Mercados em queda livre: 6 perguntas e respostas para entender o caos nas bolsas
Donald Trump está no centro da tempestade financeira que tem assolado as bolsas, com os mercados a tremerem com receios de recessão e um avolumar da guerra comercial e também bélica.
Os mercados financeiros globais enfrentam quedas acentuadas nos principais índices bolsistas e deparam-se com sinais preocupantes de uma possível recessão nos EUA. E o elemento comum a estas situações é Donald Trump, presidente dos EUA, que através de políticas contraditórias tem gerado grande incerteza nos mercados.
Nesta conjuntura turbulenta da economia e das bolsas, os efeitos das tarifas comerciais avançadas por Trump contra vários países começam a fazer-se sentir de forma concreta na economia real. Setores como o automóvel, retalho e energia enfrentam custos crescentes e margens reduzidas, enquanto milhões de consumidores norte-americanos poderão em breve confrontar-se com aumentos significativos nas suas faturas energéticas.
Perante este cenário complexo e volátil, os investidores procuram sinais claros sobre o rumo da economia dos EUA, que esta quarta-feira tem como epicentro o relatório de inflação de fevereiro.
As causas da recente onda vermelha dos mercados, os riscos que enfrenta a economia dos EUA e a economia mundial, e o que podem esperar os investidores nos próximos meses em seis perguntas e seis respostas.
1) O que está a provocar a correção abrupta nos mercados?
Desde meados de fevereiro que os principais índices bolsistas norte-americanos e europeus acumulam quedas superiores a 5%, com o S&P 500 a registar a pior sequência de perdas desde 2020. Dois fatores centrais explicam esta turbulência: as políticas aduaneiras agressivas dos EUA e os receios de recessão, amplificados por indicadores económicos contraditórios.
A administração Trump relançou em fevereiro uma guerra comercial, impondo tarifas de 25% sobre produtos como aço, alumínio e componentes eletrónicos importados do Canadá, México, China e União Europeia. Esta medida gerou retaliações imediatas, como o aumento de tarifas sobre produtos agrícolas norte-americanos por parte do México, e injetou incerteza nas cadeias de abastecimento globais.
Paralelamente, o modelo GDPNow da Fed de Atlanta reviu em março a previsão de crescimento para o primeiro trimestre de 2025 de um crescimento de 2,3% para uma correção de 2,8%, que alarmou os investidores.
Nota: Se está a aceder através das apps, carregue aqui para abrir o gráfico.
2) Como é que as tarifas comerciais estão a afetar a economia global?
As tarifas funcionam como um imposto sobre o comércio internacional, elevando os preços de produtos importados e reduzindo a competitividade das exportações. A medida mais recente – a proposta de taxas recíprocas globais – ameaça desorganizar décadas de comércio multilateral.
Isso é visível nas contramedidas que a Comissão Europeia tomou contra as tarifas de 25% dos EUA sob as importações de aço e alumínio da União Europeia. “Uma vez que os EUA estão a aplicar direitos aduaneiros no valor de 28 mil milhões de dólares, estamos a responder com contramedidas no valor de 26 mil milhões de euros”, refere esta quarta-feira Ursula von der Leyen em comunicado.
Empresas dependentes de importações, como construtores de automóveis e retalhistas, têm alertado para margens mais estreitas e atrasos nas entregas que terão um forte impacto nas suas operações. Este movimento poderá aumentar os custos energéticos para milhões de famílias e empresas nos EUA, pressionando ainda mais a inflação na maioria economia do mundo.
3) Os EUA estão à beira de uma recessão?
A resposta divide economistas. O modelo GDPNow do Fed de Atlanta, que estima o crescimento do PIB em tempo real, projeta uma contração de 2,8% no primeiro trimestre, após uma revisão drástica face aos dados de janeiro e fevereiro.
Contudo, os especialistas alertam para a volatilidade deste indicador: “O GDPNow baseia-se em dados incompletos e pode ser enganador”, explica um relatório da Fisher Investments, que destaca que importações anómalas de ouro em janeiro distorceram temporariamente os resultados.
Outros indicadores, como a subida da taxa de desemprego para 4,1% em fevereiro e a correção de 6,6% do Índice de Confiança dos Consumidores no mês passado, sugerem fragilidades da maior economia do mundo.
Já o Fed de Nova Iorque mantém uma previsão de crescimento de 2,7% para o trimestre, baseando-se nos rendimentos das famílias e dos dados de emprego mais robustos.
4) Que outros fatores estão a pressionar os mercados?
Além das tarifas e da incerteza macroeconómica, há ainda três elementos adicionais que estão a alimentar a volatilidade dos mercados:
- Inflação persistente nos EUA: O índice de preços ao consumidor (IPC) nos EUA mantém-se acima da meta dos 2% e está a ser pressionado pela política comercial agressiva de Donald Trump que, com a subida das tarifas, pode puxar ainda mais a inflação nos EUA. Os dados da inflação de fevereiro serão conhecidos esta quarta-feira com grande expectativa pelos investidores. Os analistas estimam que a taxa de inflação homóloga tenha baixado ligeiramente de 3% em janeiro para 2,9% em fevereiro, e a inflação subjacente tenha minguado de 3,3% em janeiro para 3,2% em fevereiro, mantendo-se ainda assim acima do objetivo de 2% da Fed.
- Tensões geopolíticas: As tensões crescentes entre a China e Taiwan, mas sobretudo a redução de ajuda militar dos EUA à Ucrânia que estão a gerar novos contornos na guerra na Europa, aumentam o prémio de risco nas bolsas, particularmente nos mercados emergentes.
- Cortes de postos de trabalho: O mês de fevereiro trouxe uma onda de layoffs no mercado de trabalho norte-americano para níveis nunca vistos desde as duas últimas recessões, com a extinção de mais de 172 empregos. A liderar esta vaga de despedimentos esteve o Departamento de Eficiência Governamental (DOGE), liderado por Elon Musk, que conta até ao momento com a eliminação de 63,5 mil postos de trabalho em agências federais.
5) Como estão a reagir os mercados de obrigações?
O mercado obrigacionista está também a sinalizar um aumento da aversão ao risco por parte dos investidores norte-americanos: a yield das obrigações do Tesouro a 2 anos dos EUA, que acompanham de perto as expectativas das Fed Funds, chegou a cair na segunda-feira para valores abaixo dos 3,9% pela primeira vez desde outubro, antecipando com isso novos cortes nas taxas de juro pela Reserva Federal norte-americana (Fed).
No canto oposto têm negociado as obrigações do Tesouro dos países europeus, que em função da expectativa de avultados níveis de endividamento no horizonte potenciaram ainda mais as yields dos títulos de dívida.
Isso foi visível na semana passada com o disparo de 30 pontos base da taxa de juro das obrigações a 10 anos do governo alemão (Bunds) para 2,88% como resultado de um sell-off dos títulos por parte dos investidores. Foi a maior subida da yield das Bunds a 10 anos desde a reunificação da Alemanha em 1989.
6) O que se pode esperar para os próximos meses?
Tudo dependerá da evolução da guerra comercial e dos dados económicos. Se as tarifas recíprocas entrarem em vigor em abril, a inflação poderá acelerar, forçando a Fed a manter taxas altas.
Porém, se o crescimento se contrair, cortes de juros em 2025 tornar-se-ão inevitáveis, dado que ao contrário do BCE, que tem como única função o controlo dos preços, a Fed, para lá do controlo da inflação, tem também a função de garantir o crescimento da economia.
Para os investidores, ganha particular relevância monitorizar indicadores chave (emprego, inflação, confiança dos consumidores) e evitar exposição excessiva a setores sensíveis a tarifas, como a tecnologia e energia.
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