ECO da Campanha. Terminados os debates, partidos metem a ‘carne no assador’

Antes de se fazerem à estrada, os líderes partidários ainda foram ao debate das rádios para o derradeiro confronto. PSD chama ex-líderes à campanha e Pedro Nuno avisa que vem aí o ‘diabo’ da recessão.

Depois do debate de ‘todos contra um’ no domingo à noite que fechou o ciclo de debates televisivos entre os principais protagonistas, a AD – Coligação PSD/CDS-PP acordou com uma sondagem animadora: a diferença entre as duas principais forças políticas nunca foi tão grande, com a coligação a alargar a vantagem sobre o PS para 8,7 pontos percentuais e afastando-se, assim, do cenário de empate técnico.

Mas antes de partirem para a estrada, naquele que foi o segundo confronto a oito em apenas 12 horas, desta vez transmitido pelas rádios, voltaram a ser todos contra o líder da AD, da gestão do apagão ao caso Spinumviva que provocou estas eleições antecipadas. Luís Montenegro e Pedro Nuno Santos apenas estiveram alinhados em dois temas: no apelo ao voto útil e na disponibilidade para consensos na Justiça.

Ligados os motores da campanha, o presidente do PSD esteve à conversa com agricultores da região do Oeste, prometendo aliviar as regras burocráticas e tornar o setor mais autossustentável, reduzindo gradualmente o défice comercial, mas sem qualquer protecionismo e com acordo fechado com o Mercosul.

Na véspera de almoçar com ex-líderes do partido, ouviu André Ventura (Chega) dizer que “Portugal precisa de futuro” e que tal não se consegue “com históricos”. E Rui Rocha (IL) advertir que a campanha eleitoral não é o momento para “decidir coligações”, mas para discutir propostas. Como aquela de reduzir o número de funcionários administrativos que Mariana Mortágua (Bloco de Esquerda) considerou “perigosa”, com a bloquista a acusar a direita de ser uma ameaça para a escola pública.

Em Coruche, conhecida pela sua resistência antifascista, o secretário-geral do PCP, Paulo Raimundo, lembrou que a luta “ainda não acabou”, opondo-se à política “da loucura da guerra”.

O presidente da Iniciativa Liberal (IL), Rui Rocha, durante uma ação de campanha no âmbito das eleições legislativas, nas Avenidas Novas, em Lisboa.ANDRÉ KOSTERS/LUSA 5 maio, 2025

 

Tema quente

O que fará a direita se o PS ficar à frente?

“Era só o que faltava! Era só o que faltava!”. Foi esta a reação do secretário-geral socialista quando o presidente da Confederação do Turismo de Portugal o confrontou com o cenário de a direita chumbar um Governo do PS no provável cenário pós-eleitoral de haver uma maioria de direita no Parlamento.

Na resposta a Francisco Calheiros, durante um almoço da organização, Pedro Nuno Santos disse ter dado “todas as condições de governabilidade à AD” neste último ano, considerando que “ninguém do Governo, e muito menos o ainda primeiro-ministro, se pode queixar do PS” no que toca às condições de “estabilidade política ao país” que diz ter dado. O líder socialista diz ser “impensável” a AD não fazer o mesmo, caso isso esteja em cima da mesa no pós-eleições.

“Não é um favor ao Partido Socialista. É simplesmente respeitar o país. E já agora respeitar também, primeiro o país e os portugueses, e em segundo lugar um partido que quando estava na oposição deu estas condições de governabilidade à AD”, insistiu Pedro Nuno Santos, para quem é preciso “exigir que seja garantida estabilidade política” a seguir às eleições de 18 de maio, assim como “a reciprocidade ao PS”.

Pedro Nuno Santos participou num almoço da Confederação do Turismo de Portugal, liderada por Francisco CalheirosLusa

A figura

Aníbal Cavaco Silva

Depois de na semana passada, aos microfones da Renascença, ter dito que Luís Montenegro “não fica atrás de nenhum dos outros líderes partidários no que se refere à dimensão ética na vida política”, Aníbal Cavaco Silva voltou a entrar na campanha para defender que o líder da AD foi alvo de uma “campanha de suspeitas e insinuações” da oposição e de “alguma comunicação social”, centrada “em boa parte” na devassa da sua vida privada.

Num artigo de opinião publicado no Observador, o antigo primeiro-ministro (1985-1995) e ex-Presidente da República (2006-2016) reiterou a defesa da postura ética e moral do primeiro-ministro cessante e presidente do PSD, assim como da sua “superioridade” relativamente aos concorrentes “em matéria de competência técnica e política, de capacidade de liderança do Governo e de defesa dos interesses portugueses na União Europeia”. No final do debate das rádios, Montenegro agradeceu a “lucidez e discernimento da análise política” de Cavaco Silva.

 

A frase

"A direita pode estar a quatro lugares apenas – fazendo a transposição dos resultados para deputados – não de uma maioria de Governo, mas de uma maioria constitucional. Ou a esquerda tem clareza e mobiliza os votos progressistas e democráticos, ou podemos estar em face de uma situação que é constitucionalmente perigosa para o país.”

Rui Tavares

Porta-voz do Livre

A surpresa

De Passos a Rio, ex-líderes do PSD vão entrar na campanha

Já se sabia que, no dia do 51º aniversário do PSD, a coligação ia assinalar esta terça-feira a efeméride num mega jantar no Centro de Congressos de Lisboa. A novidade, pré-anunciada por Montenegro no final do debate das rádios e confirmada depois na nota de agenda enviada às redações, passa pela inclusão de um almoço na sede do partido com antigos presidentes do partido.

À mesa laranja e ao lado do candidato da AD, na São Caetano à Lapa, vão estar personalidades como Cavaco Silva, Pedro Passos Coelho, Marques Mendes, Rui Rio, Manuela Ferreira Leite, Pedro Santana Lopes, Luís Filipe Menezes e Fernando Nogueira.

José Manuel Durão Barroso vai enviar uma mensagem, enquanto Francisco Pinto Balsemão e Rui Machete não poderão estar presentes por razões de saúde. Dos antigos líderes social-democratas ainda vivos, fica apenas a faltar Marcelo Rebelo de Sousa, a terminar o mandato como Presidente da República e que tem andado mais ‘resguardado’ no comentário político nesta fase de campanha eleitoral.

 

Prova dos 9

"Luís Montenegro deixa-nos uma economia a cair e um cenário macroeconómico completamente irrelevante – aliás, o crescimento económico para 2025 já vai ter de ser revisto em baixa. É o resultado do fracasso na governação.”

Pedro Nuno Santos

Secretário-geral do PS

O crescimento da economia portuguesa desacelerou para 1,6% no primeiro trimestre em termos homólogos, contra uma expansão do PIB de 2,8% nos três meses precedentes. O cenário traçado pelo INE fica mais cinzento quando a comparação é feita em cadeia. Aí, o PIB contraiu-se 0,5% no arranque do ano, após um crescimento de 1,4% no último trimestre de 2024, resultado do contributo nulo da procura interna (após ter sido positiva nos últimos três meses de 2024) e do contributo negativo da procura externa líquida.

Esta segunda-feira, o ministro das Finanças, Joaquim Miranda Sarmento, atribuiu esta contração do PIB em cadeia aos níveis de crescimento registados nos três meses precedentes. “Não nos deve surpreender muito, porque o crescimento em cadeia do quarto trimestre foi o mais elevado desde a entrada no euro, com exceção da pandemia”, referiu durante um almoço-debate organizado pelo International Club of Portugal, embora aludindo a “alguma desaceleração do investimento em construção” e assinalando o impacto do abrandamento do consumo privado.

No Orçamento do Estado para 2025, o Governo estimou um crescimento de 2,1% este ano, que no cenário macroeconómico inscrito pela AD no programa eleitoral foi ‘revisto em alta’ para 2,4% e é mais otimista do que o desenhado pelo PS. No debate de domingo à noite, Montenegro garantiu que o país tem “todas as condições para chegar ao final do ano com [estas] estimativas cumpridas”, confiando no impacto que as medidas a implementar terão nesta “ambição” para o crescimento. No entanto, ainda que este arrefecimento não seja (apenas) resultado do “fracasso na governação”, como reclama Pedro Nuno Santos, no horizonte há demasiadas nuvens negras e que deverão ‘ensombrar’ a performance macroeconómica para 2025.

A conjuntura internacional levanta desafios, particularmente devido à política comercial da Administração Trump. Este fator tem sido apontado pela generalidade das instituições como de risco para o crescimento mundial, o que terá impacto para Portugal — mesmo que indiretamente, como através de uma menor procura dos principais parceiros comerciais.

O FMI cortou recentemente a expansão do PIB mundial para 2,8% este ano, face aos 3,3% que apontou em janeiro, e para 0,8% o da Zona Euro, menos duas décimas do que projetava anteriormente. Para já, o efeito Trump já se sente nos EUA. A economia americana registou uma contração de 0,3% no primeiro trimestre, pela primeira vez em três anos. E o cenário pode agudizar-se se as tarifas americanas (atualmente suspensas) avançarem.

Conclusão: incerto.

 

Norte-Sul

Depois de todos os partidos com representação parlamentar terem arrancado a manhã no debate das rádios, Montenegro seguiu para um almoço com agricultores na Adega Cooperativa da Vermelha (Cadaval) e para um comício na Guarda ao final da tarde, terminando o dia com um jantar na NERGA – Associação Empresarial da Região da Guarda.

Pedro Nuno Santos participou num almoço com a Confederação do Turismo de Portugal (CTP) e viu a previsão de chuva anular um contacto com a população em Viseu, substituído por um comício na Aula Magna do Instituto Politécnico.

André Ventura (Chega) realizou uma arruada no mercado municipal de Santarém, Rui Rocha (Iniciativa Liberal) ficou em Lisboa para ações de campanha junto ao Campo Pequeno, terminando com um jantar na Casa do Alentejo.

À esquerda, Mariana Mortágua e Rui Tavares também ficaram na capital – a bloquista visitou a Escola Básica Nuno Gonçalves e o porta-voz do Livre contactou com a população no Cais do Sodré, enquanto Paulo Raimundo (CDU) rumou a Coruche para um almoço com reformados e termina o dia em Sines.

Inês de Sousa Real foi a única a rumar a Norte para ações de campanha no Mercado do Bolhão (Porto).

O presidente do PSD, Luís Montenegro, durante uma visita à Adega Cooperativa da Vermelha (Cadaval) no âmbito da campanha para as eleições legislativas.MIGUEL A. LOPES/LUSA 5 maio, 2025

 

Na agenda de terça-feira, Luís Montenegro tem previsto contactos com a população em Sintra, o tal almoço com ex-líderes do PSD na sede nacional e o “grande jantar” do 51.º aniversário do PSD, no Centro de Congressos de Lisboa.

Com cinco momentos na agenda socialista, Pedro Nuno Santos começará o dia com uma visita ao mercado municipal de Leiria, cidade onde voltará para um almoço com estudantes da Escola Superior de Tecnologia e Gestão (ESTG) logo após visitar na Marinha Grande a empresa Aníbal H. Abrantes.

A meio da tarde visitará as oficinas do Museu Nacional Ferroviário, no Entroncamento, e termina o dia com um comício em Santarém.

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