António Rios de Amorim diz que Mario Draghi é a personalidade ideal para fechar o evento que a COTEC Portugal realiza em Coimbra esta semana, pois representa a necessidade de a Europa "despertar".
“A Europa precisa de agir”. É com este racional que António Rios de Amorim explica a escolha do tema central – Europe, a Call to Action – da COTEC Europe Summit, que a COTEC Portugal realiza esta terça e quarta-feira em Coimbra e cujo momento alto deverá ser a participação de Mario Draghi.
Em entrevista ao ECO, Rios de Amorim, que termina este mês um mandato de três anos como presidente da COTEC Portugal, diz que o acordo comercial assinado entre os EUA e o Reino Unido “pode ser um primeiro passo e positivo para todos”, mas recorda que mesmo antes da guerra comercial o relatório de Draghi sobre competitividade urgia a Europa a “despertar”.
A Corticeira Amorim, da qual é CEO, está a “tentar vias diplomáticas” para obter isenção das tarifas de Trump, especialmente porque os EUA não produzem cortiça, mas numa primeira reação está a “passar o custo ao clientes americanos”, vinca.
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Os Estados Unidos estão a provocar turbulência com a guerra comercial iniciada pela administração Trump. Como é que este novo cenário vai afetar a economia global e as empresas portuguesas?
Há aqui duas formas de a gente olhar isto. Vamos ter uma forma de curto prazo, onde não sabemos qual é o desfecho de toda esta política comercial, sobretudo implementada pelo Presidente dos Estados Unidos, e temos uma evolução mais a médio prazo, dois anos, um ano e meio, dois anos. Quanto à primeira, veremos. Temos aqui estes 90 dias de suspensão, vai ser anunciado hoje ou amanhã um acordo comercial digno de registo, segundo está a ser comunicado, com o Reino Unido [o acordo foi confirmado depois da entrevista ter tido lugar]. Pode ser o primeiro de muitos. Há um passo, não há intransigência, há acordo, o que significa que isto pode ser muito positivo para todos, para a União Europeia seguramente que o seria, para os vizinhos dos Estados Unidos também, e isto seria uma forma de acalmar. Mas, há uma coisa que já todos ficámos conscientes. É que isto pode acontecer mais vezes. E, portanto, claramente que isto veio despertar, ou terá que despertar a Europa, seja a nível das empresas, seja a nível das instituições europeias. E por isso é que a COTEC Europa decidiu criar como tema, Europe, a Call to Action. Portanto, é hora da Europa agir. E acho que esta postura dos Estados Unidos, como se tem vindo a dizer, vai claramente despertar, vai claramente fomentar uma atitude diferente de parte da Europa. Não sei se isso tem a ver com fundos, terá seguramente a ver com a política de defesa, terá seguramente a ver com maior integração nalgumas áreas, mas terá que ter também muito a ver com desregulamentação, desburocratização e um reforço da agilidade que realmente uma zona económica tão relevante como a Europa tem que ter para enfrentar situações como aquelas com que fomos confrontados. É preciso não esquecer que há um mês e meio atrás estávamos a falar de tarifas de 200%, e depois 20% , agora estamos a falar de 10%, e daqui a 60 dias vamos ver quanto é que estamos a falar. Portanto, tudo isto tem um impacto brutal na gestão das empresas, sobretudo as empresas mais internacionalizadas e exportadoras.
Vamos a um exemplo, o da Corticeira Amorim, que é uma empresa muito internacional, está em diversos mercados há muitas décadas. Como é que uma empresa grande como esta lida com este cenário? Já reviram estratégias?
Nós temos dois impactos. Temos um impacto direto naquilo que serão os nossos produtos. Portanto, esse aí, temos que passar este efeito destas taxas transitórias. Achámos que deveríamos ser excluídos…
Com as tarifas aplicadas, obviamente vamos ter que passar a grande parte deste custo para o mercado dos Estados Unidos. Temos uma segunda fase que é o impacto que isto vai ter nos nossos clientes, sendo os Estados Unidos um mercado muito relevante para grande parte dos nossos clientes europeus, sul-americanos e demais.
É um mercado importante para vocês.
Sim, é o segundo principal mercado da empresa. Mas, como não há cortiça nos Estados Unidos, achávamos que a cortiça nem deveria ser incluída no regime das tarifas e estamos a trabalhar, obviamente por via diplomática, para que se tente excluir produtos que realmente os Estados Unidos não produzem. E a cortiça é um caso deles. Mas, entretanto, com as tarifas aplicadas, obviamente vamos ter que passar a grande parte deste custo para o mercado dos Estados Unidos. Esta é uma primeira fase. Temos uma segunda fase que é o impacto que isto vai ter nos nossos clientes, sendo os Estados Unidos um mercado muito relevante para grande parte dos nossos clientes europeus, sul-americanos e demais, portanto, isto também é relevante. E, portanto, como todos os países ficaram debaixo desta tarifa, eu acho que esta evolução de preços vai ter que acontecer nos Estados Unidos, os tais 10%.
Qual é o impacto que isto vai ter no consumo?
Não conseguimos dizer. Na parte do vinho, 30% do consumo de vinho americano é importado. E, portanto, isso significa que é um mercado muito relevante para os países europeus e é o principal mercado de consumo de vinho no mundo pela população grande que tem. Vamos lidando à medida que vamos tendo notícias e com a tal agilidade que falámos há pouco, tentar gerir esta situação presente.
Vamos voltar à Europa e à COTEC, especificamente, ao COTEC Europe Summit. Qual é o objetivo? Tem nomes sonantes, Mario Draghi, por exemplo. O que espera ouvir, o que espera que saia deste evento?
O COTEC Europe é algo que se realiza todos os anos e como tem como membros Espanha, Itália e Portugal, cada um destes países anualmente realiza no seu país o evento e portanto Portugal é chamado a organizar o evento uma vez de cada três em três anos. O ano passado foi nas Canárias, há dois anos foi em Palermo e agora será em Coimbra. O diretor-geral da COTEC este ano propôs um modelo diferente, que foi muito bem acolhido por parte das outras COTEC, Espanha e Itália, que foi tentar ligar as nossas empresas com temas comuns e, portanto, nós vamos ter quatro temas para desenvolver e pôr empresas a falarem entre elas sobre como é que poderiam cooperar na área empresarial, em projetos de desenvolvimento em comum, questões como inteligência artificial, microeletrónica, biociências, defesa e, portanto, vamos ter quatro temas. Há áreas onde vamos ter empresas dos três países a discutirem durante uma hora e meia uma temática e, sobretudo, a conhecerem-se. Não sei se há objetivos comerciais que se possam estabelecer, se há parcerias que se possam desenvolver. Mas isto é inovador, nunca foi feito no evento da COTEC Europe. É claramente pioneiro e acreditamos que a integração destas três COTEC e das empresas que estão associadas a estas três COTEC pode ser claramente potenciado. Também foi algo que o nosso Presidente Honorário, o Sr. Presidente da República, nos tinha solicitado também no início do mandato e, portanto, com a organização deste evento, no dia 13, claramente que estamos a dar resposta a essa solicitação que nos tinha sido feita. Portanto, eu acho que isto é marcante deste evento. No dia 14, já foi anunciado que vão ser agraciados com o doutoramento honoris causa pela Universidade de Coimbra o rei de Espanha e o presidente de Itália. Portanto, isto também tem a ver com a vinda deles cá para o evento da COTEC Europa. No dia 14, realmente precisamos de ter uma resposta, de ser aqui com uma resposta da Europa. E, portanto, vamos ter aqui um conjunto de intervenções, de três painéis. Um painel de reitores, reitores das universidades mais antigas que existem em cada um destes três países, para, claramente, poder dar uma resposta de como é que a academia pode ajudar a fazer com que a Europa responda positivamente a este desafio com o qual estamos confrontados.
Pensamento académico a nível do topo.
Exatamente. Mas… como tudo, se não criamos o talento, não criamos o conhecimento e se não criamos o conhecimento vamos ficar curtos para criar tudo o resto. E, portanto, é fundamental. Um segundo painel onde vamos ter três empresários, um de cada país da COTEC Europa, com a sua visão de como é que as empresas devem responder aos desafios com que a Europa está a ser a ser confrontada. E depois temos três ministros, um de cada país, que vão também dizer quais são as políticas públicas que estão a ser implementadas em todos eles. E vamos fechar basicamente o evento com uma apresentação do Mário Draghi, que realmente, antes de sermos desafiados pela presidência americana, ele próprio já tinha desafiado a Europa a rever o status quo e a despertar mais uma vez. Portanto o nosso tema do Call to Action achamos que é muito oportuno e portanto a ideia das muitas pessoas que vão fazer parte deste fórum era que pudessem sair de lá com uma certeza, de que a Europa vai dar resposta e que vai marcar pontos neste momento de desafio que vivemos globalmente.
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Mesmo com acordos comerciais, “já todos ficámos conscientes que isto pode acontecer mais vezes”
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