BRANDS' ECO Startups portuguesas: inovação, resiliência e o desafio de crescer num ecossistema em maturação
No quarto episódio do podcast Heróis PME, discutiu-se o ecossistema de startups em Portugal. O talento nacional, a burocracia, a internacionalização e o papel da inovação tecnológica foram os temas.
Portugal tem hoje cerca de 4.700 startups e poderá atingir as cinco mil ainda este ano. A convicção é de João Silva, que marcou presença no quarto episódio do podcast Heróis PME, promovido pela Yunit Consulting com o apoio do ECO. Para o Head of Data & Tech and Public Policies, que destaca o papel desta associação e o impacto da Web Summit na articulação entre empreendedores, investidores e entidades públicas, “a maturidade do ecossistema é visível, mas persistem desafios estruturais como a burocracia, o acesso a financiamento e a retenção de talento”.
powered by Advanced iFrame free. Get the Pro version on CodeCanyon.
A mesma opinião foi partilhada por todos os participantes neste episódio, que contou ainda com a presença de Manuel Saraiva, Head of Sales and Business Development, BRAINR, empresa que foi uma das finalistas na categoria Startup da edição de 2024 dos Heróis PME, e de Inês Martins, Coordenadora de Marketing na Yunit Consulting.
A perspetiva otimista de João Silva é sustentada pelo investimento crescente neste tipo de empresas, com o ano de 2024 a apresentar um aumento de 130% face ao anterior. Apesar das oscilações globais, fruto de um contexto internacional de alguma incerteza, os hubs tecnológicos em Portugal continuam a aumentar, com Lisboa e Porto à frente, mas com muitos bons projetos noutras regiões. “Temos o talento, as ideias e um ecossistema que tem evoluído muito, mas precisamos de estabilidade, estratégias claras e uma mentalidade mais profissionalizada para competir a nível internacional”, complementou Inês Martins.
BRAINR: um caso de sucesso com ADN industrial
Um exemplo prático de como inovação e indústria – um setor historicamente pouco digitalizado – podem andar ‘de mãos dadas’ é a BRAINR, startup especialista no desenvolvimento de software para a indústria alimentar. Criada a partir de uma necessidade interna do Grupo Lusiaves – empresa do setor avícola e agroalimentar -, a BRAINR desenvolveu uma solução tecnológica para digitalizar e simplificar operações fabris.
O sucesso e a relevância dentro de portas conduziram à autonomização da startup, que agora dá resposta às necessidades de empresas de norte a sul do país. “Atualmente, 25% das refeições produzidas em Portugal incluem ingredientes processados em fábricas que usam o sofware da BRAINR”, salienta Manuel Saraiva. O também fundador desta startup acrescenta, contudo, que, apesar do crescimento acelerado do negócio, o percurso não foi isento de desafios. “A maior dificuldade foi manter o foco no produto, sem cair na tentação de moldá-lo demasiado às exigências de cada cliente”.
Hoje, a startup já está presente em África e em processo de expansão para os Estados Unidos, onde trabalha com parceiros que detêm mais de 90% do mercado em nichos industriais. O objetivo passa por continuar a crescer e a escalar para, em breve, e como assume Manuel Saraiva, “ser o primeiro unicórnio de Leiria”. Uma meta que, apesar de assumida em jeito de brincadeira, é “muito séria e realista”, acrescenta o responsável da BRAINR.
-
4º episódio do podcast Heróis PME com Inês Martins, Coordenadora de Marketing na Yunit Consulting; Manuel Saraiva, Head of Sales and Business Development, BRAINR; e João Silva, Head of Data & Tech and Public Policies -
Inês Martins, Coordenadora de Marketing na Yunit Consulting -
Manuel Saraiva, Head of Sales and Business Development, BRAINR -
João Silva, Head of Data & Tech and Public Policies
Financiamento e burocracia continuam a travar o crescimento
A necessidade de apoio estratégico e financeiro é partilhada por muitas startups. Inês Martins alerta, contudo, para o baixo nível de aproveitamento dos mecanismos de incentivo fiscal, de que é exemplo o SIFIDE (Sistema de Incentivos Fiscais à I&D Empresarial) que permite recuperar até 82.5% dos custos com o desenvolvimento de novos produtos e processos que gerem avanços no conhecimento técnico-científico. “Apenas 0,62% das empresas em Portugal recorre a este benefício”, aponta a coordenadora de marketing da Yunit Consulting. Na sua opinião, isto acontece porque “falta informação, clareza legislativa e simplificação de processos”.
Este é, aliás, uma das missões da Yunit Consulting. “Apoiamos as startups em várias frentes, desde a definição estratégica ao acesso a financiamento”, sublinha Inês Martins que defende que é importante que as empresas procurem apoio junto de quem conhece bem os programas. “As startups precisam de focar-se na inovação. A parte burocrática deve ser tratada por quem conhece bem o sistema”, reforça.
“O crescimento das startups portuguesas é, muitas vezes, feito de ‘navegar à vista’”, acrescenta João Silva. Na sua perspetiva, à burocracia e ao acesso limitado a capital junta-se a escassez de talento qualificado, uma barreira transversal a praticamente todos os países, mas que em Portugal se acentua com a competição internacional que ainda capta muito talento formado por cá, mas que procura melhores oportunidades noutros mercados. “Formamos excelentes profissionais, mas continuamos a perder muitos para o estrangeiro”, alertou ainda o representante da Startup Portugal, referindo-se à necessidade de criar políticas públicas eficazes como, por exemplo, regimes de stock options mais claros e atrativos. “Portugal é pequeno pelo que quem quer ser unicórnio por cá tem de pensar em escalar desde o primeiro dia”, acrescenta Manuel Saraiva.
Ainda assim, e apesar de todos os desafios, os convidados do podcast Heróis PME estão otimistas. “Temos talento, temos ideias e um ecossistema em maturação. O que falta é criar as condições certas para que as startups não apenas sobrevivam, mas escalem e liderem”, conclui João Silva.
powered by Advanced iFrame free. Get the Pro version on CodeCanyon.
Acompanhe toda a conversa no Spotify ou na Apple Podcasts.
Assine o ECO Premium
No momento em que a informação é mais importante do que nunca, apoie o jornalismo independente e rigoroso.
De que forma? Assine o ECO Premium e tenha acesso a notícias exclusivas, à opinião que conta, às reportagens e especiais que mostram o outro lado da história.
Esta assinatura é uma forma de apoiar o ECO e os seus jornalistas. A nossa contrapartida é o jornalismo independente, rigoroso e credível.
Comentários ({{ total }})
Startups portuguesas: inovação, resiliência e o desafio de crescer num ecossistema em maturação
{{ noCommentsLabel }}