Famílias mais ricas do mundo aumentam exposição a ações
As famílias mais ricas do planeta blindam fortunas com ações de mercados desenvolvidos contra o caos global, mas continuam a ignorar a sucessão, deixando a próxima geração em suspenso.
No universo restrito das grandes fortunas, os family offices que gerem em média 1,1 mil milhões de dólares de património por família estão a fazer mudanças significativas nas suas carteiras de investimento, por forma a protegerem-se contra o que consideram ser o maior risco para 2025: uma guerra comercial global.
A conclusão consta do “Global Family Office Report 2025” do UBS, publicado esta quarta-feira, para o qual foram inquiridos 317 family offices em mais de 30 mercados em todo o mundo, representando no total cerca de 651 mil milhões de dólares de riqueza.
O relatório revela que estes gestores de fortunas estão a alterar as suas estratégias de alocação de ativos, aumentando a exposição a ações e obrigações de mercados desenvolvidos, enquanto reduzem liquidez e mostram cautela com os mercados emergentes.
As alocações a ações de empresas em mercados desenvolvidos aumentaram para 26% em 2024 e os family offices que planeiam fazer alterações em 2025 pretendem aumentar mais 29%.
“Com uma divisão amplamente estável na alocação estratégica de ativos entre classes de ativos tradicionais e alternativos, os family offices aumentaram as alocações em ações de mercados desenvolvidos, onde existem oportunidades significativas para aceder a tendências de crescimento estrutural“, destaca o relatório.
Num momento de incerteza para o comércio e a economia global, assiste-se a um reequilíbrio plurianual da alocação estratégica de ativos por parte das famílias mais ricas do planeta.“As alocações a ações de empresas em mercados desenvolvidos aumentaram para 26% em 2024 e os family offices que planeiam fazer alterações em 2025 pretendem aumentar para 29%”, refere o relatório do UBS.
Nos próximos cinco anos, quase metade (46%) prevê um aumento significativo ou moderado na sua alocação para ações de mercados desenvolvidos. “Mesmo com a pesquisa largamente realizada no primeiro trimestre, os family offices já estavam bem cientes dos desafios colocados por uma guerra comercial global, identificando-a como o maior risco do ano. No entanto, em entrevistas realizadas após a turbulência do mercado que eclodiu no início de abril, eles reiteraram a sua alocação estratégica de ativos diversificada e preparada para todas as condições”, destaca Benjamin Cavalli, diretor de clientes estratégicos da UBS Global Wealth Management, em comunicado.
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Guerra comercial e riscos geopolíticos dominam
O conflito geopolítico continua a ser a principal preocupação para os próximos anos por parte das famílias mais afortunadas. Quando questionados sobre as maiores ameaças aos seus objetivos financeiros nos próximos 12 meses, mais de dois terços (70%) dos family offices apontaram o dedo para “uma guerra comercial”. A segunda maior preocupação é a ocorrência de um grande conflito geopolítico, referem os dados do relatório.
Olhando para os próximos cinco anos, as preocupações evoluem, com os family offices a mostrarem-se cada vez mais preocupados com o que pode seguir, como a ocorrência de um conflito geopolítico, uma recessão global ou uma crise da dívida. Aliás, quase dois terços (61%) preocupam-se com um grande conflito geopolítico, mais de metade (53%) está apreensivo com uma recessão global, e 50% estão preocupados com uma crise da dívida.
Para proteger as carteiras dos milionários, os family offices estão a recorrer a diversas estratégias. “A estratégia mais comum para melhorar a diversificação da carteira é depender mais da seleção de gestores e/ou gestão ativa, de acordo com uma média de quatro em cada dez (40%) family offices globalmente” que “é seguido por hedge funds, usados por quase um terço (31%)”, refere o relatório.
Pouco mais de metade das famílias dispõe de um plano de sucessão do património, o que deixa um grande número de famílias sem considerar os riscos de falecer sem um testamento ou um plano patrimonial.
Além disso, as carteiras das famílias mais ricas do mundo estão também a aumentar a exposição a participações em ativos ilíquidos (27%), e mais de um quarto (26%) está a aumentar as suas posições em obrigações de alta qualidade e de curta duração.
A concentração geográfica dos investimentos continua também a ser um tema relevante. A América do Norte e os países da Europa Ocidental permanecem a ser os destinos de investimento favoritos das famílias mais ricas do mundo, destinado cerca de 79% da sua carteira a ativos investidos nestas regiões.
O UBS destaca, por exemplo, que os family offices dos EUA alocaram 86% dos seus portefólios para a América do Norte, sublinhando que “nenhuma outra região tem um viés doméstico tão grande”. O relatório refere também que os family offices na América Latina têm mostrado uma preferência por classes de ativos tradicionais (71%), com 34% em ações e 31% em obrigações. Na Suíça, também há uma preferência por classes de ativos tradicionais (56%), com 34% em ações e 13% em renda fixa.
Sucessão patrimonial é uma prioridade adiada
Um dos pontos mais surpreendentes do relatório é que apesar das fortunas gigantescas geridas, muitas famílias continuam sem planear adequadamente a sua sucessão patrimonial.
“Pouco mais de metade das famílias dispõe de um plano de sucessão do património, o que deixa um grande número de famílias sem considerar os riscos de falecer sem um testamento ou um plano patrimonial”, referem os analistas do UBS, apesar de notarem “um pequeno aumento no número de famílias com planos em vigor (53% face a 47% em 2024).
Na região do Médio Oriente (41%) e Norte da Ásia (36%), os family offices são os menos propensos a realizar planos de sucessão. Em contraste, os family offices dos EUA (64%) e do Sudeste Asiático (65%) são os mais propensos a tê-los.
Entre as várias razões que levam os milionários a continuarem a adiar frequentemente um plano sucessório está o facto de quase um terço (29%) daqueles sem plano considerar “que os proprietários beneficiários não sentem que isto seja uma prioridade ainda ou que têm ainda muito tempo para o fazer no futuro.” Mais de um quinto (21%) refere que os proprietários beneficiários não decidiram como dividir a sua riqueza, enquanto quase tantos (18%) indicaram que os proprietários não tiveram tempo para discuti-lo.
A crescente instabilidade internacional está a levar as famílias mais abastadas a repensar profundamente a forma como protegem e fazem crescer o seu património. O movimento para ativos considerados mais seguros e a aposta em estratégias de diversificação demonstram uma preocupação em antecipar cenários adversos e salvaguardar o capital face a eventuais choques globais.
Esta tendência evidencia uma maturidade crescente na gestão das grandes fortunas, com decisões cada vez mais fundamentadas na análise de riscos e na resiliência das carteiras. Por outro lado, permanece um paradoxo relevante: apesar do rigor na gestão financeira, muitas destas famílias continuam a descurar a preparação para a sucessão, colocando em risco a continuidade das suas fortunas.
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