Saem 423 mil euros para o presidente da Caixa
A CGD tem de ser transparente e bem gerida porque é o banco de todos os portugueses, algo que a comunicação do banco nunca compreendeu nem nunca conseguiu gerar esse laço emocional.
Se lhe chamou a atenção este título, explicito que não saiu nenhum prato para a mesa do fundo no restaurante onde almoçou ontem. A verba mencionada é o manjar do líder de um banco público, em dificuldades e que vai custar muitos esforços a todos nós.
A Caixa Geral de Depósitos (CGD) pertence à comunidade, diz respeito a todos, vive um momento em que está descapitalizada de dinheiro e descapitalizada de ligação emocional a todos os portugueses.
Se perguntarem do que as pessoas se lembram da CGD no último ano, tenho a certeza que as principais memórias seriam: buraco nas contas, créditos malparados, alguns negócios obscuros, vazio de poder de vários meses, salários e mordomias dos novos administradores. Em suma, em duas palavras, tudo mau.
Na fabulosa série “Mr. Robot”, há um diálogo em que se diz «dá a um homem uma arma e ele rouba um banco… dá-lhe um banco e ele rouba o mundo». Ora, a banca tem de repelir essa péssima imagem que caiu sobre ela, em virtude também de muitos erros próprios. E a CGD, ainda mais por ser pública, não pode cair nesse lodaçal que reina na opinião pública.
Mas as notícias de salários de presidente, e administradores executivos e não executivos, as confirmações pela boca de Mário Centeno que esta nova equipa da CGD irá auferir quase o dobro da anterior, caem mal na generalidade dos portugueses, sobretudo quando ainda não temos a certeza absoluta de quanto vai custar a todos a recapitalização da mesma.
A banca é uma estrutura fiduciária e a fidúcia provém do latim significando confiança. Ora, no mundo as pessoas perderam a confiança, a palavra que empresta solidez às instituições bancárias e lhes aporta boa comunicação.
Para lá dos erros próprios de gestão, a banca comunica mal, fala economês para os jornais económicos, esquecendo-se que são as pessoas, os seus pequenos depósitos, as micro e pequenas empresas que são o nosso tecido empresarial, que dão segurança e fluidez ao seu negócio. E a banca conversa pouco com as pessoas comuns, a mensagem não chega ao coração dos seus depositantes, quando elas querem apenas compreender e sentir confiança na estrutura que guarda o seu dinheiro e não relatórios e conversas que não entendem.
A CGD tem de ser transparente e bem gerida porque é o banco de todos os portugueses, algo que a comunicação do banco nunca compreendeu nem nunca conseguiu gerar esse laço emocional. É tempo de a CGD deixar de ser um foco de más notícias que aniquilam a sua reputação e destroem a empatia com a marca. António Domingues tem essa responsabilidade. Se não o conseguir estará, como em “O Terraço”, de Ettore Scola, a realizar dois filmes ao mesmo tempo: o primeiro e o último.
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