Inteligência Artificial e a nova era da fraude

  • Nuno Pereira
  • 15 Abril 2025

A fraude na gestão de despesas sempre existiu (até em papel), mas agora está mais sofisticada. Em poucos segundos, qualquer pessoa pode dar instruções ao ChatGPT e gerar um recibo falso.

Desde o lançamento da nova versão do ChatGPT, que trouxe consigo capacidades fora de série para gerar imagens, temos assistido a várias tendências que inundaram os feeds das redes sociais: transformar fotografias em ilustrações com o estilo dos Studio Ghibli, criar figuras de ação ultra-personalizadas… A imaginação é mesmo o limite.

Porém, há um outro lado que tem passado despercebido, mas que constitui um risco real com consequências prejudiciais para as empresas: o potencial da Inteligência Artificial (IA) generativa para democratizar a fraude.

Uma das áreas onde esta ameaça se materializa de forma premente é a gestão de despesas. A fraude na gestão de despesas sempre existiu (até em papel), mas agora está mais sofisticada do que nunca, pois já nem é preciso ter conhecimentos de edição de imagem. Em poucos segundos, qualquer pessoa pode dar instruções ao ChatGPT e gerar um recibo falso com todas as informações que tipicamente constam de um recibo verdadeiro e com um grau de realismo que engana mesmo os mais atentos.

Num mundo em que a IA pode manipular faturas para inflacionar os valores ou gerar provas de um gasto que nunca aconteceu, utilizar métodos tradicionais para gerir despesas é um convite à fraude e compromete a sustentabilidade financeira das empresas. E este não é um problema do futuro, é um problema do presente.

A maioria das empresas continua a depender de processos obsoletos para validar despesas — ficheiros de Excel ou sistemas que, embora digitais, suportam uma validação ainda manual —, o que as deixa particularmente vulneráveis a esta nova realidade em que é tão fácil falsificar recibos e fazê-los parecer fidedignos. Num mundo em que a IA pode manipular faturas para inflacionar os valores ou gerar provas de um gasto que nunca aconteceu, utilizar métodos tradicionais para gerir despesas é um convite à fraude e compromete a sustentabilidade financeira das empresas. E este não é um problema do futuro, é um problema do presente.

Contudo, se a IA está na origem deste perigo, também pode — e deve — ser parte da solução. Aliás, a forma mais eficaz de combater desafios criados pela IA é mesmo com IA. Ferramentas de validação alimentadas por IA conseguem identificar padrões típicos de documentos falsificados nem sempre passíveis de serem detetados pelo olho humano. Para isso, analisam elementos visuais como a luz e a estrutura gráfica (formato, disposição do texto, espaçamento, alinhamento e tipo de letra), combinados com metadados do ficheiro (são como migalhas que vêm com a imagem e dão pistas sobre a sua proveniência).

No caso português, a informação contida no QR Code da Autoridade Tributária presente em todas as faturas é um excelente ponto de partida para confirmar a veracidade das mesmas. De notar que esta lógica de validação com IA também pode ser usada para conferir o cumprimento das políticas de despesas da empresa (orçamentos pré-estabelecidos, gastos elegíveis, entre outros).

Sistemas alavancados em IA e integrados com bancos de dados oficiais, que autentiquem as despesas automaticamente e cruzem informações em tempo real, podem fazer toda a diferença, criando uma camada de segurança mais robusta e reduzindo as oportunidades de fraude, sem perder tempo nem eficiência.

Uma pessoa teria sérias dificuldades em fazer uma verificação multifatorial deste género, especialmente quando se processa dezenas, centenas ou até milhares de despesas por mês. Não é viável. A IA é muito mais ágil a reconhecer padrões e a fazer comparações. Por esse motivo, sistemas alavancados em IA e integrados com bancos de dados oficiais, que autentiquem as despesas automaticamente e cruzem informações em tempo real, podem fazer toda a diferença, criando uma camada de segurança mais robusta e reduzindo as oportunidades de fraude, sem perder tempo nem eficiência.

Por si só, a IA não é intrinsecamente boa nem má. É uma ferramenta. E, como qualquer ferramenta, o seu impacto depende do modo como é utilizada. Precisamos de acompanhar esta evolução com um olhar atento e crítico, procurando o equilíbrio entre explorar as suas potencialidades e salvaguardar os riscos.

A tecnologia está a mudar as regras do jogo no que diz respeito à fraude, mas cabe às empresas preparar o terreno, adaptando-se e encontrando novos mecanismos que garantam integridade e controlo financeiro.

  • Nuno Pereira
  • Cofundador e CEO da Paynest

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