7 formas de maximizar o reembolso do IRS (mesmo sendo menor)
O reembolso do IRS emagreceu, mas não a sua importância: cada euro conta. Vai deixá-lo evaporar ou transformá-lo num aliado das suas finanças?
Este ano, o reembolso do IRS chega mais magro à conta bancária das famílias. Para muitos, a surpresa foi amarga: menos dinheiro para equilibrar as contas ou até a obrigação de pagar ao Estado. Mas, se o valor a receber é agora menor do que antes, a importância de cada euro ganha ainda mais relevância. Nunca foi tão fundamental fazer escolhas inteligentes sobre o destino deste montante extra.
Nas contas das famílias, mesmo com menos margem de manobra este ano, há formas de transformar o reembolso do IRS num verdadeiro aliado das finanças familiares. Seja para aliviar encargos, investir no futuro ou pagar impostos, pequenas decisões podem ter um impacto significativo no orçamento familiar ao longo do ano. Descubra sete estratégias para dar ao seu reembolso a utilidade que ele merece.
1) Pagamento de créditos pessoais e dívidas do cartão de crédito
As taxas de juro do crédito ao consumo continuam elevadas, representando um verdadeiro fardo para as finanças familiares. Para o segundo trimestre deste ano, a taxa máxima definida pelo Banco de Portugal para cartões de crédito e linhas de crédito foi fixada em 19,3%, um aumento de 0,1 pontos percentuais face ao trimestre anterior. Destinar o reembolso do IRS para liquidar estes créditos de alto custo é provavelmente a aplicação mais rentável que pode fazer.
Mesmo no crédito pessoal, as taxas continuam significativas elevadas, variando entre os 9,2% para créditos com finalidades específicas (educação, saúde ou energias renováveis) e 16% para créditos sem finalidade específica ou para consolidação de dívidas.
2) Amortização do crédito à habitação
Se já tem os créditos de curto prazo controlados, considere amortizar o seu empréstimo da casa. Num crédito à habitação de 100 mil euros a 30 anos, indexado à Euribor a 6 meses com um spread de 1%, cada 1.000 euros de amortização reduz a sua prestação em cerca de 51 euros por ano, ou seja, cerca de 1% por mês face à atual prestação — e até ao final do ano ainda beneficia a isenção da comissão de amortização antecipada (apenas válido para quem tem empréstimos à taxa variável).
É certo que o facto de as taxas de juro estarem em movimento de queda poderá afastar esta solução do horizonte, mas o impacto da amortização do crédito da casa continua a ser um dos melhores investimentos que as famílias podem fazer, considerando o efeito dessas amortizações no longo prazo.
Por exemplo, essa mesma amortização irá traduzir-se em menos 1.550 euros a menos no final do contrato do crédito à habitação. Não há nada no mercado capaz de oferecer, com tanta segurança, ganhos desta ordem. Além disso, em cima desta poupança, beneficiará também de uma poupança considerável com o seguro de vida, já que o valor em dívida será menor.
3) Investir para o longo prazo
Outro destino para o dinheiro do reembolso do IRS poderá passar por ser usado como um ponto de partida para construir o seu património. Investir, mesmo que seja um valor modesto, pode ser o passo decisivo para garantir maior estabilidade financeira no futuro. Ao contrário dos tradicionais depósitos a prazo, que atualmente oferecem rendibilidades muito baixas, investir em instrumentos como fundos de investimento ou ações tem potencial para gerar retornos muito superiores no longo prazo, sobretudo se esta decisão for alavancada numa estratégia de reforços regulares e disciplinares.
Nos últimos 125 anos, as ações têm consistentemente superado todos os outros ativos financeiros. Segundo um estudo elaborado pelos académicos Elroy Dimson, Paul Marsh e Mike Staunton em parceria com o UBS, com base na análise de 90 mercados mundiais, incluindo Portugal, as ações apresentaram uma rendibilidade real anualizada de 5,2% desde 1900 face a um desempenho de apenas 1,7% das obrigações e 0,5% dos títulos de dívida de curto prazo. Mesmo reduzido o período de análise para as últimas duas décadas, a conclusão é ainda mais marcante, com as ações a contabilizarem uma rendibilidade real anualizada de 5,2% entre 2005 e 2024, face uma performance de 1,1% das obrigações e de -1% dos títulos de dívida de curto prazo.
Se está a pensar em investir uma pequena parte do seu reembolso de IRS, lembre-se que o tempo é o seu maior aliado. Uma forma de tirar partido do mercado acionista poderá ser pela porta dos fundos de investimento e dos fundos cotados, pois permitem um investimento diversificado de forma imediata por um baixo custo.
4) Anuidade do colégio dos miúdos
Para famílias com filhos em instituições de ensino privado, o pagamento antecipado da anuidade escolar pode representar uma poupança considerável. Em instituições como o St. Peter’s School, em Palmela, a redução chega a 1,5% para pagamentos feitos até 1 de setembro, enquanto no Colégio Ribadouro, no Porto, o pagamento antecipado da anuidade até agosto garante um desconto de 3%, e no caso do colégio Paulo VI, em Gondomar, o pagamento da propina ou quaisquer outros serviços em modo trimestral beneficiam de um desconto de 2% e a modalidade de pagamento anual tem um desconto de 5%.
Com base numa mensalidade de 410,95 euros do 1.º ciclo no colégio Paulo VI, por exemplo, isso significa uma poupança anual de 206 euros — valores que, reinvestidos, podem cobrir parte das despesas com material escolar ou atividades extracurriculares.
Um pagamento antecipado para o ano letivo 2025/2026 não só garante um desconto como também protege a família de eventuais aumentos de preços ao longo do ano.
5) Obras em casa (a começar pela casa de banho)
As remodelações de casas de banho estão entre as intervenções que mais valorizam um imóvel. Um serviço de remodelação de casa de banho pode custar entre 1.500 e 15.000 euros, dependendo da complexidade do projeto e da área.
Utilizar o reembolso do IRS para financiar pelo menos parte dessa obra é um investimento com potenciais de grandes ganhos. Não só no presente, porque terá melhores condições e maior conforto, mas porque valorizar o imóvel. Segundo vários especialistas, é provavelmente a divisão da casa onde o retorno do investimento é mais garantido. Entre os trabalhos mais comuns e seus custos aproximados estão a substituição de banheira por base de duche (750 euros a 2.000 euros ou a aplicação de cerâmicos no pavimento e paredes (cerca de 35 euros por metro quadrado).
6) Pagamentos de impostos regulares
Outra estratégia para maximizar o reembolso do IRS passa por usar esse dinheiro para pagar outros impostos que surgirão ao longo do ano, como o Imposto Municipal sobre Imóveis (IMI) e o Imposto Único de Circulação (IUC) do carro da família.
As taxas de IMI variam entre 0,3% e 0,45% sobre o valor patrimonial das casas, enquanto no caso de prédios rústicos a taxa é de 0,8%. Para uma família com casa própria e automóvel, estes impostos representam uma despesa anual significativa que, se não for devidamente planeada, pode desequilibrar o orçamento familiar.
Reservar o reembolso do IRS para estas despesas previsíveis é uma forma de disciplina financeira que evitará surpresas desagradáveis mais tarde.
7) Apostar na formação académica e profissional
O investimento em formação continua a ser um dos melhores a longo prazo. Considerando que o custo de um mestrado numa universidade pública em Portugal ronda os 2 mil euros, ou que uma pós-graduação pode custar facilmente 5 mil euros, o reembolso do IRS pode cobrir uma parte significativa desse investimento.
Para quem procura progredir na carreira ou adaptação a um mercado de trabalho em constante evolução, a formação contínua tornou-se essencial. Workshops especializados e cursos de curta duração também representam alternativas mais acessíveis que podem ser totalmente financiadas com o valor do reembolso.
O reembolso do IRS este ano pode ser mais “pequenino”, mas o impacto desse dinheiro nas suas finanças pessoais continua a depender, sobretudo, das decisões que tomar agora.
Mesmo que o seu reembolso do IRS seja menor este ano, lembre-se que isso significa que já usufruiu de uma carga fiscal menor ao longo de 2024. Para quem receber algum valor, o importante é utilizá-lo de forma estratégica.
Se os juros dos seus créditos são mais altos que o potencial retorno dos investimentos disponíveis, priorize a redução de dívidas. Se já tem as suas finanças equilibradas, considere iniciar ou reforçar a estratégia de investimento de longo prazo, ou pondere em fazer melhorias no seu património imobiliário.
E se também quiser oferecer um presente a si e à sua família com o pagamento das férias de 2026 (para usufruir de um desconto significativo, dada a antecedência com que está reservar), também de certeza que conseguirá fazer um belo negócio (financeiro e emocional). Mas independentemente da escolha do destino do reembolso do IRS, faça sempre uma análise cuidadosa dos custos e benefícios de cada alternativa.
O reembolso do IRS este ano pode ser mais “pequenino”, mas o impacto desse dinheiro nas suas finanças pessoais continua a depender, sobretudo, das decisões que tomar agora.
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