O dia em que conheci o Sr. Engenheiro
Numa apresentação de contas da Sonae, enchi-me de coragem e, no final, fui diretamente falar com o Engenheiro. Ele estava acompanhado, interrompi e disse-lhe: "O Sr. Engenheiro é uma fraude".
Conheci o Eng. Belmiro de Azevedo já lá vão uns anos — não sei precisar quantos. Era novinha nestas questões do jornalismo, mas ambicionava, como todos os jornalistas de economia, entrevistar o dono da Sonae. Como habitualmente se faz nestas coisas, enviei vários faxes — na altura ainda não havia emails — aos quais, naturalmente, não tive resposta.
Numa apresentação de contas da Sonae, que ainda eram no Hotel Porto Palácio — muito tempo antes de ser criado sequer o centro de congressos –, enchi-me de coragem e, no final, fui diretamente falar com o Engenheiro. Ele estava acompanhado, interrompi e disse-lhe: “O Sr. Engenheiro é uma fraude”.
Ele gostava de dizer que era um desafiador e acho que gostava de quem o desafiava. Riu-se, olhou-me e perguntou: “Então porque é que diz isso?”. “É simples”, respondi. “Passa a vida a dizer que se deve dar lugar aos jovens valores mas só dá entrevistas aos diretores de jornais”.
A resposta saiu-lhe rápida. “Nunca li nada escrito por si”, retorquiu. A sorte protege os audazes e é verdade. “Desculpe, mas não é verdade. Ainda na sexta-feira entrevistei para o Semanário Económico o Eng. Álvaro Barreto, que me ligou a dizer que a entrevista tinha saído bem, tão bem que até o Eng. Belmiro lhe tinha ligado a dar os parabéns”.
Riu-se mais uma vez e disse: “Vou estar atento ao que vai escrever sobre as contas da Sonae”.
Na sexta-feira, dia em que ia para as bancas o Semanário Económico, peguei no jornal, coloquei-o dentro de um envelope e juntei-lhe uma nota: “Para que nunca mais diga que não leu nada escrito por mim”.
A resposta chegou também por correio, numa carta manuscrita e, entre outras coisas, uma promessa: “A minha próxima entrevista é sua”.
E foi. Não foi de imediato porque foi ele a decidir o “timing“. Mas um belo dia, liga-me de Londres, e pergunta-me: “Sempre quer a entrevista comigo? Se sim, esteja amanhã de manhã em Lisboa”. Tinha passado mais de um ano, mas a promessa foi cumprida. Daí para cá, cruzámo-nos inúmeras vezes. Voltei a entrevistá-lo, mas aquele primeiro momento ficou registado.
Um grande bem-haja Eng. Vai fazer-nos falta.
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