Manuel Dias, diretor de tecnologia da Microsoft Portugal, diz que a tecnológica está interessada em construir um centro de dados no país. Ouça o podcast 'À prova de futuro'.
A Microsoft lança um novo centro de dados a cada três dias em todo o mundo, conta Manuel Dias, national technology officer da tecnológica em Portugal. “Teríamos imenso, imenso prazer em poder fazer isso em Portugal“, diz, mas as condições ótimas para o investimento avançar ainda não estão reunidas, embora esteja “constantemente a avaliar o mercado”. E aponta ao setor público, onde diz haver caminho a fazer na adoção de cloud, área onde o país está atrasado face a outros países da União Europeia.
Os agentes de inteligência artificial generativa, tendência que se espera marque este ano, foram o mote para a conversa para o podcast À Prova de Futuro.
Estas novas aplicações de software vão substituir os trabalhadores em várias tarefas, ter um impacto significativo na produtividade e alterar os modelos de negócio, antecipa Manuel Dias.
“Vamos evoluir para sistemas multiagentes, onde eu tenho uma rede de agentes especializados em que cada um faz uma tarefa. O exemplo normal é: eu quero agendar as minhas férias de verão e peço ao agente para marcar. Ele vai tratar de reservar a casa, de reservar o carro, de colocar um lembrete na minha agenda, de comunicar com outros stakeholders“, ilustra o engenheiro eletrotécnico e de computadores, que antes de se juntar à Microsoft esteve na OutSystems e na Efacec.
Manuel Dias considera prioritário generalizar estas novas competências, para que Portugal consiga competir com os outros países que estão a fazer estes investimentos. “Com todo o contexto geopolítico que nós estamos a ver agora, é muito relevante apostar nesta área”, alerta. A Agenda Nacional para a Inteligência Artificial, prometida pelo Governo para o primeiro trimestre, deve, por isso, avançar o quanto antes.
Sobre o DeepSeek, o rival chinês do ChatGPT, não tem dúvidas: “ficou provado que é possível fazer [um modelo de inteligência artificial] com menos investimento”.
O que são os agentes de inteligência Artificial e porque é que se diz que vão marcar o ano?
Os agentes da inteligência artificial são a tendência de 2025 no que toca à evolução da inteligência artificial generativa. Quando falamos de agentes, não estamos a falar de coisas novas. Já falámos muito de agentes em sistemas de software no passado. O que é que isto tem de novo? Tem de novo que estes agentes usam a inteligência destes grandes modelos de linguagem, como o ChatGPT, para definir o que é que é um processo, quais são as ações para executar esse processo, e depois executam-no de forma autónoma.
Vamos começar, por exemplo, a ter um agente que trata de toda a validação legal de documentos de uma empresa. Vamos ter agentes que conseguem agendar uma reunião, agentes que conseguem marcar uma viagem, que conseguem reservar um hotel. Agentes que, num passo mais à frente, conseguem fazer o atendimento ao cliente ou o suporte ao cidadão.
Em que tipo de tarefas é que estes agentes vão conseguir substituir a intervenção humana? O que é que um agente destes já pode fazer por nós?
Há uma enorme variedade de cenários onde nós podemos usar agentes. Em 2023 e 2024 usávamos muito a inteligência artificial generativa para gestão de conhecimento, para fazer perguntas e obter respostas. Nós vamos começar a ver estes agentes a atuar. Vamos começar, por exemplo, a ter um agente que trata de toda a validação legal de documentos de uma empresa. Vamos ter agentes que conseguem agendar uma reunião, agentes que conseguem marcar uma viagem, que conseguem reservar um hotel. Agentes que, num passo mais à frente, conseguem fazer o atendimento ao cliente ou o suporte ao cidadão. Agentes que vão conseguir, por exemplo, escrever num ERP [software de gestão], escrever num sistema de CRM [software de gestão de clientes] ou enviar uma mensagem. Com capacidade de atuar e de se ligar a sistemas externos.
E como é que vai ser feita a interação com estes agentes?
A interação beneficia muito da inteligência artificial. Nós hoje usamos inteligência artificial com modelos multimodais, com múltiplas categorias de informação. Começámos por usar o ChatGPT através da linguagem natural, do texto. Hoje já usamos a imagem, o áudio, o vídeo. Vamos conseguir comunicar com estes agentes da forma mais natural possível que nós usamos entre humanos. Há um acréscimo das capacidades que estes agentes têm face ao passado, por causa da inteligência artificial generativa.
Olhando para a evolução destes agentes, a complexidade das tarefas que eles serão capazes de fazer no futuro vai aumentar?
Sem dúvida. Hoje em dia, quando olhamos para o software empresarial, temos cerca de 1% já com estas capacidades de agentes. Aquilo que se prevê até 2028, segundo um estudo recente da Gartner, é que chegue aos 33%. Todas as aplicações de software empresarial vão ter capacidades de agentes. Vamos começar com soluções em que temos um agente para fazer uma tarefa, com um objetivo muito determinado, mas depois vamos evoluir para sistemas multiagentes, onde eu tenho uma rede de agentes especializados em que cada um faz uma tarefa. O exemplo normal é: eu quero agendar as minhas férias de verão e peço ao agente para marcar. Ele vai tratar de reservar a casa, de reservar o carro, de colocar um lembrete na minha agenda, de comunicar com outros stakeholders. Isso significa que eu posso ter vários agentes especializados que trabalham em rede.
Estes agentes vão ter capacidade de ter memória de curto prazo e longo prazo, o que é muito relevante quando eu estou a desenvolver um agente que está a executar um processo de negócio, que tanto pode demorar um dia como pode demorar uma semana.
E que comunicam uns com os outros.
Comunicam uns com os outros, utilizando linguagem natural. Depois podemos ir para coisas mais complexas, no sentido em que eu tenho um coordenador que está a controlar o trabalho de múltiplos agentes e que consegue perceber o que cada um está a fazer e vai-lhes distribuindo tarefas. Nós vamos, durante 2025, 2026 ver aparecer várias arquiteturas, várias frameworks de multiagentes para executar tarefas. Vamos ter dezenas ou centenas de agentes a fazer isso.
E com capacidade para gerir tarefas cada vez mais complexas.
Estes agentes vão ter capacidade de ter memória de curto prazo e longo prazo, o que é muito relevante quando eu estou a desenvolver um agente que está a executar um processo de negócio, que tanto pode demorar um dia como pode demorar uma semana. Tem capacidade de raciocinar avançada e planear que é uma coisa muito importante. Hoje, quando usamos o ChatGPT não estamos a planear, estamos a fazer uma pergunta e a obter uma resposta.
Mas ainda não estamos aí.
Estamos a caminho disso. Na Microsoft, com os Copilot agents e com o recente serviço lançado no Azure, já temos a capacidade de ter agentes autónomos e de comunicarem. Eu diria que em 2025, sem dúvida alguma, já vamos ver isso no mercado.
Para nós conseguirmos tirar partido desta tecnologia, é fundamental chegar às competências, esse é o ponto-chave.
E isso para as empresas vai significar um aumento da produtividade do trabalhador?
Nós vamos ter vários agentes que vão ajudar primeiro na produtividade e na agilidade da empresa. O segundo passo tem a ver com a automação de tarefas e aqui, sem dúvida alguma, o ganho ainda vai ser maior. O terceiro passo é agentes autónomos e nós nem sequer temos que dizer: “faz aquela tarefa”. Eu recebo um e-mail com uma queixa de cliente e ele automaticamente vai processar a queixa; ou há um novo registo de um cidadão num sistema de back office e automaticamente o processo é desencadeado e feito pelo agente usando inteligência artificial.
Sempre que se fala nas vantagens desta tecnologia e a crescente autonomia que vai ganhar, fala-se do impacto que isso pode ter no emprego. Há estudos que dizem que haverá uma perda de postos de trabalho. Há outros que dizem que, na verdade, vai haver uma perda mas eles vão ser substituídos por outras funções. Qual é a sua visão?
É uma visão bastante otimista. Nós sabemos que em todas as revoluções tecnológicas houve sempre alguma destruição de empregos, mas houve sempre uma criação superior de novos empregos. E, aqui, claramente, a tecnologia é tão transversal e tão geral que nós vamos efetivamente criar novas profissões que hoje, se calhar algumas delas ainda não as conseguimos prever. Temos uma tecnologia que vai requerer novas competências e novas profissões. Dito isto, aquilo que é mais importante passar às pessoas é que é preciso apostar nessas competências. Para nós conseguirmos tirar partido desta tecnologia, é fundamental chegar às competências, esse é o ponto-chave.
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As empresas portuguesas já estão a integrar a inteligência artificial generativa nos seus processos?
Existem vários estudos. O estudo mais interessante é o estudo do Eurostat com o DESI, o Índice da Sociedade Digital, que coloca as PME portuguesas, que é um dos indicadores chave, com o nível digital básico muito atrás da média europeia. Nós temos apenas 54% das PME com nível de intensidade digital básico. Ou seja, há muito para fazer no nosso tecido empresarial. Não só na inteligência artificial, mas no tema todo da digitalização. Quando olhamos, por exemplo, para os indicadores específicos sobre competências continuamos muito atrás. Nós somos o antepenúltimo país da Europa a produzir licenciados em tecnologias de informação. São muito bons, mas nós precisamos de mais e precisamos de os reter em Portugal. São esses dois desafios muito relevantes quando falamos de talento. Porque isto só se faz com talento, com pessoas.
O talento é escasso nestas áreas.
É demasiado escasso. E quando olhamos para um tecido empresarial que é dominado por PME, onde é difícil competir a nível salarial, a nível de motivação, de desafios… Não estamos a falar de startups, essas é outro segmento. Precisamos muito dessas competências e desse talento em Portugal.
O que é que deve ser a agenda de Portugal para a inteligência artificial?
Há aqui três ou quatro tópicos muito importantes. O primeiro é, desde logo, as competências ao nível da utilização individual de inteligência artificial, mas também dentro das empresas e no setor público. Depois há o tema de formação e aí a academia tem um papel muito importante em conseguir atualizar-se com estas novas tecnologias e preparar os jovens para elas. Depois é preciso olhar, e este é um ponto muito importante, para a forma como nós criamos soluções de inteligência artificial, como replicamos e como conseguimos formar os líderes para que eles percebam o potencial desta tecnologia, para que ela possa ser efetivamente adotada. A parte da adoção é muito importante na estratégia. Não basta pensar que isto é realmente muito inovador, se depois a adoção não é feita de forma massiva. Outro ponto tem a ver com os casos de uso. O que é que nós vamos fazer em termos de inteligência artificial? Acho que é muito importante haver mecanismos de partilha de experiências que vão sendo feitas e nós temos vários exemplos de sucesso em Portugal, no setor público e no setor privado. Outra muito importante é alavancar a prototipagem e a ideação desta tecnologia.
Nós lançámos há cerca de um ano na Microsoft uma iniciativa chamada AI Innovation Factory, que pretendia precisamente contribuir para acelerar a adoção da inteligência artificial, que juntava uma tecnológica com tecnologia de ponta, a Microsoft, juntava a Accenture e a Avanade, com um conhecimento de indústria, que é muito importante, e depois juntava a Unicorn Factory, para termos acesso ao mercado das startups, a todo esse ecossistema.
É possível fazer um primeiro balanço da atividade da AI Innovation Factory?
É uma iniciativa é realmente diferenciadora. Nós tivemos, durante um ano, cerca de 200 sessões dentro da AI Innovation Factory. Sessões de ideação, de prototipagem, workshops de negócio, onde nós trazemos não apenas as pessoas dos sistemas de informação, mas as pessoas que estão a lidar com os problemas de negócio, para pensarem como é que ele pode ser redefinido com inteligência artificial. Trazemos startups para mostrarem os seus produtos que têm aqui, no fundo, clientes onde esses produtos podem ser testados.
Esta nova realidade da inteligência generativa vai criar uma revolução nos modelos de negócio?
Sem dúvida. Podemos olhar para a inteligência artificial como quase a primeira camada, onde nós temos grandes tecnológicas, como a Microsoft, a OpenAI e outras, a desenvolver estes grandes modelos de linguagem, que requerem um investimento astronómico, para conseguir treinar estes modelos e mantê-los atualizados, porque a capacidade de computação é realmente enorme e as necessidades energéticas são enormes. Eu diria que esta parte é muito relevante, mas depois conseguir colocar estes modelos na mão das empresas, das startups, para que elas possam desenvolver novos produtos e novos serviços.
Criar novos produtos e serviços em cima desses modelos.
Temos visto no mercado uma proliferação de soluções de produtividade, de criatividade, de atendimento, soluções para call centers, soluções na área de educação. No fundo, não é reinventar estes serviços, porque isto são algoritmos pré-treinados onde eu tenho quase que simplesmente os integrar nos meus modelos de negócio e criar novos produtos de valor acrescentado. Há um enorme potencial para as empresas e em particular para as empresas portuguesas, de tirar partido e de criar novos produtos e serviços.
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Agenda Nacional para a IA: “Quanto mais depressa, melhor”
O Governo vai supostamente apresentar, até ao final de março, uma agenda de Portugal para a inteligência artificial. Isto já não devia ter sido lançado há mais tempo?
É uma boa pergunta. Isto vai ser uma maratona. Nós vamos ter de estar a refletir e a rever todas essas estratégias à medida que a tecnologia evolui. Já havia trabalho feito no passado, na área da inteligência artificial. Eu recordo-me, por exemplo, de um trabalho feito pelo anterior Governo, que era o Guia de Inteligência Artificial Responsável para o setor público, que é uma área chave, que é o tema da confiabilidade, da privacidade e da confiança nestes algoritmos. Agora há uma nova estratégia digital nacional e lá dentro temos uma agenda nacional e, portanto, quanto mais rápido, melhor. Há muito trabalho para ser feito. Na verdade, isto não pára, porque as empresas e o setor público continuam a desenvolver e a adotar esta tecnologia, mas conseguir ter um conjunto de estratégias bem definidas, bem orientadas é muito relevante.
É um exemplo clássico de “mais vale tarde que nunca”.
Não acho que seja tarde. Acho que o trabalho está a ser feito. Algumas das iniciativas já vêm de trás e é relevante mantê-las, não cortar com o passado, porque há coisas muito bem feitas. Vai carecer de um trabalho contínuo, anual e estão previstas revisões dessa agenda, salvo erro para 2026, precisamente porque a tecnologia vai evoluir. E se calhar hoje estamos a precisar muito de competências, amanhã estamos a precisar de focar na adoção, daqui por dois anos podemos estar a focar noutra área específica.
A Microsoft foi de alguma forma envolvida nesta discussão?
A Microsoft foi envolvida, juntamente com um conjunto de empresas tecnológicas nacionais, desde o início. Teremos o maior prazer em contribuir e trazer boas práticas, reflexões, conteúdos e formação que possam ajudar Portugal a ser um líder na inteligência artificial.
O desafio não é a adoção de inteligência artificial, o desafio é qual é o impacto disso no PIB do país e nós conseguimos competir com todos os outros países que estão a fazer esses investimentos. Com todo o contexto geopolítico que nós estamos a ver agora, é muito relevante apostar nesta área.
Vemos serem apresentados projetos de muitos milhares de milhões de euros para a alta velocidade ferroviária, um novo aeroporto, uma terceira travessia do Tejo, um novo pacote de investimentos na rodovia. O país precisava, de facto, de modernizar algumas das suas infraestruturas, mas, de repente, temos aqui uma avalanche de investimento. E a questão é, parte desse dinheiro não seria mais bem investido em dar ao país uma maior capacidade tecnológica?
Eu não quero qualificar esses investimentos. Acho que todos eles são relevantes, mas acho que é muito relevante apostar na tecnologia. É muito importante apostar nas competências. Na Microsoft, anunciámos muito recentemente o objetivo de formar seis milhões de portugueses em tecnologias e em inteligência artificial. É preciso depois priorizar todos esses investimentos, que acho, como português, que são muito relevantes para Portugal. De alguma forma, a Agenda Nacional de Inteligência Artificial vai mostrar quais são os investimentos mais importantes.
Mas devíamos ou não investir mais nestas áreas?
Acho que devíamos investir mais. Isto vai ser um fator diferenciador das economias. O desafio não é a adoção de inteligência artificial, o desafio é qual é o impacto disso no PIB do país e nós conseguimos competir com todos os outros países que estão a fazer esses investimentos. Com todo o contexto geopolítico que nós estamos a ver agora, é muito relevante apostar nesta área, porque o desenvolvimento económico vai depender muito daquilo que vamos conseguir fazer com a tecnologia, na produtividade, na automação de processos. É uma área prioritária para Portugal, juntamente com outras. Muitas vezes nós estamos a olhar para investimentos que são feitos naquela primeira camada que eu falava há pouco, e que se calhar não faz tanto sentido, porque acaba por ser uma commodity.
Quando olhamos para o LLM português ou para outras coisas que vão ser feitas na Europa, estamos a falar de modelos específicos, mais pequenos, que se calhar vão cumprir um conjunto de tarefas bem, mas não vão ter a capacidade que nós temos hoje em dia num GPT 4o ou no Open AI 01, que acabou de ser lançado, que já estão muito à frente.
Dentro dessa lógica, faz sentido estar a desenvolver um grande modelo de linguagem natural (LLM) português, o Amália?
Se preencher um espaço para Portugal, onde a língua que é usada e algumas especificidades que podem não estar nestes grandes modelos, pode fazer sentido. Mas eu tenho algumas dúvidas, porque aquilo que foi investido ao nível do volume de dados para treinar modelos como o GPT4 ou o o1 da OpenAI é muito relevante e a própria capacidade dos modelos. São modelos com centenas de biliões de parâmetros. Quando olhamos para o LLM português ou para outras coisas que vão ser feitas na Europa, estamos a falar de modelos específicos, mais pequenos, que se calhar vão cumprir um conjunto de tarefas bem, mas não vão ter a capacidade que nós temos num GPT 4 ou no Open AI o1, que acabou de ser lançado. Já estão muito à frente.
Porque estes grandes modelos estão sempre a evoluir.
O investimento que é necessário para conseguir ter um modelo destes a evoluir é enorme. Por outro lado, é preciso não apenas treinar os modelos, é preciso depois colocar os modelos em produção e ter uma infraestrutura de inferência que consiga escalar. Isso também é uma preocupação. Não é eu vou treinar o modelo e disponibilizá-lo e esperar que, de repente, as PME vão adotar esse modelo e vão fazer investigação. Não, eu vou querer ter esse modelo embebido já nas aplicações que eu uso no dia a dia. A infraestrutura que está por trás, ao nível dos data centers, para executar estes modelos é monumental. Não é pensar apenas em termos de investigação; é, mais uma vez, a adoção desses modelos.
Faz sentido, obviamente, nós podermos construir cá um data center e depois exportar computação para fora. (…) É um caminho que temos que fazer e que vai depender não só da Microsoft, e nós estamos constantemente a avaliar o mercado para esse investimento fazer sentido.
Falou em centros de dados. A Microsoft tem um plano grande de investimento anunciado para este ano, de 80 mil milhões de dólares, parte em centros de dados. Esse tipo de investimento pode chegar a Portugal?
Nós temos feito vários investimentos ao longo destes últimos anos, em parte por causa da inteligência artificial e da infraestrutura que é requerida. A cada três dias, nós lançamos um novo data center no mundo. No ano passado construímos 120 data centers com esta infraestrutura de IA. A Microsoft foi a tecnológica que mais investiu na compra de GPU da Nvidia, mais do dobro, se calhar, do segundo competidor. Isso é fundamental para nós. A decisão dos data centers nos países, depende muito também do ecossistema local. Nós temos grandes empresas em Portugal que usam cloud há cinco anos e de forma massiva e portanto não é por ter um data center em Portugal ou em Espanha, onde já temos um muito próximo daqui, com uma latência menor, que vai condicionar a adoção de cloud. Para fazê-lo em Portugal é preciso olhar paras as condicionantes de mercado, para o tema da adoção. Faz sentido, obviamente, nós podermos construir cá um data center e depois exportar computação para fora, mas o principal objetivo é que a sociedade portuguesa, que as empresas e que o setor público, que é um fator muito importante, consiga adotar essas tecnologias. É um caminho que temos que fazer e que vai depender não só da Microsoft, e nós estamos constantemente a avaliar o mercado para esse investimento fazer sentido.
Esse investimento ainda não está programado.
Estamos a avaliar. Teríamos imenso, imenso prazer em poder fazer isso em Portugal. Mas, como digo, não depende só da Microsoft, depende do próprio enquadramento. Há um caminho a fazer, sem dúvida, na área de setor público, na adoção de cloud. Nós, mais uma vez, no indicador do Eurostat estamos muito atrás da média europeia. Temos países hoje em dia na União Europeia que já têm uma estratégia de cloud first, de adotar muitas destas tecnologias diretamente na cloud pública, com todas as salvaguardas de privacidade e segurança. A cloud da Microsoft foi pioneira em Portugal a ter uma certificação do Gabinete Nacional de Segurança para manipular o primeiro nível de informação classificada. Estamos a fazer esse caminho com estas várias coisas, para que consigamos ter um business case robusto para ter isso em Portugal.
Eu penso que ficou provado que é possível fazer com menos investimento e acho que vai haver um grande desenvolvimento ao nível das arquiteturas destes modelos.
O mundo da inteligência artificial generativa foi recentemente agitado pelo surgimento de uma espécie de versão chinesa do ChatGPT, o DeepSeek. Ficou mesmo comprovado que é possível criar modelos de IA com muito menos investimento e que consomem menos energia?
Eu penso que ficou provado que é possível fazer com menos investimento e acho que vai haver um grande desenvolvimento ao nível das arquiteturas destes modelos. Alguns dos mecanismos de pré-treino e pós-treino são diferentes e permitiram, efetivamente, um menor investimento. Não é com o investimento que foi anunciado pela DeepSeek dos cinco milhões de dólares, diria que há muito mais investimento ali, mas não deixa de ser relevante porque estamos a falar de uma ordem de grandeza menor do que um modelo da OpenAI ou o Gemini [da Google]. Não é só apenas o custo de investimento, mas o facto do modelo ser open source e, portanto, estar disponível para qualquer empresa poder criar soluções em cima disso. Aquilo que nós fizemos na Microsoft foi, um dia depois de ser lançado o DeepSeek, disponibilizar na cloud da Microsoft esse modelo, em open source. E porque é que isto é relevante para as empresas? Porque tenho requisitos de RGPD e outros requisitos de segurança, em que não quero que essa informação esteja residente na China. Nós hoje temos mais de 1.800 modelos disponíveis, não é apenas o ChatGPT. Mas não deixa de ter um mérito enorme a forma como o modelo foi desenvolvido, que eu diria que se equipara muito ao OpenAI o1 nalguns dos testes.
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Microsoft teria “imenso prazer” em construir um ‘data center’ em Portugal
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