Tempestade nas bolsas após Trump ameaçar UE com mais tarifas
Ações de fabricantes automóveis lideram quedas após ameaça tarifária de 50% dos EUA sobre a União Europeia, mas é sobre o dólar e a dívida dos EUA que a ameaça de Trump está a ter mais efeito.
Uma simples publicação nas redes sociais foi suficiente para Donald Trump desencadear mais uma autêntica tempestade nos mercados financeiros globais esta sexta-feira. Através da rede social Truth Social, o presidente norte-americano anunciou a intenção de impor tarifas de 50% sobre todas as importações da União Europeia a partir de 1 de junho, classificando o bloco europeu como “muito difícil de lidar” nas negociações comerciais.
O impacto foi imediato. O índice de volatilidade VIX, conhecido como o “índice do medo” de Wall Street, disparou mais de 20%, atingindo os 25,18 pontos, o valor mais elevado em mais de duas semanas. Os mercados acionistas europeus entraram em queda livre, com o DAX alemão a recuar 2,7% e o Stoxx 600 europeu a perder 2% após ter estado a negociar com pouca oscilação durante a manhã.
As empresas europeias mais expostas ao mercado norte-americano estão também a ser as mais penalizadas esta sexta-feira. É o caso dos fabricantes automóveis alemães, como a Porsche, a Mercedes e BMW, que já estiveram a recuarem mais de 4%; as empresas de semicondutores, como a STMicroelectronics, que perde mais de 4%, e também a fabricante de óculos de sol EssilorLuxottica, que afunda 5,5%.
Do outro lado do Atlântico, os principais índices norte-americanos abriram em queda, com o Dow Jones e o S&P 500 a caírem cair 0,9% e 1%, respetivamente, enquanto o tecnológico Nasdaq começou a sessão a perder 1,3%.
As Bunds a 10 anos negoceiam com uma taxa média pondera de 2,56%. Já a obrigação do Tesouro norte-americano a 10 anos regista um aumento de quase 5 pontos base da yield.
O anúncio de Trump provocou também movimentos contraditórios nos mercados obrigacionistas. Enquanto as yields das obrigações europeias afundaram como resultado de uma corrida por parte dos investidores, as yields americanas seguiram a trajetória inversa.
Atualmente, a curva de rendimentos da Alemanha revela que os títulos de dívida do Tesouro alemão, por exemplo, negoceiam com as yields a caírem entre 7 e 9 pontos base. As Bunds a 10 anos negoceiam com uma taxa média pondera de 2,56%. Já a obrigação do Tesouro norte-americano a 10 anos regista um aumento de quase cinco pontos base da yield, estando atualmente a negociar nos 4,5%, enquanto as obrigações a 30 anos mantêm-se a negociar acima dos 5%, próxima dos máximos de outubro de 2023.
Este movimento aparentemente paradoxal reflete as preocupações crescentes dos investidores com a saúde fiscal dos EUA. A recente aprovação pelo Congresso do plano fiscal de Trump, que poderá aumentar a dívida federal em cerca de 3,8 biliões de dólares ao longo da próxima década, já tinha pressionado as yields americanas em alta durante a semana.
Dólar perde força e ouro dispara
Também em resposta ao mais recente “post” de Trump está a reagir a moeda verde. O dólar está a resvalar mais de 0,5% contra um cabaz de seis moedas (em que está incluído o euro e o iener), posicionando-se para uma perda semanal de 1,1%, ao mesmo tempo que o dólar caminha para a primeira descida semanal em cinco semanas face ao euro e ao iene.
Esta fraqueza do dólar surge apesar do aumento das yields americanas, numa clara demonstração de que os investidores estão a abandonar os ativos norte-americanos.
Num movimento inverso surge o ouro, que está a beneficiar desta fuga dos investidores para ativos de refúgio, estando a valorizar 1,4% para 3.341 dólares, aproximando-se dos recordes históricos estabelecidos no mês passado.
Além das ameaças à União Europeia, Trump dirigiu também as suas críticas à Apple, ameaçando impor tarifas de 25% sobre os iPhones que não sejam fabricados nos Estados Unidos. “Informei há muito tempo Tim Cook da Apple que espero que os seus iPhones vendidos nos EUA sejam fabricados e construídos nos EUA, não na Índia ou noutro local qualquer”, escreveu Trump na Truth Social.
As ações da gigante tecnológica estão a cair 2,8% depois de já terem estado a desvalorizar 3,5%, pouco tempo antes da abertura de Wall Street, refletindo as preocupações dos investidores sobre o impacto destas medidas nos custos de produção da empresa.
Com as negociações entre os EUA e a União Europeia aparentemente num impasse, e com Trump a classificar o bloco europeu como tendo sido “formado com o objetivo principal de tirar vantagem dos EUA no comércio”, os mercados preparam-se para um período prolongado de volatilidade.
Esta nova escalada representa uma viragem dramática face ao período de relativa calma que se seguiu à “pausa de 90 dias” anunciada em abril, quando Trump recuou das tarifas mais agressivas inicialmente impostas. Os mercados tinham recuperado nas últimas semanas com a esperança de que as tensões comerciais pudessem ser resolvidas através de negociações.
A ameaça de novas tarifas levou os mercados a apostarem numa maior flexibilização monetária por parte do Banco Central Europeu. Os mercados monetários passaram a descontar 65 pontos base de cortes adicionais em 2025, o que implica três reduções de 25 pontos base nas restantes cinco reuniões programadas do BCE.
Esta mudança de expectativas reflete as preocupações sobre o impacto económico que as tarifas poderão ter na Zona Euro, particularmente num momento em que os dados económicos europeus já mostravam sinais de fraqueza.
Com as negociações entre os EUA e a União Europeia aparentemente num impasse, e com Trump a classificar o bloco europeu como tendo sido “formado com o objetivo principal de tirar vantagem dos EUA no comércio”, os mercados preparam-se para um período prolongado de volatilidade.
A implementação efetiva destas tarifas poderá marcar o início de uma nova fase da guerra comercial global, com consequências imprevisíveis para a economia mundial.
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