consolidação para sermos um hospital universitário, de grande aumento de qualidade e de criação de uma estrutura de medicina baseada no valor. Ao mesmo tempo que íamos fazendo um segundo ciclo de consolidação, já com o novo acionista, e estamos neste momento em pleno terceiro grande ciclo de investimento. Temos mais de 100 milhões a Sul do Tejo.

Esse é um investimento já em curso ou que ainda vai acontecer?

Em curso, no sentido em que alguns projetos estão a entrar nas câmaras para aprovação, outros já estão aprovados. Tivemos aquisições agora na região do Algarve, estamos à espera da luz verde da Autoridade da Concorrência. No centro também de planos de investimento bastante grandes tal como no norte.

Consegue dar um número do investimento previsto para os próximos anos?

Nos próximos anos, estaria a falar entre 250 a 300 milhões, que seguramente vamos estar a fazer. São investimentos não só em novas unidades.

Também aquisições de outras unidades.

Também algumas aquisições, como esta que estamos a fazer agora no Algarve, mas sobretudo também muito investimento em tecnologia. Nós hoje assumimos com grande orgulho o privilégio de no Hospital da Luz, em Lisboa, termos um hospital universitário em parceria com a Universidade Católica. Estamos muito empenhados em sermos protagonistas de primeira linha no desenho dos profissionais de saúde do futuro, em grande complementaridade com a gestão, com o direito, com a engenharia. Ou seja, formar profissionais de saúde com uma visão holística e de trabalho multidisciplinar, para poderem prestar os melhores cuidados. Depois de 25 anos neste setor, aquilo que me move em termos de motivação é, de facto, olhar para os miúdos que estão hoje entrar na Universidade Católica, mas também na Universidade Nova, onde temos o sexto ano, e também no Santa Maria. O Hospital da Luz de Lisboa tem 50 internos da especialidade, portanto já estamos a contribuir de forma muito importante também para a formação de especialistas em Portugal. Uma grande parte do nosso investimento, já não é só bricks [tijolos], mas é investimento nas novas gerações e em capital humano, que é absolutamente fundamental.

É evidente que hoje, com o grande investimento que todos temos que fazer em tecnologia, nomeadamente em dados e tratamento de dados, nós precisávamos de ser maiores para podermos investir.

Face às exigências de investimento elevadas, faria sentido haver uma consolidação entre os grandes grupos de saúde em Portugal?

Isso é uma pergunta dificílima e que eu acho que não se aplica só à saúde. É evidente que hoje, com o grande investimento que todos temos que fazer em tecnologia, nomeadamente em dados e tratamento de dados, nós precisávamos de ser maiores para podermos investir. Nós investimos imenso do nosso EBITDA [resultados antes de encargos com juros, impostos, depreciações e amortizações] em tecnologia, tratamento de dados, inteligência artificial. Um operador grande, por ano, vai fazer muito mais porque tem maior capacidade devido à escala maior. Por outro lado, é evidente que também temos de garantir que há concorrência. Seguramente as seguradoras não gostariam muito que, de repente, os três grandes grupos privados em Portugal fossem só um e eles tivessem que lidar em termos de negociação.

Mas há espaço para serem menos ou não?

Não sei responder tecnicamente a essa pergunta. O que eu acho é que — e não é só no setor da saúde — a dimensão é importante para o desafio que a Europa tem. É um desafio europeu em alguns setores, nomeadamente a defesa, por exemplo. Acho que a regulação tem de encontrar caminhos para garantir que a concorrência continua a existir, permitindo que haja alguma consolidação para que nós não fiquemos para trás dos Estados Unidos ou de uma China, ou até do Médio Oriente. A Arábia Saudita, os Emirados Árabes Unidos, toda aquela região, também não está a brincar.

Mas vê o grupo Luz Saúde a ter esse papel de consolidador?

Vejo. Hoje o grupo tem um modelo muito claro de como é que quer fazer as coisas, uma estratégia muito clara, tem recursos excecionais. Tenho o privilégio de liderar uma equipa de gente que eu costumo dizer que é ‘tropa de elite’.

Mas consolidador com um grupo grande também?

Why not [Porque não]? Agora, como digo, para isso se conseguir sem ferir os princípios da concorrência, que são absolutamente fundamentais, há um trabalho a fazer pelas entidades reguladoras da concorrência. Temos de encontrar a maneira da Europa poder ganhar.

Ganhar escala para ser mais competitiva.

Para ser mais competitiva, porque o tempo, neste momento, é uma variável. Dantes os ciclos de inovação duravam mais tempo e, portanto, eu podia ir investindo e não acontecia nada. Hoje, os ciclos de inovação exigem que eu tenha que investir muito rapidamente.

Como sabe nós já fomos cotados e nós gostámos de estar cotados. Gostamos do dinamismo do mercado de capitais, porque há uma exigência gigante. Os investidores são tramadíssimos. São gente inteligentíssima, que nos faz perguntas superinteligentes e puxam por nós. Também têm defeitos, mas nós gostamos.

O grupo esteve quase a voltar para a bolsa. O processo foi suspenso em abril do ano passado. Esta hipótese continua em cima da mesa?

Como sabe nós já fomos cotados e nós gostámos de estar cotados. Gostamos do dinamismo do mercado de capitais, porque há uma exigência gigante. Os investidores são tramadíssimos. São gente inteligentíssima, que nos faz perguntas superinteligentes e puxam por nós. Também têm defeitos, mas nós gostamos.

De ter essa pressão dos investidores.

Nós gostamos dessa pressão e é importante do ponto de vista de ir buscar capital, lá está, para podermos crescer, para podermos ser grandes, para podermos estar integrados em ecossistemas maiores, às vezes desses próprios investidores.

Isso significa que ainda está em cima da mesa.

Está muita coisa em cima da mesa, que não posso aqui agora densificar. Mas nós somos uma empresa inquieta, temos um acionista inquieto, no bom sentido. Ou seja, um acionista que puxa por nós, um acionista que puxa por ele próprio. O IPO [dispersão do capital em bolsa] abriu muitas portas, abriu muita conversa, muito fora da caixa, que nós estamos a explorar.

Isabel Vaz, CEO do grupo Luz Saúde, em entrevista ao podcast do ECO “À Prova de Futuro”.Luís Francisco Ribeiro/ECO

A abertura do capital pode não passar necessariamente por uma venda do capital em bolsa?

Pode não passar, ainda que nós, equipa de gestão, gostamos disso. O processo do IPO teve alguma graça, porque quando nós fizemos o intention to float e de repente o Irão mete 300 mísseis em Israel nessa semana. Nós realmente temos uma pontaria… Já quando foi do primeiro IPO também tivemos a crise dos mercados emergentes. Os índices de volatilidade foram gigantes e nós acábamos por recuar. O que eu quero dizer com isto é que todos estes processos são sempre processos ganhadores do ponto de vista do que nós aprendemos e das perguntas que nós temos de saber responder, da própria disciplina estratégica que temos que ter.

A abertura de capital continua a ser uma hipótese.

Continua a ser uma hipótese.

Mas está a ser estudada de forma mais intensa?

Estamos sempre a estudar e, como digo, todo o processo de IPO abriu muitas avenidas estratégicas importantes que nós estamos a analisar. Sem barulho.

Depois de 25 anos, o que é importante para mim não é o que fizemos no passado, é efetivamente ter a certeza que quando passar a liderança, passo a liderança com a Luz Saúde com um futuro auspicioso pela frente.

Foi distinguida em novembro como gestora do ano pelo júri dos prémios da revista Executiva. É um estímulo para continuar à frente da Luz Saúde ainda por muito mais anos?

Esse prémio foi importante porque é uma luta grande que a revista Executiva faz para que as mulheres acreditem que é possível e eu sou muito sensível a isso. Eu nunca tive esse problema. Tive sempre a felicidade de trabalhar em ambientes que não eram tóxicos desse ponto de vista e, portanto, valorizo muito o trabalho delas nesse sentido. Um dos prémios que mais alegria e orgulho me deu foi o prémio da minha Alma Mater, o Prémio Lurdes Pintassilgo, pelo Instituto Superior Técnico, onde eu tive um grande orgulho em estudar e tenho um grande orgulho hoje em ser engenheira. Mudou completamente a minha vida e até a forma como os nossos hospitais são geridos. Eu adoro este setor, adoro hospitais, adoro os médicos, adoro a vivência hospitalar. Depois de 25 anos, o que é importante para mim não é o que fizemos no passado, é efetivamente ter a certeza que quando passar a liderança, passo a liderança com a Luz Saúde com um futuro auspicioso pela frente.

Essa passagem ainda vai demorar alguns anos?

Não sei, não sei. O que é importante é a empresa estar sempre preparada, com a sua sucessão sempre preparada, para que eu possa ser inútil. Neste momento, o que me motiva e faz sair da cama todos os dias de manhã é ter a certeza que estamos a formar os profissionais do futuro e que a Luz Saúde continuará a ser protagonista de primeira linha na construção de um setor que é absolutamente vital para a economia e para o Estado Social. Tenho muito orgulho nisso. Temos muitos desafios pela frente. Nós temos uma população muito envelhecida e apesar de a esperança de vida ter crescido muito desde os anos 60 até agora, a verdade é que temos menos quatro anos de vida saudável, em média, do que a União Europeia. Nós vivemos mais tempo, mas com pior qualidade e, é um desígnio que temos que ter e que tem impacto na produtividade do país. Porque se as pessoas estiverem saudáveis, quer mentalmente quer quer do ponto de vista físico, vão trabalhar melhor, vão ser mais produtivas, vão contribuir mais para a economia.

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