
Saiam da universidade e constituam empresas
A elevada proporção de empregadores com baixa escolaridade em Portugal representa um entrave à nossa modernização económica.
- “It doesn’t make sense to hire smart people and then tell them what to do; we hire smart people so they can tell us what to do“. Steve Jobs.
Depois de ter abordado a gritante diferença de performance entre Portugal e a Polónia, um ex-aluno meu colocou em cima da mesa a questão da qualificação dos recursos humanos como um fator relevante para ajudar a explicar o facto de a Polónia ter em pouco mais de 20 anos ultrapassado Portugal em termos de geração de riqueza per capita em paridade de poder de compra.
Ora, em 2024, Portugal apresenta a maior proporção de empregadores com escolaridade até ao ensino básico entre os 21 países da União Europeia com dados disponíveis: 42%, face a uma média europeia de apenas 16% (Eurostat, 2024). Esta realidade evidencia uma fragilidade estrutural do tecido empresarial nacional, com implicações diretas na produtividade, na inovação e na competitividade do país.
A produtividade por trabalhador em Portugal permanece significativamente abaixo da média europeia. De acordo com os dados da OCDE e da AMECO (Comissão Europeia), o produto interno bruto (PIB) por trabalhador em Portugal representa cerca de 70% da média da UE27. Em 2023, a produtividade por hora trabalhada era de 23,2 euros, face a 39,7 euros na média da UE. Este diferencial está correlacionado com práticas de gestão menos eficientes, reduzido investimento em tecnologias de produção e limitações ao nível da qualificação dos gestores e empreendedores.
A dimensão média das empresas em Portugal reforça esta limitação estrutural. Segundo o INE, 96,5% das empresas ativas em 2022 eram microempresas (menos de 10 trabalhadores), sendo que mais de metade destas eram negócios unipessoais. Este perfil condiciona o acesso a economias de escala, crédito, talento qualificado e investimento em I&D. Na UE, a média de microempresas é de cerca de 92%, evidenciando uma maior maturidade empresarial noutros contextos.
Adicionalmente, a estrutura setorial da economia portuguesa ainda reflete um peso relevante do setor primário. Em 2023, a agricultura, silvicultura e pescas representavam 5,5% do total do emprego, o dobro da média da UE (2,6%). Este setor apresenta, historicamente, níveis de qualificação mais baixos e menor incorporação tecnológica, o que contribui para a manutenção de baixos níveis de produtividade e reduzida inovação quando nos comparamos em termos europeus.
No que respeita ao investimento em investigação e desenvolvimento (I&D), Portugal investiu 1,68% do PIB em 2022, sendo que apenas 0,86% correspondia ao esforço das empresas (DGEEC, 2023). A média da UE situava-se nos 2,27%, com os países nórdicos a superar os 3%. A correlação entre liderança empresarial qualificada e aposta consistente em I&D é amplamente documentada. Empresas com gestores mais escolarizados tendem a valorizar a inovação como motor de competitividade, o que não se verifica amplamente em Portugal.
Apesar destas limitações, o país tem conseguido atrair investimento direto estrangeiro (IDE). Em 2023, o stock de IDE representava 64,4% do PIB, um valor elevado face à média europeia de 58,1% (Banco de Portugal, Eurostat). No entanto, a capacidade de absorção tecnológica e de difusão de conhecimento depende, em larga medida, da qualificação dos gestores locais e da sua aptidão para estabelecer cadeias de valor com empresas multinacionais.
Neste contexto, o ecossistema de startups em Portugal merece atenção especial. Embora Lisboa seja considerada um dos hubs emergentes na Europa, ocupando a 43.ª posição no ranking global da StartupBlink (2023), o país conta com apenas cerca de 2.200 startups ativas — significativamente menos que Alemanha (+-70.000), França (cerca de 20.000) ou Estónia (+-1.300). Em termos per capita, Portugal regista cerca de 210 startups por milhão de habitantes, abaixo da Estónia (950) e da Irlanda (500).
O investimento em capital de risco também é limitado: apenas cerca de 250 milhões de euros em 2023, contra 15 mil milhões em França ou 12 mil milhões na Alemanha. Além disso, estima-se que menos de 60% dos fundadores de startups em Portugal tenham ensino superior, em contraste com mais de 85% em países como Alemanha, França ou Países Baixos.
Apesar do ambiente favorável criado por políticas públicas (vistos para startups, incentivos fiscais, eventos como o Web Summit), o crescimento e a retenção de talento continuam limitados por barreiras estruturais — com destaque para a fraca qualificação média dos empregadores.
Em conclusão, a elevada proporção de empregadores com baixa escolaridade em Portugal representa um entrave à nossa modernização económica. A correlação entre qualificação, produtividade, inovação e ecossistema de empreendedorismo é clara. Urge, portanto, implementar políticas que incentivem a formação contínua de gestores, a profissionalização da gestão nas PME, a valorização da inovação como eixo estratégico para o crescimento sustentado e a criação de incentivos claros para as operações de fusão e aquisição, por último torna-se premente a criação de incentivos para as empresas internacionais que criam redes de partilha de conhecimento e boas práticas empresariais com as empresas nacionais em detrimento dos apoios somente à criação de postos de trabalhos.
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