Pedro Ferraz da Costa: “A ambição da nossa classe política é que isto seja uma república socialista”

Pedro Ferraz da Costa, presidente do Conselho de Administração do Grupo Iberfar e ex-presidente da CIP durante 20 anos, é o 21º convidado do podcast E Se Corre Bem?.

Com uma visão crítica e pragmática sobre o estado do país, a economia e a cultura empresarial, Pedro Ferraz da Costa reflete sobre a falta de colaboração entre empresários, a resistência à mudança e os desafios de ser empresário em Portugal.

“Portugal tem um preconceito anti-empresarial muito forte”, afirma, destacando que até a palavra “empresário” é, por vezes, malvista. Para ele, os portugueses são muito individualistas, algo que experienciou na indústria farmacêutica quando tentou convencer colegas a investir conjuntamente em Espanha: “É difícil pôr as pessoas a colaborar, o que torna também muito difícil a sucessão nas empresas.”

Com 60 anos à frente de uma empresa centenária, Pedro Ferraz da Costa vê a sucessão como um desafio inevitável, mas acredita que a sua responsabilidade é garantir um futuro sustentável para a Iberfar: “A minha obrigação social é ter a empresa com um futuro risonho. Ou fica para os meus sucessores ou fica para quem a quiser comprar e garante a continuidade da atividade e os empregos das pessoas que lá estão.”

"Portugal tem uma relação má com a criação de emprego. As pessoas têm muito medo do futuro, mais do que deviam ter, e resistem à mudança, como se estivessem a defender a própria vida”

Pedro Ferraz da Costa, presidente do Conselho de Administração do Grupo Iberfar

Crítico da relação do país com o emprego e o crescimento empresarial, considera que “Portugal tem uma relação má com a criação de emprego. As pessoas têm muito medo do futuro, mais do que deviam ter, e resistem à mudança, como se estivessem a defender a própria vida.” Para ele, a falta de ambição das políticas económicas impede o crescimento das empresas médias: “A ambição da nossa classe política é que isto seja uma república socialista. Uns dizem isso abertamente, outros não. Mas, de facto, cada vez há mais empregos com ordenados parecidos e menos estímulos para progredir.”

Pedro Ferraz da Costa não poupa críticas à classe política, mas vê os eleitores como parte do problema: “Nós fazemos imensas críticas à nossa classe política, muitas delas justas. Mas a culpa é, em grande parte, dos eleitores, que no fundo têm o que querem. Há uma visão de curto prazo em relação a quase todos os assuntos e um grande medo do futuro.” E defende que “os políticos são mal pagos”, o que acaba por afastar os melhores.

Ao longo da conversa, aborda ainda temas como a evolução económica do país, a integração na União Europeia e os entraves ao empreendedorismo, com destaque para a ineficiência da justiça: “Os tribunais não funcionarem é um dos maiores obstáculos que nós temos. A justiça económica em Portugal é péssima e devia ser melhor. Acha que é natural uma pessoa ter de demorar cinco anos para cobrar uma dívida?”, questiona.

O setor da canábis também surge na discussão, já que a Iberfar investiu recentemente nessa área. Pedro Ferraz da Costa admite que sempre teve uma visão libertária e critica as barreiras que existiram à investigação: “Eu achava inacreditável que uma autoridade pudesse dizer que era impossível estudar os benefícios médicos da canábis.” Considera que há “muito preconceito” na comunidade médica e que a formação universitária ainda não acompanha a evolução do tema. No entanto, acredita que Portugal tem uma legislação avançada devido à experiência na descriminalização das drogas leves.

Sobre o futuro da Iberfar, defende que a inovação é essencial para a longevidade de qualquer empresa: “O que não se renova, morre. Mal de nós se estivéssemos a fazer as coisas que fazíamos há 30 anos. Não se pode ter horror à mudança”, partilha.

Questionado sobre que conselho daria a quem tem uma ideia de negócio, é direto: “Se puder, vá trabalhar para uma empresa parecida e aprenda à custa dos outros o que se pode e não se pode fazer. E tenha a ideia mais afinada quando arrancar com a sua própria.” E, acima de tudo, “coragem”, porque considera que a liberdade de expressão é um dos valores mais importantes.

Este podcast está disponível no Spotify e na Apple Podcasts. Uma iniciativa do ECO, que Diogo Agostinho, COO do ECO, procura trazer histórias que inspirem pessoas a arriscar, a terem a coragem de tomar decisões e acreditarem nas suas capacidades. Com o apoio do Doutor Finanças e da Nissan.

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