Ataques israelitas fazem mais de 300 mortos na Faixa de Gaza. ONU acusa Israel de “crimes de guerra”
O ministro da Defesa israelita, Israel Katz, anunciou que o país "retomou os combates" na Faixa de Gaza até que todos os reféns ainda retidos pelo Hamas sejam libertados.
Mais de 330 pessoas morreram esta terça-feira devido a ataques do exército israelita contra a Faixa de Gaza, disse o Ministério da Saúde de Gaza, controlado pelo movimento islamita palestiniano Hamas.
Um responsável do ministério, Mohammed Zaqout, disse à agência de notícias France–Presse que foram registados “mais de 330 mortes, a maioria crianças e mulheres palestinianas, e centenas de feridos, dezenas dos quais estão em estado crítico”.
De acordo com a agência de notícias palestiniana Sanad, ligada ao Hamas, dezenas de pessoas foram mortas em ataques na cidade de Khan Yunis, incluindo membros de duas famílias que estavam nas suas casas quando foram bombardeadas pelo exército israelita.
Além dos ataques aéreos, foram também registados disparos de tanques na mesma cidade, no sul da Faixa de Gaza, indica a mesma fonte. Outras áreas visadas pelas tropas israelitas incluem o sul e o leste de Rafah, referiu a Sanad, bem como a Cidade de Gaza, a norte.
Relatos dos meios de comunicação palestinianos mencionam o vice-diretor do Ministério do Interior do Hamas, general Mahmoud Abu Watfa, como uma das vítimas mortais.
Após os ataques, o ministro da Defesa israelita, Israel Katz, anunciou que o país “retomou os combates” na Faixa de Gaza até que todos os reféns ainda retidos pelo Hamas sejam libertados.
O primeiro-ministro Benjamin Netanyahu disse que ordenou os ataques devido à falta de progressos nas negociações em curso para prolongar o cessar-fogo.
“Isto aconteceu depois de o Hamas se ter recusado repetidamente a libertar os nossos reféns e ter rejeitado todas as ofertas que recebeu do enviado presidencial dos EUA, Steve Witkoff, e dos mediadores”, afirmou o gabinete de Netanyahu.
Um dirigente do Hamas disse que a decisão do primeiro-ministro israelita equivale a uma “sentença de morte” para os restantes reféns. Izzat al-Risheq acusou ainda Netanyahu de lançar os ataques para tentar salvar a coligação governamental de extrema-direita e apelou aos mediadores para “revelarem os factos” sobre quem quebrou a trégua.
“Netanyahu decidiu retomar a guerra de extermínio, que vê como uma tábua de salvação para as crises internas” que Israel atravessa, disse al-Rishq.
No domingo, o procurador-geral israelita, Gali Baharav-Miara, rejeitou a decisão, tomada por Netanyahu, de demitir o diretor dos serviços secretos internos (Shin Bet), Ronen Bar.
Isto três semanas depois de a Procuradoria israelita ter ordenado ao Shin Bet que investigasse alegadas ligações entre vários funcionários do gabinete do primeiro-ministro e autoridades do Qatar, num escândalo conhecido como “Qatargate”.
ONU acusa Israel de crimes de guerra e exige fim da colonização na Cisjordânia ocupada
Também esta terça-feira, o alto-comissário das Nações Unidas para os Direitos Humanos, Volker Türk, acusou Israel de cometer “crimes de guerra” e exigiu o fim imediato da colonização na Cisjordânia ocupada e a retirada de todos os colonos. “A transferência por Israel de partes da sua própria população civil para o território que ocupa constitui um crime de guerra”, acusou, em comunicado.
“Israel deve respeitar a decisão do Tribunal Internacional de Justiça e cessar imediatamente todas as novas atividades de colonização, retirar todos os colonos do território palestiniano ocupado e reparar os danos causados por décadas de atividades ilegais de colonização”, acrescentou Volker Turk.
A Cisjordânia é um território palestiniano ocupado por Israel desde 1967.
O responsável da ONU falava a propósito da publicação de um novo relatório dos seus serviços dedicado as atividades na Cisjordânia ocupada e Jerusalém Oriental no período de 31 de outubro de 2023 a 01 de novembro de 2024.
Desde então, e com o estabelecimento de uma trégua na guerra entre Israel e o grupo islamita Hamas, a 19 de janeiro, o exército israelita lançou uma grande operação na Cisjordânia, onde a violência aumentou consideravelmente desde 07 de outubro – data do ataque do movimento palestiniano ao território israelita, que deu origem à guerra – maioritariamente perpetrada por colonos, por vezes auxiliados pelas forças de segurança israelitas.
Segundo uma contagem do Alto Comissariado para os Direitos Humanos, morreram 612 palestinianos durante o ano abrangido pelo relatório às mãos das forças de segurança e de colonos, um número muito superior aos 24 israelitas mortos registados no mesmo período.
“A política de colonatos de Israel, os seus atos de anexação e a legislação e medidas discriminatórias envolvidas no processo violam o direito internacional, tal como confirmado pelo Tribunal Internacional de Justiça, e minam o direito palestiniano à autodeterminação”, sublinhou Turk.
De acordo com o relatório, os 12 meses em análise marcam “uma expansão significativa dos colonatos israelitas na Cisjordânia ocupada, incluindo em Jerusalém Oriental”.
Citando organizações não-governamentais (ONG) israelitas, o alto-comissário estima que foram tomadas medidas para implementar a construção de mais de 20.000 unidades habitacionais em colonatos israelitas novos só em Jerusalém Oriental, enquanto 214 propriedades e estruturas palestinianas foram demolidas naquela parte da cidade.
Estão a ser planeadas mais de 10.300 unidades habitacionais dentro de colonatos israelitas existentes no resto da Cisjordânia e estabelecidos 49 novos postos avançados israelitas, “um número sem precedentes”, sublinha ainda a ONU.
“A linha entre a violência dos colonos e a violência do Estado tornou-se ténue, permitindo um aumento da violência e da impunidade”, acusa ainda o relatório, enfatizando os esforços de Israel para militarizar ainda mais o movimento dos colonos.
Entre 31 de outubro de 2023 e 01 de novembro de 2024, o Alto Comissariado contabilizou 1.779 estruturas palestinianas demolidas na Cisjordânia “por falta de licenças de construção, que são quase impossíveis de obter pelos palestinianos”, resultando na deslocação forçada de 4.527 pessoas.
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