Bombeiros só foram colocados em alerta às 20 horas de segunda-feira. SIRESP voltou a falhar

"Precisamos de um sistema mais resiliente de comunicações". António Nunes, presidente da Liga dos Bombeiros Portugueses, aponta falhas na rede SIRESP e na colocação dos bombeiros em alerta.

Um dos principais meios do Estado para emergências, os bombeiros, estiveram até às 20 horas de segunda-feira sem indicações de atuação em caso de crise, assegura ao ECO o presidente da Liga dos Bombeiros Portugueses, associação que junta mais de 400 corporações de bombeiros de norte a sul do país. A indicação de alerta laranja só chegou por volta dessa hora, cerca de 80 minutos antes de o primeiro-ministro informar todo o país da situação do estado declarado numa Resolução do Conselho de Ministros. Já no caso do SIRESP, houve falhas, comprovando a necessidade de reforçar o sistema, afirma António Nunes.

“O alerta para a crise energética apareceu às 20 horas. Tudo o que se passou até às 20 horas foi quase rotina normal”, diz António Nunes ao ECO, assegurando: “nós não tivemos mais informações” que o público em geral.

No que concerne ao SIRESP, o Sistema Integrado de Redes de Emergência e Segurança de Portugal, alvo de fortes críticas aquando dos trágicos incêndios de 2017, “houve sítios com falências do sistema”, aponta António Nunes. Isto, na sua opinião, “levará a concluir que não é uma rede tão resiliente quanto o que gostaríamos de ter. Acima de tudo, estamos sempre muito preocupados com situações de incêndios florestais, e esquecemos que podemos vir a ter uma crise resultante de ataque cibernético – que não estou a dizer que foi o caso –, que resultaria numa situação como esta”.

O alerta para a crise energética apareceu às 20 horas. Tudo o que se passou até às 20 horas foi quase rotina normal.

António Nunes

Presidente da Liga dos Bombeiros Portugueses

Perante a quebra deste serviço criado como ‘autoestrada’ de comunicações entre os serviços de emergência, a capacidade de contacto e resposta ficou relegada para o serviço de telemóvel, o qual enfrentou forte instabilidade e muitos momentos de inoperância ao longo do dia. António Nunes fala de “um alerta”. “Precisamos de um sistema mais resiliente de comunicações, que não dependa de comunicações civis. Os operadores fizeram um esforço, mas têm as suas debilidades, as redes não são estruturadas para situações de emergência nacional. Para isso, existe SIRESP e outras redes que não devem ser abandonadas”.

Esta referência vai desembocar na crítica à descontinuação imposta do uso de sistemas como o rádio de banda baixa dos bombeiros, enquanto a rede de rádio de banda alta “está muito danificada”, lamenta. “Por isso temos de ter um SIRESP muito forte”, insiste.

Precisamos de um sistema mais resiliente de comunicações, que não dependa de comunicações civis. Os operadores fizeram um esforço, mas têm as suas debilidades, as redes não são estruturadas para situações de emergência nacional. Para isso, existe SIRESP e outras redes que não devem ser abandonadas.

António Nunes

Presidente da Liga dos Bombeiros Portugueses

António Nunes assegura que “muitos municípios” ativaram os planos de emergência locais “por volta das quatro, cinco da tarde”, mas a nível nacional não foi ativado qualquer plano de contingência. Neste particular, explica o líder dos bombeiros, teria de ser a Autoridade Nacional de Proteção Civil a tomar a iniciativa, em razão da forma como está organizado o sistema. O líder dos bombeiros aproveita para recuperar uma reivindicação destes: “Temos dito que precisamos de um comando nacional dos bombeiros, de separar o comando da Proteção Civil”.

A referência de António Nunes à chegada da informação oficial às 20 horas não coincide com a Resolução do Conselho de Ministros (CM) publicada em Diário da República na segunda-feira.

Na fita do tempo do dia do apagão, Luís Montenegro falou pela primeira vez da situação às 15h15, em declarações à comunicação social na residência oficial, em São Bento – duas horas após o início do CM. O primeiro-ministro mencionou não ser “um bom caminho estarmos a acelerar consumos que não são necessários”, referiu “dificuldades relativamente ao abastecimento de combustíveis” e pediu “atenção redobrada enquanto todo o sistema não for restabelecido”, sem nunca referir medidas de crise energética.

Só mais tarde, pelas 21h20 horas, na informação ao país transmitida pelas televisões e rádios, o primeiro-ministro referiu a situação de crise energética.

Luís Montenegro indicou que o Governo tomou “conhecimento, hoje, pelas 11h33 de um apagão generalizado na rede nacional elétrica”, apesar de a Resolução do Conselho de Ministros que declara a situação de crise energética apontar as 11h30 da própria segunda-feira, três minutos antes de o Executivo saber do apagão, como o início do período em que esta declaração entrou em vigor.

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