O risco italiano e o euro

A zona Euro não está a aproveitar a oportunidade do crescimento que lhe é dada pela economia. O risco europeu não desapareceu. Está apenas escondido atrás do crescimento económico.

O crescimento económico na Europa distraiu os governos das reformas de que necessitam os seus países e a própria zona Euro. Desde a crise financeira, emergiu um consenso entre os países europeus. As reformas na zona Euro teriam que acompanhar reformas internas nos países da moeda única. O Presidente Macron percebeu muito bem esse contrato não-escrito. As suas propostas para a zona Euro têm acompanhado o início das reformas internas.

Os alemães têm, de resto, sido muito claros sobre a necessidade de reformas internas antes de se caminhar para o aprofundamento da zona Euro. Nos encontros com Macron, Merkel tem dito que a Alemanha não pode aceitar as propostas mais ambiciosas do Presidente francês se a França e a Itália não reformarem as suas economias. Depois do crescimento do partido anti-europeu na Alemanha, a AfD, Merkel sabe que não há condições políticas para os alemães aumentarem as suas contribuições se a segunda e a terceira economias da zona Euro não mudarem. A Alemanha não vai seguramente contribuir para o pagamento das dívidas e dos défices francês e italiano. Se Macron recebeu um mandato para impor reformas no seu país, nada disso aconteceu em Itália.

Pelo contrário, os italianos deram a vitória a dois partidos eurocépticos, senão mesmo anti-Euro, e anti-reformistas, o Movimento 5 Estrelas e a Liga. Em Itália não há um mandato para reformas internas. Sem essas reformas, Berlin não aceitará as propostas mais ambiciosas vindas de Paris. Uma grande coligação à italiana, entre o centro direita de Bersluconi e os Democratas de Renzi poderia alimentar a expectativa de um governo reformista. Mas essa possibilidade deixou de existir depois das eleições, com as derrotas de Bersluconi e de Renzi. Qualquer outra coligação não será seguramente reformista. Há quem alimente a esperança de um governo tecnocrático, mas no actual contexto político, não será fácil construir uma maioria parlamentar a favor de um governo de iniciativa presidencial. Além disso, os italianos ainda se recordam do fracasso do governo de “especialistas” liderado por Monti entre 2011 e 2013. O futuro imediato em Itália será semanas ou mesmo meses de negociações e, possivelmente, eleições antecipadas. Macron sabe bem que as suas ideias para a zona Euro podem ter caído, juntamento com Renzi, nas eleições italianas.

As três maiores economias da zona Euro enfrentam problemas complicados. Na Alemanha, há uma grande coligação fragilizada com os resultados das últimas eleições e a oposição liderada por um partido anti-europeu. Em França, Macron enfrenta uma crescente oposição interna às suas reformas. E a Itália parece ingovernável. Os governos europeus continuarão a adiar as reformas de que necessita a zona Euro e a gozar o crescimento económico enquanto dura. As dificuldades virão quando o ciclo do crescimento económico acabar, sobretudo porque nessa altura o BCE já terá terminando a injeção de liquidez nos mercados financeiros.

Quando isso acontecer, lá para 2020, teremos uma união monetária ainda incompleta, muitos dos países europeus mais endividados do que antes da crise financeira (e muita dessa dívida aos bancos nacionais, como em Portugal e em Itália, o que é espantoso depois da UE ter decidido, em 2010, combater a proximidade entre as dívidas soberanas e os balanços dos bancos), e as economias do sul pouco competitivas no plano global.

A zona Euro não está a aproveitar a oportunidade do crescimento económico. Em grande medida porque a política não tem deixado, como mostraram as eleições na Alemanha e em Itália. Nestes dois países fundadores da União Europeia, as consequências do declínio das duas famílias que fizeram a Europa, os cristãos democratas e os sociais democratas, são absolutamente claras. O risco europeu não desapareceu. Está apenas escondido atrás do crescimento económico.

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