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As causas do sucesso ibérico
Portugal e Espanha têm vindo a corrigir as suas vulnerabilidades económicas e brilharam em 2025 no espaço do euro, mas convergir com o produto per capita da região obriga a crescer ainda mais.
As economias da Península Ibérica brilham no espaço europeu, ao ponto de terem contribuído para metade do crescimento da Zona Euro no último trimestre do ano passado. Sem a expansão trimestral de 1,5% de Portugal e de 0,8% de Espanha, o bloco dos países da moeda única teria registado uma contração de 0,1% nos últimos três meses de 2024, como assinala o El Economista.
O bom desempenho ibérico foi recentemente destacado também pela Oxford Economics, que enumera alguns ingredientes comuns para este sucesso:
- São economias com um maior peso dos serviços, muito devido ao turismo, e, logo, menos expostas à contração da atividade na indústria que assola a Zona Euro.
- A tão diabolizada imigração contribuiu para o aumento da população em Portugal e Espanha, garantindo o emprego necessário para o crescimento de vários setores, nomeadamente o turismo.
- O peso elevado da energia renovável no mercado de energia ibérico permitiu mitigar a subida dos custos da energia.
Os economistas da Oxford Economics destacam também que os dois países têm vindo a corrigir as suas vulnerabilidades macroeconómicas:
- Desde a década passada que Espanha e Portugal têm registado excedentes da balança corrente e de capital, contribuindo para reduzir significativamente o endividamento externo. No caso português, este passou de 107,7% do PIB em 2015 para 53% em 2023. Segundo a Pordata, Portugal tinha naquele ano o terceiro melhor registo dos 27 países da UE.
- As dívidas do setor privado também se reduziram de forma significativa nos vizinhos ibéricos. Em Portugal, o endividamento das empresas desceu de 170,4% do PIB em 2022 para 105,7% no segundo trimestre de 2024. Nas famílias, caiu de 94,4% em 2029 para 56,3%, segundo dados do Banco de Portugal.
- Os dois países melhoraram a situação das contas públicas, com destaque para Portugal. O país vizinho reduziu o endividamento do Estado de 120% do PIB em 2020 para cerca de 104%. Por cá, caiu de 134,1% para 95,3%. Portugal deverá, além disso, registar em 2025 o terceiro ano consecutivo de excedente orçamental.
Portugal precisa de crescer mais (já lá vamos) mas é importante sublinhar o bom momento que a economia vive no contexto europeu e o que foi necessário para aqui chegar, com destaque para a consolidação orçamental conseguida na última década, o incentivo ao turismo, adotando políticas públicas que facilitaram o investimento privado no setor, ou o investimento na educação.
Os países da Península Ibérica deverão continuar a crescer bem acima da Zona Euro este ano e no próximo (em torno de 2%), beneficiando, entre outros fatores, da aceleração dos investimentos dos respetivos PRR. A persistência de um saldo migratório positivo, ainda que mais moderado, é a principal razão apontada para o melhor desempenho esperado face à Grécia ou Itália nos próximos anos.
Portugal não pode, no entanto, descansar à sombra da bananeira. A Oxford Economics prevê agora que os dois países cresçam na média da Zona Euro durante a próxima década (antes apontava para uma evolução inferior), conseguindo apenas uma ligeira convergência com o PIB per capita da região.
É preciso crescer a um ritmo ainda maior. O que passa por fazer reformas que acelerem a atração de investimento estrangeiro e estimulem a economia. Desburocratizar, simplificar e reduzir os impostos, dar maior rapidez à justiça ou acabar com a constante incerteza regulatória estão entre as prioridades.
Um maior crescimento dará também um maior peso político à Península Ibérica nas instituições da UE.
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