Metablue procura capital para termómetro que usa IA para detetar otites
As oitites são infecções comuns na infância e quando não tratadas podem dar origem a doenças mais graves. A Metablue quer entrar com o dispositivo de deteção precoce no mercado europeu e americano.
Depois de um piloto na Guarda, a Metablue está a levantar 200 mil euros de capital para concluir o processo de certificação médica do termómetro que usa inteligência artificial (IA) para detetar otites e prosseguir com a aprovação junto da Food and Drug Administration (FDA), para entrada do Otitest na Europa e Estados Unidos.
“Já levantámos 400 mil euros em capital privado. Estamos agora a angariar mais 200 mil euros, até setembro, com o objetivo principal de concluir o processo de certificação médica e prosseguir com o processo de aprovação junto da FDA, para entrada nos mercados europeu e americano”, revela Raul Almeida, CEO da Metablue, ao ECO. “Já realizámos a pré-submissão à FDA e estamos em contacto com um organismo notificado europeu. Já temos o orçamento dos testes necessários para cumprir a legislação europeia e americana. Idealmente, cumpriríamos com o timing em oito a 12 meses”, precisa.
Parte na Agenda Mobilizadora Health from Portugal (HfPT), integrada no Plano de Recuperação e Resiliência (PRR), liderada pela Prologica e dinamizada pelo Health Cluster Portugal, o Otitest já teve um piloto na ULS da Guarda, entre entre 2021 e 2022, junto a 60 doentes — estando, nesta fase a recrutar 500 participantes (entre doentes e não doentes) para testes, através do 2CA-Braga e da ULS Braga, para um novo piloto.
Mas foi a sua inclusão no PRR que “transformou o projeto por completo”, não só “pelo investimento, mas pelo acesso a uma rede de parceiros robusta, com diferentes valências, como o INL, a Everythink, o 2CA Braga, o IPCA, e a Wiselife”, aponta o CEO. Não só permitiu “uma evolução do protótipo”, como foi criada uma “gaming app que permite avaliar o impacto da otite na audição da criança e acompanhar a sua evolução”. Neste momento, o Otitest encontra-se “em fase de novos ensaios clínicos” e em preparação para a certificação médica junto dos reguladores europeus e americanos.
O que faz o termómetro?
O aparelho desenvolvido pela Metablue Solution, um spin-off da Universidade do Porto, é um dispositivo médico, conectado, semelhante a um termómetro de ouvido que permite a deteção precoce de infeções no ouvido em crianças e bebés.
“A tecnologia combina sensores térmicos e óticos com Inteligência Artificial para interpretar sinais clínicos de otite média e indicar a sua probabilidade. O dispositivo é acompanhado de uma aplicação que permite aos pais visualizarem os resultados e acompanharem a evolução da saúde auditiva ao longo do tempo, com especial atenção às fases do ano em que as otites são mais prevalentes”, descreve o CEO.
“Há ainda a possibilidade de aceder a jogos interativos e didáticos, dedicados às crianças, sobre cuidados básicos de higiene para proteção dos ouvidos, e que integram audiometria para monitorizar possíveis impactos auditivos das otites”, refere ainda Raul Almeida.
A otite é uma infeção muito comum em bebés e crianças, “afetando cerca de 90% das crianças até aos sete anos, com grande impacto, provocando uma elevada taxa de idas à urgência, absentismo escolar e laboral por parte dos pais”, destaca. E se recorrentes ou não tratadas, são infeções que podem provocar perda auditiva, mastoidite, meningite ou labirintite.
“É crucial estar atento aos primeiros sintomas da otite, como dor de ouvido, febre, irritabilidade, e perda de apetite. Se existirem sinais é importante que a criança seja observada pelo médico. Ao primeiro sinal, pais e cuidadores poderão realizar sucessivas medições com o Otitest de forma acessível, fiável e remota, e enviar cada resultado ao seu médico de família ou pediatra”, explica Raul Almeida.
Objetivos para a injeção de capital
O novo capital que pretendem angariar tem objetivos claros: “Finalizar os testes clínicos, executar testes de segurança elétrica e compatibilidade eletromagnética (EMC), testes de biocompatibilidade, e implementação de um sistema de gestão da qualidade (QMS) de acordo com os requisitos regulamentares para, assim, assegurar a certificação CE e aprovação pela FDA”, elenca o CEO.
Mas também “reforçar a equipa, sobretudo data scientists e business developers, com o propósito de melhorar os modelos de IA do Otitest, consolidar o plano de comercialização, e preparar a próxima ronda de investimento, centrada na entrada no mercado”, explica.

Hoje a equipa é formada por três elementos — “um engenheiro biomédico [Raul Almeida] que, em criança, sofreu múltiplos episódios de otite, tendo inclusive sido sujeito a cirurgia auditiva, e que pretende que outras famílias ajam rápido e não enfrentem complicações; um software developer [Faustino Pinto] que, prestes a ser pai, assume com humor o seu lado ‘hipocondríaco’ e deseja que o bebé não enfrente dificuldades auditivas; e uma designer de produto [Nayara Hernandez] cuja missão é empoderar mães e famílias migrantes que nem sempre são incluídos na inovação feita em Portugal” —, contando ainda com “um grupo sólido de advisors clínicos e tecnológicos”.
Mas com a futura ronda, um dos objetivos é “reforçar a equipa com perfis nas áreas de data science e business development, fundamentais para escalar a tecnologia e estruturar um plano de comercialização robusto. Queremos ainda envolver mais famílias, garantindo que o Otitest evolui a partir das suas realidades e necessidades concretas”, diz.
Uma “parte adicional do financiamento” será dedicada à “adaptação da tecnologia ao segmento veterinário, através do desenvolvimento do OtiVet respondendo, assim, a uma necessidade semelhante no cuidado auditivo de cães e gatos”, revela o responsável.
(notícia atualizada precisando os números do piloto na Guarda e da existência de um segundo em Braga)
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