Tudo o que precisa de saber sobre as eleições alemãs
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- Tiago Freire
- 8:42
A CDU lidera as intenções de voto nestas eleições antecipadas mas a AfD, de extrema-direita, poderá duplicar a votação e ficar em segundo lugar. Governo de coligação é altamente provável.
Tudo o que precisa de saber sobre as eleições alemãs
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- Tiago Freire
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Porque é que há eleições antecipadas?
As eleições estavam previstas para Setembro deste ano, mas precipitaram-se depois do rompimento da coligação liderada pelo chanceler Olaf Scholz, que incluía o seu partido (SPD, de centro-esquerda), os Verdes e os liberais do FDP. Scholz demitiu o ministro das Finanças, dos liberais, devido a discordâncias profundas sobre a despesa pública e o endividamento, mas a tensão já existia há muito.
Proxima Pergunta: Como funciona o sistema eleitoral alemão, nas legislativas?
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Como funciona o sistema eleitoral alemão, nas legislativas?
Cada eleitor vota em dois boletins separados: no primeiro, vota num candidato a deputado específico da sua região (são 299 regiões); no segundo, vota numa lista partidária. É o conjunto destes segundos votos que determina a percentagem de deputados que os partidos terão no novo parlamento, que tem 630 lugares. Só chegam ao Bundestag, no entanto, os partidos que conseguirem, no mínimo 5% a nível nacional no segundo voto, excepto se tiverem menos do que isso mas tiverem conseguido pelo menos três vitórias no primeiro voto.
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O que dizem as sondagens?
As previsões apontam para uma vitória confortável dos democratas cristãos da CDU (centro-direita), liderados por Friedrich Merz, com perto de 30% das intenções de voto, mas abaixo disso tudo é possível, inclusivamente um terramoto político protagonizado pela extrema-direita.
É que as sondagens apontam para que o Alternativa para a Alemanha, a AFD de Alice Weidel, possa duplicar a votação de 2021 e chegar perto dos 20%, tornando-se assim o segundo partido mais votado.
Já a SPD, de Olaf Scholz, que havia vencido por pouco as eleições de 2021 (ligeiramente à frente da CDU), deverá passar agora para terceiro lugar, ficando próximo dos 15%, um pouco acima dos Verdes (13% nas últimas sondagens).
Na disputa estão ainda três partidos que podem ou não entrar no Bundestag, uma vez que têm de atingir 5% dos votos para ter esse direito. Os liberais do FDP faziam parte da coligação governativa e foi a sua saída que deu origem à necessidade de eleições antecipadas. O Die Linke, a Esquerda, disputa parte do eleitorado com o BSW (Bündnis Sarah Wagenknecht), partido populista que nasceu de dissidentes do Die Linke e mistura posições de esquerda na economia com posições de direita em temas como a imigração, diversidade e transição climática.
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Que temas marcaram a campanha?
Sobretudo três: imigração, economia e política externa, nomeadamente o apoio à Ucrânia.
A maioria dos principais partidos defende um controlo mais musculado da imigração, sobretudo a AfD, que faz disso a sua principal bandeira.
Na economia, um dos grande problemas da Alemanha, há propostas para todos os gostos, com mexidas nos impostos (todos querem baixar, mas mudam as faixas dos beneficiários) e uma discussão acerca da transição energética, com os partidos mais à direita a defender um travão devido aos custos (a AfD defende mesmo a destruição das torres eólicas, que chama de “moinhos da vergonha”). Uma discussão fundamental tem a ver com o chamado “travão da dívida”, que impede que o endividamento federal estrutural líquido ultrapasse os 0,35% do PIB. Friedrich Merz não afasta totalmente que essa regra seja revisitada, mas diz que há um grande trabalho de corte da despesa a fazer antes. O problema é que há quem defenda que a economia alemã precisa de uma política expansionista para voltar à vida, além de que não está claro como o país conseguirá respeitar esse teto e ainda assim cumprir o compromisso com a NATO de investir 2% do PIB em Defesa, anualmente. Nesse sentido, tanto os Verdes como o SPD – os mais naturais parceiros de coligação da CDU – têm defendido essa mudança constitucional para aliviar as regras do endividamento.
Na frente externa, o tema é a guerra na Ucrânia e, mais recentemente, a postura de Donald Trump, que juntamente com JD Vance e Elon Musk têm recolhido grande apoio por parte da AfD. O resto dos principais partidos defende que deve continuar e aumentar, se possível, o apoio financeiro e militar à Ucrânia. As principais excepções são a Esquerda, a AfD e os populistas do Bündnis Sarah Wagenknecht. Já os liberais do FDP apoiam a Ucrânia mas defendem um estreitar de relações com os Estados Unidos.
Proxima Pergunta: O que se segue?
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O que se segue?
Se a vitória da CDU parece relativamente segura, resta o “pequeno pormenor” de quem vai integrar o governo. A Alemanha tem uma longa tradição de governos de coligação e isso vai voltar a acontecer. Os principais candidatos a juntarem-se à CDU são o SPD e os Verdes, embora os líderes da CDU gostassem de fazer apenas uma coligação a dois, que limitaria a necessidade de negociação permanente com dois parceiros que até podem discordar profundamente entre si, em alguns temas. Porém, isso vai depender do facto de os partidos mais pequenos conseguirem ou não eleger deputados. Do xadrez final dos votos se saberá se a CDU precisará de um ou de dois parceiros para o governo. Uma coisa parece estar, para já afastada: a AfD não será convidada a integrar o governo, de acordo com declarações de Friedrich Merz, que deverá ser o próximo chanceler.
É possível que as negociações para formação do próximo governo durem meses.