
Pedro Nuno, para que viemos, afinal, a eleições?
A pouco mais de quinze dias das eleições, ficaria bastante surpreendido com uma derrota da AD e começo a acreditar que uma maioria AD+IL ou pelo menos um governo mais estável pode ser possível.
Escrevo este texto no pós-debate desta quarta-feira. Se, por um lado, penso que poucos terão sido os indecisos a decidir-se com este debate, por outro, parece-me que Montenegro saiu da Nova SBE como o vencedor do dia por duas razões. A primeira é que, efetivamente, o Primeiro-Ministro saiu-se melhor no debate, até em temas onde poderia ser mais difícil, como na saúde. A segunda é o facto de Pedro Nuno Santos não só precisar de ganhar como de golear e, francamente, não foi isso que aconteceu.
Como aqui escrevi no seguimento da Moção de Confiança, este não era ainda o momento para o líder do PS ir a eleições. O Governo da AD era popular, ainda vivia algum estado de graça e acima de tudo, a memória de 8 anos de PS acabados em desgraça ainda é demasiado fresca. O tema da Spinumviva caiu em desuso e a oposição ficou com menos por onde pegar.
Em Portugal, a posição de incumbente é fortíssima, aliás é quase infalível. Apenas dois Primeiros-Ministros perderam estando no cargo: Pedro Santana Lopes, em funções há uns meros meses, e José Sócrates, na sequência da intervenção externa. As circunstâncias não são de todo similares e o mais previsível é que se mantenha a tendência.
Neste debate era claro para todos que era Pedro Nuno quem tinha de vir à ofensiva, está em clara desvantagem, mas no trade-off entre a postura de ‘tipo porreiro’ que tem tentado manter e esta necessidade de atacar, tornou-se demasiado defensivo, não conseguindo na maioria do debate impor a sua agenda. Foram poucas as medidas que articulou para além do IVA 0, da redução para 6% na eletricidade e a tentativa de colar o bicho-papão da privatização das pensões não resultou. Ao longo do debate foram mais as vezes que se viu obrigado a discutir as conquistas do governo ou a narrativa da AD, do que as suas propostas.
Contudo, numas eleições que os eleitores não queriam, o momento mais revelador do debate é quando Pedro Nuno, no contexto da discussão da empresa de Montenegro, abre portas a que não haja CPI na próxima legislatura. A posição já vinha a ser ensaiada nos últimos dias, mas é justo que a 18 de maio os portugueses lhe perguntem para que é que viemos afinal a eleições. Se sem grandes explicações complementares, afinal a CPI pode não ser necessária, então as eleições foram vontade de parte a parte.
Os temas da saúde e da habitação foram espelhos interessantes do debate como um todo. Após apenas 11 meses de governo seria delirante culpar o governo de todos os males nestas duas áreas. Mesmo na saúde, onde consensualmente o rumo tem sido mais titubeante, Pedro Nuno mostrou-se nervoso, não se conseguindo afastar do legado de 8 anos de governação Costa, culminando num surpreendente Fernando Araújo candidato a Presidente da República apoiado pela AD.
Creio, ainda, que o estilo de debate demasiado mecânico e nada natural não beneficiou o esclarecimento cabal das matérias discutidas, acabando por não se debater 4 matérias centrais de uma próxima legislatura: a educação, a reforma do Estado, a realidade geopolítica e de comércio internacional e a imigração. Por isto digo que tenho dúvidas que os indecisos tenham escolhido em quem votar.
As sondagens têm sido relativamente consistentes na vitória da AD e as com maior amostra têm sido as mais claras. Mais relevante do que isto, talvez, é a análise pessoal dos candidatos que as sondagens fazem, onde Montenegro continuamente tem melhores avaliações que o líder do PS. Ser oposição não é fácil, talvez seja a tarefa mais ingrata da política portuguesa, mas foi também Pedro Nuno quem antecipou estas eleições, precipitando-se para esta posição.
A pouco mais de quinze dias das eleições, ficaria bastante surpreendido com uma derrota da AD e começo a acreditar que uma maioria AD+IL ou pelo menos um governo mais estável pode ser possível. No entanto, ainda nada está decidido: os indecisos ainda são alguns – onde me incluo – e acredito que as sondagens mais próximas de dia 18 serão preponderantes para uma hipotética mobilização que proporcione um resultado claro. Se no fim disto não houver um governo estável, não houver uma CPI, nem uma proposta sólida para o futuro, então talvez os eleitores tenham mesmo razão em perguntar: para que viemos, afinal, a eleições?
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