Liberais vencem eleições no Canadá. Mark Carney fala em “traição” dos EUA
"A nossa antiga relação com os EUA acabou", declarou Mark Carney, acusando o presidente norte-americano Donald Trump de estar "a tentar destruir para controlar" o país vizinho.
O Partido Liberal, do atual primeiro-ministro Mark Carney, venceu as eleições legislativas do Canadá, de acordo com projeções dos meios de comunicação locais, após uma campanha centrada nas ameaças feitas pelos Estados Unidos.
As projeções da votação de segunda-feira apontam para que o chefe do Governo obtenha uma maior fatia dos 343 lugares do parlamento do que os conservadores.
Mas ainda não é claro se os liberais irão conseguir uma maioria, o que lhes permitiria aprovar legislação sem precisar de ajuda.
As projeções dão ao Partido Liberal pelo menos 155 lugares, contra 119 do Partido Conservador, seguido pelo Bloco do Quebeque (21 lugares) e pelo Novo Partido Democrático, com apenas sete lugares.
No entanto, à medida que a contagem dos votos avança lentamente num vasto país, que abrange seis fusos horários, até agora só foram formalmente atribuídos 40 deputados para os liberais contra 39 para os conservadores.
Quase 29 milhões dos 41 milhões de habitantes do Canadá foram chamados às urnas neste vasto país do bloco G7. Um recorde de 7,3 milhões de pessoas votaram antecipadamente.
Há apenas alguns meses, o caminho parecia claro para o rival Pierre Poilievre conduzir o Partido Conservador de volta ao poder após dez anos sob o comando do liberal Justin Trudeau.
Mas o regresso de Donald Trump à Casa Branca e a sua ofensiva sem precedentes contra o Canadá, com tarifas e ameaças de anexação, mudaram a situação.
Na segunda-feira, numa mensagem publicada na sua rede social Truth Social, Trump fez votos de “boa sorte ao grande povo do Canadá”. Dando a entender que os eleitores canadianos o deveriam estar a escolher a si, apelou à eleição do “homem que tem força e sabedoria” para “cortar os impostos para metade”, no caso de o Canadá se tornar “o 51º estado dos Estados Unidos da América”.
“Apenas coisas positivas, sem coisas negativas”, acrescentou Trump, defendendo que os canadianos devem optar por ser anexados por Washington. “Os EUA não podem continuar a subsidiar o Canadá com centenas de milhares de milhões de dólares por ano, como os que gastámos no passado”, escreveu Trump.
Desde que assumiu o cargo, em janeiro deste ano, Trump tem declarado repetidamente o seu interesse em anexar o Canadá, utilizando inclusive a “força económica” dos EUA.
Em resposta, tanto Carney como Poilievre rejeitaram a intromissão de Trump nas legislativas e frisaram que a decisão cabe aos eleitores. “Isto é o Canadá e nós decidimos o que cá se passa”, afirmou Carney, numa mensagem divulgada nas redes sociais em que pediu aos cidadãos para se apresentarem “unidos e fortes”.
Poilievre também se dirigiu a Trump nas redes sociais: “Não se meta nas nossas eleições”, exigiu. “As únicas pessoas que decidirão sobre o futuro do Canadá são os canadianos quando votarem”, salientou.
“Canadá nunca deve esquecer traição” dos EUA, diz vencedor das legislativas
Entretanto, o primeiro-ministro canadiano e vencedor das eleições afirmou que o país nunca deve esquecer o que descreveu como uma traição dos Estados Unidos, durante o discurso de vitória nas eleições legislativas, perante apoiantes, na capital Otava.
“A nossa antiga relação com os Estados Unidos acabou”, porque o Presidente norte-americano Donald Trump “está a tentar destruir-nos para nos controlar”, declarou ainda Mark Carney, pedindo que o Canadá se una para os “meses difíceis que se avizinham, que exigirão sacrifícios”.
Trump “quer separar-nos, mas isso nunca vai acontecer”, proclamou Carney. “Os Estados Unidos querem a nossa terra, os nossos recursos, a nossa água, o nosso país, e estas não são ameaças ocas”, acrescentou.
“Estamos perante uma nova realidade; superámos o choque da traição norte-americana. Mas nunca devemos esquecer a lição: precisamos de cuidar de nós e, acima de tudo, de cuidar uns dos outros”, disse Carney.
O político anunciou que se sentará para negociar com Trump como fazem “duas nações soberanas”, mas acrescentou que o Canadá “tem muitas, muitas outras opções para além dos EUA para alcançar a prosperidade”.
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