O Almirante não se entende como um nacionalista porque não pensa que o valor supremo seja o ódio aos outros países. O Almirante veste a Bandeira e respira o Hino.

O Almirante sempre teve uma certa ideia de Portugal. Para o candidato, não pode haver prestígio sem mistério, tanto mais que a proximidade e familiaridade revelam a normalidade que alimenta o desprezo. Para o candidato Almirante, o silêncio é a maior arma do poder – a clássica dicotomia entre ser prisioneiro das palavras e dono dos silêncios. O Almirante assume-se como um patriota porque coloca acima de todos os valores o amor ao seu país. O Almirante não se entende como um nacionalista porque não pensa que o valor supremo seja o ódio aos outros países. O Almirante veste a Bandeira e respira o Hino.

Quando o Almirante vem falar sobre a preocupação com a “instabilidade”, surge o candidato a Presidente a sublinhar que a política é um assunto demasiado sério para ser deixado ao exclusivo escrutínio dos políticos. Em momentos de incerteza e de crise, os “grandes homens” assumem a resolução da crise como a extensão de um dever nacional, impõem o seu critério de acção e fazem da crise a marca de um carisma pessoal na forma de uma solução política. O Almirante tem a ambição própria de configurar o perfil do “grande homem” providencial.

Para o candidato, os políticos não acreditam no que prometem e ficam surpreendidos quando são levados a sério pelo valor facial das suas afirmações. A bipolaridade dos políticos é o espaço para um outro tipo de acção política. O Almirante afirma-se como a face profunda do espírito de Portugal, a figura de um homem de acção impulsionado pelo egocentrismo, pelo orgulho, pela dureza, pelo calculismo. Todos estes defeitos serão qualidades quando o homem providencial derrama sobre a nação o drama dos grandes feitos políticos. E onde existe vontade haverá sempre a conspiração de um golpe de asa político.

O candidato Almirante pretende levantar Portugal inteiro da lama. O Almirante candidato exige participar na “estruturação da política de médio e longo prazo”. O Almirante Presidente não pretende deixar Portugal cair de novo nos erros e no vómito da mediocridade. Se a concretização deste programa político implica que os portugueses deixem de ser portugueses, o Almirante criará por decreto o novo homem português. Todas as doutrinas e revoluções têm os seus heróis e o Almirante é o herói da sua história mítica de Portugal. E quanto mais conhece os políticos, mais o Almirante Presidente adora a personalidade dos cães.

O Almirante candidato parece que deixa um conselho em forma de aviso a todos os políticos, a todos os partidos, a todos os portugueses – Aqueles que apenas riem no fim são aqueles que não percebem a História.

O Almirante voa com seus pássaros fantásticos, agnósticos, simpáticos, por campos de razões bem conhecidos e quando volta traz-nos sempre rebuçados. O Almirante está à janela de corpo bem iluminado, mas mostra o universo aos portugueses quando desce pelo brilho das estrelas na sombra dos fantasmas de um passado que aprendeu a desmontar no ruído dos brinquedos – Portugal do que é que estás à espera quando tens um pé numa galera e outro no fundo mar?

O Presidente da República está completamente desmoralizado neste final do segundo mandato. Subitamente, o excesso e a política das palavras cansaram o próprio Presidente. A palavra política sempre foi aquilo que mais gostou de fazer para além de ouvir-se e de observar o efeito das suas análises. Privado do prazer da fala, o Presidente definha, esmorece e morre politicamente. Percebe-se agora que a carreira política de Marcelo tenha sido uma eterna esperança sempre por concretizar. Uma carreira feita de derrota em derrota até à vitória final para Belém. Não disfarçando a desilusão, irá Marcelo sair derrotado também da Presidência da República? Com a carga pronta e metida nos contentores, com ou sem amores, será que fica apenas a memória de um Presidente dissolvente?

Subitamente, o Presidente anuncia ao país que vai dedicar-se a ensinar História e Direito ao ensino primário e secundário. Uma tournée de dois anos pelo interior com uma lenta aproximação aos grandes centros. Mais ficaram os portugueses a saber que o Presidente abdica da subvenção a que tem direito optando pela reforma de Professor.

Estas decisões podem ter duas interpretações. Depois de dez anos em Belém, Marcelo precisa de uma peregrinação interior para reflectir sobre o seu futuro na conjugação da República. Depois de dez anos em Belém, Marcelo refugia-se no exílio interior influenciado pelo seu passado na Juventude Universitária Católica. Marcelo não tem saudades do futuro. Marcelo tem a nostalgia do passado. Marcelo é hoje um político triste e sem ilusões. Portugal é um cemitério para o optimismo.

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Navio Almirante

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