Ainda dá para confiar em Montenegro?

A gestão pouco transparente que o primeiro-ministro vem fazendo do caso Spinunviva aumenta o clima de suspeição. Por ora, não parece ser um impedimento de nova vitória da AD.

O caso Spinunviva parecia estar a ficar no passado quando, a horas do debate entre os líderes da AD e do PS, o Expresso noticiou a existência de mais sete clientes da empresa de Luís Montenegro.

São elas a Rodáreas (do Grupo Joaquim Barros Rodrigues e Filhos, a empresa de distribuição de combustíveis de Braga que foi o principal cliente da Spinunviva), a ITAU, a Sogenave, a Portugalenses Transportes, a Beesteel, a INETUM Portugal e a Grupel. Duas delas, fizeram contratos de 90 milhões com o Estado só no último ano. A relação com a Spinumviva resume-se a “dois ou três milhares de euros”, contrapõe o primeiro-ministro.

Não significa que as empresa tenham ganho os contratos por terem sido clientes da empresa de Montenegro no passado. A ITAU, por exemplo, tem já um longo histórico de relação com o Estado, desde o Governo de Passos Coelho. A INETUM também teve contratos públicos no tempo de António Costa.

O primeiro-ministro diz que, no Governo, não teve qualquer relacionamento com as empresas, mas o Correio da Manhã noticia esta sexta-feira que esteve na inauguração de um hotel da Beesteel em Vila do Conde.

A teia cresce e Montenegro está cada vez mais enredado.

Há também questões para as quais o líder do PSD não tem respostas convincentes. Uma delas é o facto de para uma das empresas, tal como aconteceu com o grupo de Braga, Montenegro ter feito trabalho de consultoria de gestão e reestruturação, apesar de não ser licenciado em gestão ou economia. A resposta, no debate de quarta-feira, foi que se tem capacidades para reestruturar o país tem certamente para reestruturar uma empresa. Uma saída airosa, mas que não convence.

A esta e outras dúvidas levantadas por Pedro Nuno Santos, Montenegro responde com ofendimento e escasso esclarecimento. E o que tem surgido é “arrancado a ferros”, como afirmou o líder do PS.

Montenegro pode considerar que se tratam de assuntos da sua vida privada, mas a partir do momento em que se tornam um caso político nacional a obrigação de um primeiro-ministro é pôr tudo em pratos limpos da forma mais completa e tempestiva possível.

Em vez disso, o primeiro-ministro atrasou a entrega dos esclarecimentos pedidos pela Entidade para a Transparência sobre as empresas até ao último dia do prazo, o que levaria a que as sete empresas só fossem conhecidas após as eleições. Só que a lista chegou entretanto aos jornais.

Esta resistência em ser transparente aumenta a suspeição e torna Montenegro pouco confiável aos olhos dos portugueses. Além de que a manutenção em atividade da Spinunviva (haverá quem ainda arrisque ser cliente?) resulta num conflito de interesses insanável.

Pedro Nuno Santos indicou no debate ter sido o próprio PSD a fonte da notícia sobre os sete clientes, de forma a esvaziar o argumento da falta de esclarecimento do primeiro-ministro, o que Montenegro rejeitou. Segundo o Observador, os deputados do Grupo de Trabalho Registo de Interesses da Assembleia da República foram todos notificados da existência de uma nova declaração entregue por Montenegro à Entidade da Transparência, em cima do prazo. O deputado socialista, Pedro Delgado Alves, assumiu ao jornal ter acedido à mesma, antes ainda da notícia do Expresso, e tê-la partilhado com Fabian Figueiredo do Bloco de Esquerda. O que abre a possibilidade de a informação, ainda sujeita a sigilo, ter tido origem na oposição, embora os dois o neguem.

O ponto essencial não é saber como a notícia surgiu, mas a conduta do primeiro-ministro.

A dificuldade para Pedro Nuno Santos é que o caso Spinunviva não parece ser suficiente para desalojar Luís Montenegro, pelo menos a julgar pela maioria das sondagens.

O longo ciclo de governação do PS está ainda fresco na memória e a Aliança Democrática não padece ainda desse desgaste.

Se há propostas programáticas em que os partidos divergem, e não são muitas, Montenegro governou da mesma forma que Costa, respondendo aos anseios do maior número de eleitores: os que em salários, pensões ou subsídios dependem do Estado.

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