O líder parlamentar do PSD avisa que, caso o próximo líder desperdice o legado de Passos Coelho, causara "um dano imenso" ao país. O objetivo no futuro é reconquistar a confiança de nichos eleitorais.
Credibilidade, competência, um projeto alternativo, os interesses do país acima dos do partido e… afetos. São estas as características fundamentais que o novo líder do PSD precisa de ter, segundo Hugo Soares.
Contudo, o líder parlamentar continua a não se comprometer: para o ex-líder da JSD tanto Rui Rio como Pedro Santana Lopes têm a capacidade para “emprestar essas qualidades pessoais” ao partido. A missão de qualquer um dos dois será, segundo Hugo Soares, “reganhar a confiança de alguns nichos eleitorais”. Para o mais novo líder parlamentar do PSD existem erros de perceção naquilo que o PSD fez à função pública ou aos pensionistas.
Se tivesse de traçar um perfil para o próximo líder do PSD qual seria?
O futuro primeiro-ministro de Portugal.
Com que características fundamentais?
Que coloque sempre à frente dos interesses do partido os interesses coletivos do país. Se assim o fizer tenho a certeza absoluta que será um grande primeiro-ministro e um grande líder do partido.
Algum dos dois candidatos anunciados não cumpre isso ou irá desperdiçar a herança de Pedro Passos Coelho?
Qualquer um deles fará melhor do que está a fazer António Costa. Não tenho qualquer dúvida sobre isso. Aquele que entender que pode desperdiçar o legado de Pedro Passos Coelho está a causar um dano imenso ao país porque esse legado é inestimável. A história dirá isso e creio que o presente já o demonstra. Não acredito que nenhum dos dois o faça.
O PSD precisa de afetos para ganhar as eleições de 2019?
O PSD precisa muito de afetos para ganhar as eleições de 2019. Precisa de credibilidade, de competência de um projeto alternativo e tenho a certeza que qualquer um dos líderes, seja ele o doutor Rui Rio ou o doutor Pedro Santana Lopes, emprestará essas qualidades pessoais ao PSD.
Disse numa entrevista que o PSD também tinha de reganhar a confiança. Qual a razão para a ter perdido?
Disse que o PSD tinha de reganhar a confiança de alguns nichos eleitorais. Houve essa perceção de que o PSD tratou mal a função pública, que foi demasiado penalizador para os pensionistas… É preciso encontrar um discurso para que essas pessoas percebam que, para já, nem tudo o que se percecionou foi assim. Há uma ideia completamente errada que o PSD cortou as pensões a toda a gente. Sabemos que nenhuma pensão abaixo de 600 euros foi cortada. Continuámos até a aumentar as pensões mais baixas.
Qualquer um deles [Rui Rio ou Pedro Santana Lopes] fará melhor do que está a fazer António Costa.
É verdade que o PSD pediu um sacrifício muito grande às pessoas, não tenho dúvida, sobretudo aos que mais tinham. Mas, mesmo aqueles que vivem remediados, tiveram de fazer um esforço grande. Não tenho a mínima dúvida sobre isso. É importante o PSD recuperar esses nichos eleitorais para poder ter maiorias absolutas confortáveis. Já não é verdade que precisa disso para ganhar eleições como ficou demonstrado em 2015.
O PS tem mais eficácia na comunicação que faz?
Isso tem porque, de facto, são uns ilusionistas, mas não estou a dizer isso. O PSD ganhou as últimas eleições de 2015. Se o PS também fosse muito bem a comunicar podia ter ganho essas eleições. E não ganhou, em circunstâncias difíceis para o PSD. Temos [no PSD] de encontrar formas de comunicar que as pessoas melhor percecionem.
Rui Rio ou Pedro Santana Lopes?
Os dois são excelentes candidatos à liderança do PSD.
Ainda não decidiu o seu voto? Vai apoiar um deles?
O grupo parlamentar deve ser uma referência de estabilidade e do combate político e, portanto, estamos muito concentrados no nosso trabalho de oposição construtiva ao Governo do doutor António Costa e disso não nos desviaremos um milímetro. Coisa diferente é o Hugo Soares enquanto militante do PSD e dirigente local. Eu tomarei a minha decisão e quando achar que a devo comunicar farei primeiro aos dois candidatos e depois, se alguém tiver interesse, farei também ao país.
Fica na liderança do grupo parlamentar independentemente do líder escolhido?
Eu fui eleito para um mandato de dois anos. Não há memória de um líder parlamentar que seja ostensivamente contra a vontade do presidente do partido. Não se esqueça que o grupo parlamentar deve corporizar o que é defendido pelo presidente do partido e pelos órgãos próprios do partido. Não fazia sentido absolutamente nenhum, se houver uma divergência de fundo com o líder que vier a ser eleito sobre aquilo que é o caminho que eu acho que o PSD deve seguir, continuar como líder parlamentar.
Houve essa perceção de que o PSD tratou mal a função pública, que foi demasiado penalizador para os pensionistas…
Não vejo neste momento, com toda a franqueza, que haja, desse ponto de vista, nenhuma divergência com nenhum dos dois candidatos. Nem é uma matéria que me preocupa. É uma reflexão que terei de fazer e é sobretudo uma conversa que terei com o próximo presidente do partido, como não podia deixar de ser.
Com a decisão de Passos Coelho, o senhor deputado acaba por ser a figura mais visível do PSD. Só foi deputado durante quatro anos e é o mais novo dos líderes parlamentares atuais. Não considera esta uma subida meteórica?
Não sou muito dado à astrologia. Esta subida aconteceu com naturalidade, por força da confiança que os colegas depositaram em mim. Encaro as coisas com naturalidade, mas também com muito sentido de responsabilidade. O facto de ser verdadeiramente o líder parlamentar do PSD mais novo de sempre não é uma vantagem, é de facto um ónus que eu carrego todos os dias. Não significa menor qualidade ou menos competência. Pelo contrário, deve significar sempre maior arrojo, maior vontade e determinação.
Apoia a ideia de que o PSD, num futuro não muito longínquo, tem de se reformar internamente?
Essa conversa de os partidos se reformarem internamente é recorrente. Os partidos têm sempre de encontrar condições de se reinventar e responder àquilo que são os anseios das populações. Creio que os partidos se podem modernizar sempre, mas são o referencial da democracia e nunca enveredarei pelos discursos de dizer mal dos partidos porque são essenciais para que possamos viver como vivemos hoje.
Está satisfeito com o sistema eleitoral interno do PSD?
É um sistema que tem correspondido, no seu essencial, àquilo que é a vontade dos seus militantes. Foram os militantes que escolheram este sistema se eleição direta do seu líder. Permite maior participação de todos os militantes, todos podem votar e escolher o líder. De todos os modelos este parece-me ser o mais bem conseguido.
Foi notícia recentemente que a maior parte dos militantes não tinha as quotas em dia. Receia que a baixa participação dos militantes desvirtue a eleição?
Estou absolutamente convencido que no dia das eleições internas do partido a esmagadora maioria dos militantes vai ter as quotas em dia. É perfeitamente normal que, não havendo atos eleitorais, as pessoas se descuidem e não façam o pagamento da quota e agora façam a sua atualização para poder ter agora o seu direito de participação. Não é uma questão que me preocupe. Os militantes que querem votar e escolher o líder do partido pagarão a sua quota e farão o seu voto em consciência no dia das eleições.
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Hugo Soares: “O PSD precisa muito de afetos para ganhar as eleições de 2019”
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