Aposta estratégica traz investimento massivo em defesa

Esforço do Governo para cumprir meta de investimento de 2% do PIB na defesa e pacote de Bruxelas no valor de 800 mil milhões marcam uma nova era para o setor, que é agora considerado estratégico.

Depois de anos ofuscado, o setor da defesa saltou para os holofotes e é hoje uma das áreas de investimento estratégicas a nível europeu e nacional. Portugal terá que fazer um esforço considerável chegar a uma despesa de 2% do PIB, o que poderá implicar um investimento na ordem dos cinco mil milhões de euros na defesa, que hoje emprega perto de 40 mil pessoas e conta com 363 empresas, calcula a IdD Portugal Defence.

“Considerando [a meta de investir] 2% do PIB, Portugal vai investir na defesa cinco mil milhões de euros, entre 2025 e 2029, em equipamentos e outros investimentos. É uma oportunidade ótima para as empresas portuguesas”, adiantou recentemente Ricardo Pinheiro, presidente da idD Portugal Defence, entidade promotora de políticas públicas para a Economia da Defesa, em declarações ao ECO.

O primeiro-ministro Luís Montenegro, que defende um “PRR para a área da defesa,” disse recentemente que vai “antecipar a meta de 2% do PIB de investimento em defesa que estava previsto até 2029″, através de um “amplo consenso político”, e “sem pôr em causa o Estado social e a estabilidade das contas públicas”. No entanto, o Executivo não se comprometeu com prazos.

Sem se comprometer com prazos, o chefe do Executivo afirmou apenas que o objetivo é contribuir “para o dinamismo da indústria nacional, potenciando a capacidade exportadora”, investir em “drones de última geração” e nos setores aeronáutico e marítimo. Luís Montenegro defende ainda que o investimento em defesa deve ser direcionado para “construir mais e melhores empregos”.

Segundo os dados da IdD Portugal Defence, relativos à economia da defesa, o setor empregava, no final de 2020, 38.844 pessoas. O salário médio era o dobro (1.652 euros) dos 818 euros pagos pelas empresas nacionais.

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Com uma faturação de 2.224 milhões de euros, no final de 2021, perto de 40% deste valor destina-se à exportação, calcula a idD Portugal Defence. O volume de negócios tem registado um forte crescimento na última década — no final de 2010, as receitas situavam-se em 992 milhões de euros — e a expectativa é que este número continue a crescer, à medida que chega novo investimento e cada vez mais empresas olham para o setor como uma oportunidade.

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Portugal está bem posicionado para aproveitar as oportunidades na defesa. O Estado vai aumentar o investimento, é uma prioridade política, mas também de outros países da União Europeia”, reforça Ricardo Pinheiro. O responsável realça que “também há mais oportunidades para as empresas portuguesas para exportação“.

O presidente da idD Portugal Defence destaca setores “virados já para o exterior”, alguns já com experiência na defesa.

Os EUA são, de acordo com os dados da entidade, o maior mercado de exportação da economia da defesa nacional, sendo o destino de exportações no valor de 364,2 milhões de euros. Segue-se a Alemanha com vendas de 325,8 milhões, a França (250,3 milhões), Espanha (164,4 milhões) e Reino Unido (136 milhões).

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Portugal entre os que menos investem

Apesar de os principais partidos concordarem que os objetivos de investimento na defesa são para cumprir, Portugal compara mal com os restantes países da União Europeia. Segundo os dados mais recentes do Eurostat, Portugal foi o quinto país da União Europeia (UE) que alocou menor percentagem do PIB para a área da defesa em 2023, ficando apenas à frente da Irlanda, Malta, Luxemburgo e Áustria.

Em 2023, a despesa pública dos países europeus com defesa ascendeu a 227 mil milhões de euros, o que representa 1,3% do PIB. O peso da despesa total do bloco foi de 2,7%, menos 0,3 pontos percentuais em relação aos 3% registados em 1995, mas acima do período pós-pandemia (2021 e 2022), quando foi de 2,4% e 2,5%, respetivamente.

Dados mais recentes do Conselho Europeu, que não incluem números detalhados por países, mostram que, entre 2021 e 2024, as despesas totais dos Estados-Membros da UE com a defesa aumentaram mais de 30%. Em 2024, as despesas ascenderam a cerca de 326 mil milhões de euros, ou seja, cerca de 1,9 % do PIB da UE.

As previsões do Conselho apontam que as despesas aumentem mais de 100 mil milhões de euros em termos reais até 2027.

Considerando apenas os 23 Estados-Membros da UE que são também membros da NATO, em 2024, as despesas com a defesa ascenderam a 1,99 % do seu PIB combinado, prevendo-se que cheguem aos 2,04% em 2025.

Europa lança “bazuca” para defesa

Ursula von der Leyen, presidente da Comissão Europeia, enfrenta o desafio de gerir a dívida europeia e implementar o novo pacote de defesa da União Europeia que aumentará ainda mais o fardo dessa dívida. O sucesso dessa tarefa fortalecerá a integração e a solidariedade entre os 27 Estados-membros da União Europeia, mas o seu fracasso poderá agravar divisões internas, comprometendo a coesão do bloco europeu.União Europeia 29 Janeiro 2025

Bruxelas também pretende reforçar fortemente o investimento na defesa. A Comissão Europeia apresentou este ano o plano “Rearmar a Europa – Prontidão 2030”, um “ambicioso pacote de defesa“, no valor de 800 mil milhões de euros.

“Importa investirmos na defesa, reforçarmos as nossas capacidades e adotarmos uma abordagem proativa em matéria de segurança. Estamos a tomar medidas decisivas. Apresentámos um plano que prevê o aumento dos gastos em defesa e investimentos importantes nas capacidades industriais de defesa europeias”, disse a presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen.

A chefe da Comissão afirmou que, se os países da UE aumentarem as suas despesas com a defesa em 1,5% do PIB, em média, poderão ser libertados 650 mil milhões de euros nos próximos quatro anos.

A verdadeira questão que se coloca é saber se a Europa está preparada para atuar de forma tão decisiva quanto a situação o exige e se está preparada e é capaz de atuar com a rapidez e a ambição necessárias“, afirmou aquando do anúncio do programa.

Além dos ambiciosos planos europeus, os próprios países estão a anunciar investimentos avultados. A Alemanha, por exemplo, anunciou um fundo especial de 500 mil milhões para defesa, um investimento que poderá dar um forte impulso à maior economia europeia.

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