As notas José Miguel Júdice na TVI
José Miguel Júdice tem um novo espaço de intervenção na TVI, à segunda-feira no Jornal das 8. E aqui no ECO, publica as notas que suportaram o comentário do "Porquê?".
Vai começar uma nova série do ‘Porquê’, à segunda-feira no Jornal das 8 da TVI, e espero que corra tão bem aqui como correu durante quase um ano na TVI24. Tentarei fazer-vos pensar aí em casa, concordando ou discordando. E continuarei a ser totalmente independente, atacando quando necessário, elogiando quando inevitável (acho que o papel de um comentador é mais o primeiro do que o segundo).
Espero que por vezes riam ou sorriam (não, isto não tem a ver com Rui Rio…) e outras vezes fiquem chocados ou revoltados. E verão que não vos trago notícias (esse papel nobre é para jornalistas) e que muitas vezes falarei de temas que nada têm a ver com a atualidade. Mas hoje a atualidade entrou-nos por todos os poros do corpo
Eleições autárquicas – Porquê este resultado?
Foi mau de mais para o PSD. A rejeição de Pedro Passos Coelho, mas não só. Também foi resultado de o PSD há muito não conseguir ter uma linha ideológica, sociológica, política e estratégica.
Afinal, que ideias defende o PSD? Qual é a base de apoio social que pretende? Em que lugar do espetro político se quer situar? Que alianças e para que fim quer fazer?
O mundo mudou muito – mas no essencial tudo continua igual. Se o PSD quer ser alternativa ao PS, tem de se diferenciar ideologicamente (mais classes médias e jovens, mais sentido do risco, mais proteção limitada aos verdadeiros pobres: o liberalismo avançado de Sá Carneiro e não a social democracia do PS).
O PSD tem de ter uma base de apoio, mais sociedade civil e menos Estado, mais tecido de pequenas e médias empresas, mais luta contra os impostos e redução do peso do Estado. E tem de escolher um lugar no espetro político (mais centro do que esquerda).
O PSD tem de tentar ser a cabeça de um bloco oposto aos partidos estatizantes, tem de ser uma alternativa ao PS e não o partido mais fraco de uma coligação. Tem de saber o que fazer de André Ventura e do facto de ele ter aumentado cerca de 50% a votação do PSD em Loures. Não pode cair no extremismo.
Não acredito que isso vá ocorrer, vão querer continuar a sofismar isto tudo como há muitos anos o fazem, e tudo acabará numa guerra de chefes e barões.
Já para o PS, o resultado das autárquicas foi bom de mais, uma vitória impressionante.
Como tenho dito há quase um ano, o PS vai, provavelmente, ganhar em 2019 com maioria absoluta, mas o PS não queria que se soubesse tão cedo.
O PCP perdeu 15% dos votos nas eleições de que mais gosta – perdeu um terço das presidências de câmara – e o BE não herdou todos os votos perdidos. Como aqui anunciei há dois meses, o PCP pode abster-se no orçamento, começando o seu inexorável afastamento da geringonça.
E isso até porque, nas legislativas de 2019, o PS (com as credenciais de esquerda que ganhou) vai ter muito voto útil contra a direita. Se a vitória do PS se fosse igual à hoje [domingo], não daria para a maioria absoluta.
Sem contar com o voto independente de centro e direita (muito forte em Oeiras e Porto, por exemplo), o resultado das autárquicas foi 37% para o PS e 31,7% para o centro e direita. O PS aumentou apenas 150 000 votos e a direita teve o mesmo número de votos, passando a diferença para 350 mil.
O movimento racional é o Bloco de Esquerda aproximar-se mais do PS, até uma coligação (e o PS já pode fazer isso sem assustar os moderados), e o PCP afastar-se mais, até à oposição.
Conclusão. A partir de agora, a geringonça está coxa.
O resultado das autárquicas não foi bom para o Presidente da República.
- Marcelo quer estabilidade, a geringonça a funcionar, e contrabalançar, ele próprio, a extrema-esquerda, com um PSD sereno.
- Marcelo não vai ter nada disso.
- A fase de rei está a acabar e a fase da política de Presidente a começar
Nestas autárquicas, há uma vitória pessoal e total de Assunção Cristas.
Os dados da Assembleia Municipal de Lisboa para o PSD são muito curiosos – o PSD teve mais de 15% em vez de 11% para a vereação – 0,4% que votou PSD para a Assembleia Municipal, votou para Câmara à esquerda; mas 3,8% dos 15% votou em Assunção Cristas para a presidência da Câmara.
Que fazer com isto é, como antecipei há dois meses, a questão estratégica essencial para Assunção Cristas. Resumindo: investir na AD ou manter em aberto uma aliança com PS em 2019? Voltaremos ao tema, claro.
A Catalunha ou o começo do crise dos Estados nacionais europeus
O referendo fna Catalunha foi uma farsa ou um carnaval (como disse José Luis Cebrian, o fundador do El Pais). Mas foi também um grande sucesso político para a causa independentista, o mundo esteve do lado deles, as imagens despertaram emoções, parecia, meu Deus e guardadas as proporções, a primavera de Praga ou o nosso 25 de abril!
Por toda a Europa, muitos se sentiram catalães nos seus regionalismos E, agora, vejam aqui o mapa que extraí de um artigo de José Manuel Fernandes no Observador.
O pontapé de saída para a crise total dos Estados que se formaram no século XVII e XVIII na Europa está aí à vista.
A União Europeia facilitou o início do processo – e a sua crise acelerou-o, Os populismos serão regionalistas. Quer isto dizer que as atuais nacionais europeias vão explodir? Não é forçoso – mas é inevitável que os Estados nacionais cedam poder para baixo – e é provável que a solução atual da União Europeia seja cederem poder para cima. Voltarei também a este tema no futuro.
E desculpem não ter tempo para o já famoso “cantinho das tontices”. Para a semana, prometo que não falha.
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