A ascensão da CMTV e a queda dos outros

No panorama actual dos nossos canais televisivos ditos de informação, o único que tem crescido sustentadamente é a CMTV. Podemos gostar ou não, mas é a mais pura das verdades.

Quando o António Costa me convidou para nesta coluna do ECO escrever sobre comunicação e media, tema que, com a excepção do Eduardo Cintra Torres, anda arredado dos próprios media, sabia que ia falar de factos, sem preconceitos, porque são eles que consubstanciam a notícia e a verdade é sempre interessante.

No panorama actual dos nossos canais televisivos ditos de informação, o único que tem crescido sustentadamente é a CMTV. Podemos gostar ou não, mas é a mais pura das verdades. É de condenar? Claro que não. Porque são as pessoas soberanas nas suas escolhas e sintonizam o que lhes apetecer.

A estratégia do Octávio Ribeiro e do Carlos Rodrigues que se baseou no êxito do Correio da Manhã, jornal que vende mais do que toda a concorrência junta, compreendendo melhor a cabeça e os gostos dos portugueses, e a tendência geral da qual já o “Janela Indiscreta”, de Hitchcock, dava conta quando lá se dizia «tornámo-nos numa raça de mirones».

Assim, eu não contesto a aposta da CMTV e o trabalho dos seus jornalistas e colaboradores, o que me assusta é todos os outros canais estarem a seguir a sua filosofia, a copiarem, e a não oferecerem alternativas com outro tipo de informação.

A RTP3, neste momento mas aguardo mudanças, é irrelevante. Quando é do serviço público que todos os portugueses deviam esperar inovação e golpe de asa, assistimos a uma cansativa repetição de formatos e de pessoas. E ali ao lado, na RTP2 temos um canal de vanguarda, de qualidade, aliado das grandes manifestações artísticas e onde tudo o que mexe em termos culturais em Portugal passa, e bem, na RTP2. A 3 tem de ser cada vez mais 2, criativa e inovadora, para ganhar nova dinâmica.

A SIC Notícias está a ir no caminho dos “especiais” como a CMTV lançou e dá as mesmas horas de crime que as outras. A TVI 24 tornou-se um canal maioritariamente desportivo, com inúmeras horas de transmissões de jogos e debates sobre futebol e réplicas da CMTV como o “Mercado” e o “SOS 24”, programa de crime onde até o pivot foram buscar à CMTV.

Quando a agenda mediática de quase todas as televisões se ajoelhou perante o crime, a “caça ao homem” do Pedro Dias que já vai em 15 dias, ou o desaparecimento de uma criança com horas de transmissão, quando vemos a ascensão e alastramento da filosofia tablóide do CMTV sem filtro protector, temo que avancemos para uma sociedade de semi-analfabetos, narcotizada por não-assuntos e onde o valor supremo da informação, a racionalidade do jornalismo, é varrido para debaixo do tapete. E isso, sim, já me preocupa e devia preocupar todos os portugueses.

Nota: Por decisão pessoal, o autor não escreve de acordo com o novo acordo ortográfico.

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