Corrupção, armas e loucuras do mundo
A espuma dos dias afasta-nos do que nos devia preocupar. Aqui estão vários temas que não comandam as agendas mediáticas que estão cheias de tele-lixo.
Vladimir Putin é novamente candidato presidencial, acho que mais valia decretar que seria eterno que seria menos hipócrita. Nessa corrida eleitoral que todos sabemos como vai terminar, para lá das purgas e prisões dos que de maneira ténue lhe mordem os calcanhares, anunciou uma «arma invencível», um projéctil que pode atingir qualquer ponto do mundo, bem como o desenvolvimento do programa nuclear que, nas palavras dele, serve para equilibrar o mundo e dar mais tranquilidade. Putin, homem inteligente e duro, percebeu que a alma russa gosta de um czar de poder férreo, com ambições imperialistas e sabe que do lado do arqui-inimigo está um líder débil e que não percebe nada de geoestratégia. A sua retórica centrípeta é a do homem providencial que pode tudo contra todos, a centrífuga é a de um homem reservado que espera o erro dos outros para crescer em influência.
Na China, temos outro líder inteligente e de vestes de imperador. Tem uma estratégia global em termos económicos de que a novel Rota da Seda é porta-estandarte, mas faltava-lhe sobrepor-se ao partido. Pois, a partir de agora, acabou a liderança colectiva do Partido Comunista. O seu primeiro-ministro anunciou uma «nova era» que vai dar apenas na abolição da limitação de mandatos do timoneiro e natural perpetuação no poder de Xi Jinping que ganha contornos de sucessão efectiva de Mao, pois só ele tinha acumulado tanto poder. Para sublinhado desta nova ascensão mundial da China, o anúncio de um aumento de 8 por cento nos gastos militares, cerca de 141 mil milhões de euros.
Robert Mueller, o conselheiro especial designado para investigar as intromissões da Rússia na arena política americana, acusa a “Internet Research Agency”, mais conhecida por “trolls de Ogino”, de criarem “fake news” e influenciarem a política americana desde 2014, com especial enfoque na luta pela Casa Branca em 2016, espalhando informações depreciativas sobre Hillary Clinton, Ted Cruz e Marco Rubio. A grande dúvida é mesmo saber de quem é a mão atrás do arbusto. Quem estava interessado e porquê na vitória de Donald Trump? Porque fábricas de “trolls” todos sabiam que existiam e ninguém as retratou melhor que a excepcional série “Mr. Robot” e é assustador deparar com o facto de, cada vez mais, poucos, poderem manipular a escolha de milhões.
Só se fala de Itália aquando das eleições ou quando há uma ameaça sobre a União Europeia por causa da falência da sua banca, apesar de ser um país fabuloso e uma das economias mais poderosas do continente. Nestas eleições, assistimos ao Movimento 5 Estrelas (M5S), criado por um comediante que se popularizou no twitter,, Beppe Grillo, e à Liga Norte – que quer mudar de nome porque a sua base de apoio se tem alargado – criada pelo colérico, e malogrado, Umberto Bossi, a atingirem mais de 50 por cento dos votos. São assim as vozes populistas, anti-globalização e anti-Bruxelas (a nova “Roma ladrona” da LN) as forças em quem os italianos mais confiam. Morreu ali a moderação e deixo a nota de reflexão, sem comentário, de que o líder do M5S, Luigi di Maio, 31 anos, não tem profissão conhecida e a última foi assistente de recinto desportivo em Nápoles.
O Grupo de Estudos Contra a Corrupção (GRECO), segundo notícia do Público, assinala que das 15 recomendações feitas para que Portugal reduzisse os riscos de corrupção, apenas uma foi considerada. Essas recomendações dizem respeito a deputados, juízes e procuradores, referindo que a situação é «globalmente insatisfatória». Sim, a corrupção existe, em grande e pequena escala, é alvo de títulos de jornais e demandas judiciais, no entanto, o que é claro é que continuam a subsistir as condições para ela grassar pois são poucos os resultados das inquirições efectuadas. É algo que devia preocupar a todos, porém, está a chover e a I Liga portuguesa é que importa com dezenas de programas de debate sem interesse nenhum. Vamos continuando a andar com a pastilha elástica narcotizante que nos absorve do que verdadeiramente interessa.
O autor escreve segundo a antiga ortografia
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