Fed vai prolongar pausa nos juros com Powell a minimizar receios de recessão
A imprevisibilidade das políticas de Trump está a esfriar a economia dos EUA e a pressionar a Fed a agir com cortes nos juros no segundo semestre. Powell deverá reiterar, contudo, que não tem pressa.
O Comité Federal de Mercado Aberto (FOMC) da Reserva Federal dos EUA (Fed) dos Estados Unidos vai manter esta quarta-feira inalteradas as taxas de juros, prolongando uma pausa iniciada em janeiro, mas cuja duração está dependente do impacto da imprevisível política económica da administração Trump.
Segundo o site CME FedWatch Tool, que monitoriza a negociação dos futuros das taxas de juro, a probabilidade de a Fed manter as Federal Funds Rates no intervalo atual de 4,25-4,50% é de 99%.
Após cortes num total de 100 pontos base (pb) na reta final de 2024, a Fed iniciou uma pausa na reunião de 29 de janeiro com o chairman Jerome Powell a dizer que o banco central “não precisa de ter pressa em ajustar a taxa de política monetária” e que os riscos para a economia estão equilibrados.
Powell sublinhou na altura que “não se sabe como as tarifas [aduaneiras anunciadas por Donald Trump] serão transmitidas aos consumidores” e que “o leque de possibilidades de aplicação dos direitos aduaneiros é muito, muito vasto”.
Essa imprevisibilidade, tanto nos impactos como nas opções, continua. E até se intensificou nas últimas semanas.
“O sentimento do mercado relativamente às perspetivas económicas dos EUA em 2025 mudou no início do ano, dada a incerteza da política comercial e fiscal da nova administração Trump”, referiu Michael Krautzberger, diretor de investimento global em obrigações, Allianz Global Investors (GI).
“Os dados económicos dos EUA arrefeceram, com as perspetivas para a procura dos consumidores e o sentimento empresarial ensombrados pela política do governo dos EUA”, recordou, sublinhando que os mercados acionistas e de crédito dos EUA estão a desanimar sob o peso desta imprevisibilidade política.
No início deste ano, os preços nos mercados sinalizavam apenas um corte pela Fed nas taxas de juro de curto prazo, mas nas últimas semanas, os preços avançaram para três cortes nas taxas, salientou Krautzberger.
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Recessão no horizonte?
Os analistas do banco de investimento neerlandês ING recordam que no início do ano havia a expectativa de que as políticas de Trump baseadas em cortes de impostos e de regulação iriam acelerar o crescimento. Em conjunção com maiores controlos da imigração e uma inflação impulsionadas pelas tarifas, a Fed teria pouco espaço para cortar as taxas de juro.
“No entanto, verifica-se que as prioridades iniciais do Presidente Trump são os cortes na despesa pública e o protecionismo comercial. Isto aumentou as preocupações sobre a redução de postos de trabalho, não só para os trabalhadores do governo federal, mas também potencialmente entre milhões de contratantes do setor privado empregados no setor governamental”, adiantaram
A utilização de direitos aduaneiros, que pode aumentar significativamente à medida que o Presidente Trump procura relocalizar a atividade industrial, está a suscitar preocupações quanto a potenciais aumentos de preços que afetam o poder de compra dos consumidores e o receio entre as empresas de que os custos mais elevados dos fatores de produção possam reduzir as margens de lucro, sublinharam os analistas do ING.
As tarifas recíprocas dos governos estrangeiros e os boicotes dos consumidores agravariam os problemas dos exportadores dos EUA. “O resultado tem sido um sentimento mais fraco e números de gastos mais fracos”.
O ING reconhece que o uso da palavra “recessão” está a crescer nas discussões sobre a economia americana, mas sublinha que esse cenário não faz parte das projeções do banco e que Powell irá provavelmente minimizar esses receios na conferência de imprensa após a reunião, até porque num discurso a 7 de março, afirmou que apesar dos elevados níveis de incerteza, a economia continua em bom estado.
“Por conseguinte, esperamos que a Fed mantenha, em grande medida, as suas previsões de dezembro e indique que o seu cenário de base continua a ser de dois cortes de 25 pontos base nas taxas este ano”, concluíram os analistas do ING.
Essa visão é partilhada pelos mercados. Segundo o CME Fedwatch, a probabilidade de as Federal Funds Rates terminarem o ano no intervalo de 3.75-4.00% — ou seja, após dois cortes — é de cerca de 33%.
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