Os cinco novos desafios para a economia e para a banca, por Ricardo Reis
As tensões internacionais, muito exacerbadas pela gestão de Donald Trump, geram cinco novos riscos e desafios para a economia e para a banca, segundo o economista Ricardo Reis.
Os últimos meses, marcados pela ascensão da administração de Donald Trump, trouxeram vários novos desafios para a economia e para os bancos em particular, ainda que algumas das tendências já viessem de trás. “A banca está há mais de uma década a lidar com as mudanças no seu setor”, nomeadamente com a tecnologia, a concorrência das fintech, as criptomoedas ou as mudanças no seu papel, começou por dizer Ricardo Reis, Economista, Professor na The London School of Economics and Political Science, na sessão de encerramento da conferência Banking on Change, organizada esta terça-feira pelo ECO com a KPMG e a PLMJ.
Olhando para o futuro, “temos de pensar no contexto da Administração Trump, das mudanças macroeconómicas, no que é o mundo e o papel da banca nele e como a banca se vai adaptar a ele“, disse.
Ricardo Reis partiu de cinco grandes desafios para a economia mundial para ilustrar os novos tempos e que, de certa forma, servem de guia de navegação para os bancos e não só.
Em primeiro lugar, a questão das tarifas e da guerra comercial.
“Num mundo de tarifas, a banca terá de se adaptar a uma nova realidade. Não sendo um dos setores mais exportadores ou mais integrados em termos globais, tem como uma das suas funções o apoio ao comércio internacional”, afirmou. “Num mundo em que temos um recuo da globalização, pelo menos no sentido de ser mais regional, exige-se que a banca tenha de adaptar a mercados que vão ser diferentes, a uma volatilidade de taxas de câmbio muito maior, com choques que serão mais regionais que internacionais”, acrescentou.
Neste sentido, há uma consequência lateral mais importante para os bancos nacionais.
No caso da banca portuguesa, isto pode levar a maior concentração ou abertura e internacionalização
“No caso da banca portuguesa, isto pode levar a maior concentração ou abertura e internacionalização porque pode levar a um aprofundamento da regionalização e Portugal faz parte de uma grande região, que é a Europa”, continuou. “As fusões entre bancos e entre fronteiras vão estar em cima da mesa e estão criadas as condições para que aconteçam nos próximos anos”, acrescentou.
O segundo desafio prende-se com “o apetite de alguns governos usarem repressão sobre os agentes económicos”, algo de que o executivo de Donald Trump é um exemplo. “Se até agora vimos a repressão sobre a atividade comercial, parece ser um pequeno passo até que surja a repressão financeira”, reforçou.
Os governos podem “obrigar os investidores nacionais – fala-se sobretudo de bancos – a deterem obrigações do Tesouro remuneradas a uma taxa abaixo do que seria justo ou expectável no mercado considerando os riscos dessa mesma dívida”.
Neste contexto de alta pressão, admite o economista, pode haver um maior papel a ser desempenhado pelas critpomoedas, por exemplo.
A guerra e as suas múltiplas formas estão no terceiro desafio apontado por Ricardo Reis. Isto pode aumentar os ataques – nomeadamente os ciberataques – entre países. “Os problemas da guerra surgem com ataques às infraestruturas dos inimigos” e os “bancos são uma infraestrutura por excelência da economia de um país”. O professor lembrou que, neste campo, há vários países que estão muito à frente de Portugal na proteção das suas infraestruturas.
O papel do dólar e o seu domínio mundial está também a alterar-se, e constitui o quarto desafio dos tempos atuais. Para Ricardo Reis, é expectável que o dólar continue a ser a referência, mas que venha a perder peso para o euro e para o yuan, enquanto moeda de referência nas transações internacionais. Isto prende-se com vários fatores, mas que têm uma raiz comum: a erosão, por via das políticas de Trump, daquilo que está no fundamento de qualquer moeda, a sua segurança enquanto referência de poupança, investimento, liquidez e estabilidade. Para o economista, é possível que o euro e a moeda chinesa possam crescer “para perto de 20%” das transações mundiais, cada, deixando os restantes 60% para o dólar, face aos perto de 80% atualmente.
O último ponto destacado por Ricardo Reis é uma cada vez menor sintonia entre políticas monetárias dos diferentes bancos centrais, nomeadamente a Reserva Federal e o Banco Central Europeu. Entre estas duas entidades, “a política monetária foi muito concertada ao longo dos últimos 24 anos”, algo que “é expectável que não aconteça nos próximos 12 a 24 meses”, defendeu. Isto vai obrigar a “uma gestão muito mais ativa por parte dos bancos”, no que toca a coberturas de riscos, variações cambiais e riscos financeiros.
O professor concluiu advertindo que os riscos são muitos e alguns novos, sucedendo simultaneamente, o que constitui um desafio. Uma gestão mais atenta e mais ativa é essencial, para que as organizações se possam ir adaptando a condições que se continuarão a alterar muito rapidamente e nem sempre no mesmo sentido.
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