
Economia circular: Desafios para um futuro sustentável
Este é o momento para repensar modelos tradicionais e abraçar uma nova era, na qual o crescimento económico esteja intrinsecamente ligado à preservação do ambiente.
A transição para uma economia circular é um dos maiores desafios para a sustentabilidade e a eficiência no uso dos recursos naturais. Num cenário em que o modelo tradicional de crescimento — baseado na extração, produção e deposição de resíduos — se mostra cada vez mais insustentável, Portugal enfrenta o duplo desafio de modernizar o seu sistema produtivo e reduzir o impacto ambiental, enquanto procura assegurar competitividade e crescimento económico. Historicamente, a economia europeia tem sido pautada por um modelo linear que resulta na exploração intensiva dos recursos naturais e na geração de elevados volumes de resíduos. Estudos indicam que a conceção de um produto determina cerca de 80% do seu impacto ambiental, evidenciando a necessidade de repensar os processos de design e produção. Em resposta, a União Europeia definiu, através do Plano de Ação para a Economia Circular, metas ambiciosas — como a duplicação da percentagem de materiais reciclados e reinseridos na economia até 2030 –, ainda que os progressos tenham sido lentos entre os Estados-Membros.
Dados recentes apontam para um cenário preocupante: enquanto a taxa de circularidade dos materiais na UE-27 alcançou 11,8% em 2023, Portugal registou apenas 2,8%, revelando uma dependência excessiva de matérias-primas virgens. Esse baixo índice é acompanhado por uma produtividade dos recursos que se situa em torno de 60% da média europeia, indicando que o país ainda não conseguiu dissociar de forma eficaz o crescimento económico do consumo de recursos naturais. Essa realidade impõe a necessidade de uma reestruturação profunda dos processos produtivos e de consumo, acompanhada de investimentos significativos em tecnologia, inovação e capacitação.
As pressões geopolíticas e o aumento dos preços das matérias-primas têm acelerado a urgência desta transformação, exigindo que os financiamentos, sobretudo os provenientes dos fundos europeus, sejam direcionados não só para a gestão de resíduos, mas para a prevenção e para o desenvolvimento de modelos de produção mais sustentáveis. Nesse contexto, o apoio às pequenas e médias empresas torna-se vital, uma vez que estas necessitam de instrumentos de formação e disseminação de conhecimento para incorporar práticas circulares nas suas operações.
Iniciativas pioneiras já demonstram caminhos possíveis para essa transição. Projetos em que a AEP-Associação Empresarial de Portugal participou ou ajudou a promover, como o EcoEconomy 4.0, realizado entre 2021 e 2022, envolveram mais de 600 empresas, promovendo uma avaliação rigorosa da maturidade do tecido empresarial nacional em termos de transição energética e reutilização de recursos. Paralelamente, o Azores EcoBlue e o Blue Project destacam o potencial da economia azul, ao transformar excedentes e resíduos marinhos em subprodutos inovadores para a indústria têxtil e de consumo. Adicionalmente, o projeto “Roteiros para a descarbonização no setor automóvel”, lançado pela Mobinov-Cluster Automóvel e da Mobilidade no ano passado, tem sido uma iniciativa de destaque, envolvendo mais de 30 empresas do setor. Este projeto visa orientar e acelerar a transição para processos produtivos menos emissivos, demonstrando como a convergência entre descarbonização e economia circular pode gerar benefícios significativos para a competitividade e sustentabilidade da indústria automóvel.
Ainda em fase de candidatura, o projeto Novo Rumo a Norte – Rumo à Sustentabilidade (em que a AEP-Associação Empresarial de Portugal também participa) visa capacitar as PME para a incorporação de práticas circulares, reforçando a importância de políticas públicas que incentivem a inovação e a responsabilidade ambiental. O futuro da gestão de resíduos e da economia circular em Portugal passa, assim, pela implementação de uma estratégia abrangente que combine incentivos financeiros, políticas robustas e uma mudança cultural que valorize o design inteligente e a prolongação do ciclo de vida dos produtos. A transformação não se limita a uma simples adaptação tecnológica, mas requer um compromisso coletivo, envolvendo legisladores, empresas e cidadãos na construção de um novo paradigma de crescimento económico, onde a preservação ambiental e a eficiência no uso dos recursos naturais caminhem lado a lado.
Em síntese, a transição para a economia circular é não só uma exigência ambiental, mas uma oportunidade estratégica para impulsionar a competitividade e a resiliência económica de Portugal. Investir em novas tecnologias, capacitar profissionais e fomentar uma cultura de sustentabilidade pode reduzir a dependência de recursos naturais e posicionar o país na vanguarda da inovação ecológica na Europa. Este é o momento para repensar modelos tradicionais e abraçar uma nova era, na qual o crescimento económico esteja intrinsecamente ligado à preservação do ambiente, transformando desafios em oportunidades para um futuro mais sustentável.
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