Livre pede uma frente de esquerda nas autárquicas e que Montenegro rejeite uma revisão constitucional

Tavares quer que a esquerda "desperte" e evite que o Chega conquiste câmaras. E alerta para o fim do "regime saído do 25 de abril" com uma alteração à Constituição com a direita e extrema-direita.

O porta-voz do Livre, Rui Tavares, lançou um desafio a toda a esquerda, incluindo o PAN: formação de “listas progressivas” conjuntas para impedir que o Chega conquiste muitas câmaras municipais. À saída de uma reunião em Belém esta quarta-feira, convocada pelo Presidente da República para perceber se o Governo da AD tem condições para sobreviver a moções de rejeição, pediu ainda a Luís Montenegro que rejeite a revisão constitucional, proposta pela IL, sob pena de matar “o regime saído do 25 de abril”.

“A esquerda tem de partir ao encontro das populações, tem de ir aos concelhos onde a extrema-direita ficou em primeiro lugar e verificar quem está capaz de encarnar candidaturas da sociedade civil para tentar ver que consensos podemos ter”, defendeu. Tavares lembrou que o PCP já perdeu câmaras para o PS e que, agora, corre “o risco de perder bastiões diretamente para a extrema-direita”.

“O Livre vem dizer à esquerda que deve despertar para esta realidade, para que haja na maior parte das câmaras possíveis listas progressistas”, sugeriu.

Insiste que a esquerda deve fazer uma reflexão “enorme, de amplitude histórica, mas que não seja longa”, durante junho e no próximo julho, porque as listas autárquicas devem fechar nesta altura. Tavares salientou ainda que já tinha avisado para o problema do crescimento da extrema-direita, durante a campanha eleitoral, alertas que não foram escutados. Por isso, é preciso “acordar”, sublinha.

“As pessoas estão a encarar estas autárquicas como apenas mais umas”, lamenta. “O enquistamento numa base de poder faz-se através do poder autárquico, ou sindical. As legislaturas no Parlamento duram quatro anos ou menos. Quem tem 50 câmaras hoje vai ter 50 câmaras durante muito tempo”, avisa.

O dirigente do Livre não quer definir “fórmulas finais” para a frente de esquerda nas autárquicas, mas defende pragmatismo, porque por vezes a esquerda não é “pragmática de todo” e pode acordar “numa bela manhã de setembro com o mapa político” radicalmente diferente. Critica a obsessão dos “sectarismos à esquerda”, promete ter uma relação construtiva com a nova liderança do PS e insiste em falar aos eleitores de esquerda “assustados”: “Não há todo o tempo do mundo para debates académicos. É preciso entregar listas”.

Rui Tavares pediu ainda ao Presidente da República que tenha garantias por parte de Luís Montenegro de que não avança com uma revisão constitucional, como propôs a IL, sem, pelo menos, um consenso com a esquerda. “A IL disse para não estarmos com papões e hoje a IL apresentou um projeto de revisão constitucional a seguir a umas eleições extremadas. Já sabíamos que a IL gostava de motosserras, agora percebemos que gosta de mandar gasolina para o fogo com uma Assembleia da República, na qual é possível uma maioria apenas com a direita ou a extrema-direita ao contrário de outras revisões que contaram com o consenso de setores da direita e da esquerda”, argumentou.

Para além disso, acrescentou, a revisão da Constituição “não foi tema de campanha”. “Não existe legitimidade para uma revisão que constituiria uma mudança de regime. É preciso ter noção para o abismo para o qual estamos a olhar”, alertou.

Tavares defendeu aqui que o papel do Presidente da República é crucial, “é a mais alta válvula segurança do regime”. O equilíbrio do regime depende de que esta legislatura decorra com o maior equilíbrio possível e resolvendo problemas como saúde e habitação, em vez de “inventar a história de que a Constituição é que é o problema”, criticou.

“Vimos isso na troika e era irreal. Espero que haja sensatez do primeiro-ministro e que não force esse assunto perante uma Assembleia da República inusitada ou que diga que tem de reunir um consenso mais amplo, senão vamos ter o fim do regime saído do 25 de abril”, destacou.

Quanto à viabilização de uma comissão parlamentar de inquérito (CPI) ao primeiro-ministro por causa da empresa familiar Spinumviva, pedida pelo PS, o porta-voz do Livre disse que é uma reflexão que o partido não tem de fazer agora, defendendo antes outra prioridade: a apresentação de uma CPI sobre “a prontidão de Portugal perante cenários de emergência na sequência do apagão do mês passado”.

(Notícia atualizada às 18h57)

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